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Penedo

A histórica cidade dos sobrados, Penedo, uma bela senhora de 377 anos de Brasil

A urbe contada aos olhares de seus penedenses e de quem a adotou como cidade natal

Nesta sexta-feira (12), a cidade dos sobrados completa 377 anos de história, alusivas à categoria de Vila. Penedo encanta a todos que por aqui passam. A cidade acolheu de monarca a presidente. Essa bela senhora ainda tem muitas histórias para revelar. Penedo possui um rico acervo arquitetônico, seu casario se destaca por toda a cidade, em cada igreja, uma obra de arte assinada por um mestre da terra. E para falar um pouco dela, buscamos olhares diferenciados, de quem a reconhece e a respeita pela sua magnitude.

E o nosso primeiro entrevistado, foi um barbeiro. Muitos afirmam que eles são psicólogos no seu dia a dia, escutam de tudo e conhecem a todos. Quer descobrir histórias, frequente uma barbearia. Mas, desta vez, os papéis se inverteram, nós que buscamos escutá-lo. Nicerio Vieira da Silva, 35 anos, dos quais, 20 dedicados ao ofício que herdou do pai, por acaso. “Eu tinha 15 anos, quando o meu pai adoeceu, e mandou-me trabalhar no lugar dele, e desde então, estou aqui há 20 anos cortando os cabelos dos penedenses”, recordou.

Seu local de trabalho é em um prédio na Praça Costa e Silva, em plena feira livre de Penedo. Vieira conta que a feira era boa, poderia encontrar tudo de boa qualidade e com bons preços. “Alcancei uma época de fartura, tínhamos tudo que quiséssemos. Frutas e verduras dos mais variados tipos. Hoje tudo é escasso e o que vem para Penedo é de fora”, críticou.

Roberto Miranda - aquiacontece,com.brEle conta que não tem do que reclamar da sua profissão, é dela que tira o sustento de casa, porém, ele sonha que Penedo possa se desenvolver, que os jovens tenham onde trabalhar. “Tenho um filho de 5 anos, penso no seu futuro. Quero que amanhã ele tenha onde trabalhar, um bom emprego, não precise que deixar Penedo. Hoje só temos o comércio e nada mais. A população está crescendo, e o povo sem trabalho. Sonho como desenvolvimento de Penedo, que indústrias possam se instalar na nossa cidade”, contou.

Paixão à primeira vista de um hoje “alabucano”

Edson Lopes, 53 anos, natural de Recife, vendedor de bijuterias e artesanato, foi paixão a primeira vista brincou ele. “Não sou daqui, mas me considero um penedense nato. Tenho 30 anos que moro na cidade, constitui família aqui. Acho que não conseguiria mais me acostumar em cidade grande. Fiz vários amigos em Penedo, meu filho de 5 anos nasceu aqui. Estou muito satisfeito com a cidade. Porém, queria que melhorasse algumas coisas. Uma delas que o turismo fosse mais desenvolvido, mais divulgado em outras cidades. Penedo tem potencial, mas falta um trabalho mais intenso”, avisou.

Lopes já rodou boa parte do Brasil vendendo suas bijuterias e artesanato. A primeira vez que Roberto Miranda - aquiacontece.com.brveio à Penedo, foi em uma festa do Glorioso Bom Jesus dos Navegantes. “Há exatos 30 anos coloquei o pé aqui pela primeira vez, vim vender na festa, fiz muitos amigos e não quis mais ir embora. Já viajei e conheci muitas cidades. Mas, não sei explicar como escolhi Penedo”, brincou o vendedor.

A Justiça também é testemunha

A beleza da arte sacra ribeirinha é incontestável. Várias igrejas de Penedo guardam verdadeiras obras de arte de santeiros penedenses. É a arte de esculpir a madeira, advinda da ‘Escola de Santeiros do Penedo’. Nos templos da cidade é possível encontrar obras dos mestres: Diclécio Phidias, Júlio Phidias, Cesário Procópio dos Mártyres e Antônio Pedro dos Santos.

Em Penedo, ainda existem dois discípulos direto do mestre santeiro Antônio Pedro dos Santos, um é o Claudeonor Teixeira Higino e o outro, Antônio Francisco Santos, 54 anos, conhecido por Timaia. Se depender deles, a arte de esculpir a madeira não vai se acabar. Higino Transmite seus conhecimentos há três anos, ministrando aulas para os jovens penedenses.

Roberto Miranda - aquiacontece.com.brTimaia volta a morar em Penedo depois de 21 anos. Ele passou todo este tempo morando em Maceió, porque quando morou na cidade, o incentivo por parte dos governantes era mínimo. “Gosto muito da minha cidade, foi aqui que aprendi tudo que sei e de graça com o mestre Antônio Pedro. Aprendi com o mestre de graça e vou fazer o mesmo, ensinar aos jovens da nossa terra. Fui embora por falta de incentivo, mas estou de volta e também vou começar a transmitir tudo que sei. Se depender de mim, essa arte não vai morrer comigo. Agora peço que os gestores olhem mais para a classe artística”, afirmou.

Durante a entrevista, o artista nos mostrou o seu último trabalho que durou dois meses. Uma encomenda feita pelo Tribunal de Justiça de Alagoas, através do Juiz Claudemiro Avelino. Timaia esculpiu em tamanho natural a “Deusa da Justiça”, Themis. A imagem vai ficar exposta no hall de entrada do novo Fórum de Penedo. A Justiça também passa a ser testemunha da arte em esculpir a madeira.

Uma velha senhora que claudica

Francisco Alberto Salles, médico e criador da Casa do Penedo. Um apaixonado pela cidade. Ele criou a museu e arquivo para guardar a memória de Penedo. Evidente, que para a sua fundação, Sales recebeu apoio e doações do povo penedense. Ele nos recebeu em sua casa, ao lado da Catedral Diocesano de Penedo para conversar sobre Penedo. Um senhor calmo, sereno que tem deficiência auditiva. Para conversar, é preciso falar olhando para ele e em voz alta.

Salles conta que continua na expectativa para que Penedo retome a sua vocação histórica, deRoberto Miranda - aquiacontece.com.br cidade culta e antiga. “A vocação da cidade é ser líder. Desejo que Penedo caminhe com passos firmes e decididos, em busca do seu futuro que necessariamente passa pelo seu passado. E que possamos dizer como poeta: mergulhado no passado, serei mais antigo e mais moderno”, confessou.

Momento promissor

A cidade de Penedo foi contemplada pelo PAC das Cidades Históricas, apenas dois municípios de Alagoas fazem parte. “Estamos vivendo um momento promissor, principalmente na área que atuo, a de cultura. Os olhares do Governo Federal se voltam para as cidades históricas. Penedo não pode perder esta oportunidade. A presença do IPHAN na cidade é uma garantia de passos mais sólidos e efetivos, em busca do seu patrimônio”, frisou.

Passada as eleições, é chegado o momento de baixar as cores e se unir pela cidade. “Todos os penedenses de cor, credo e partidarismo se unam em defesa dessa velha senhora que claudica, ante o povo de certa indiferença, mas que poderão como a fênix erguesse e alçar voo rumo ao seu destino, onde o turismo ocupa um espaço considerável”, concluiu Francisco Alberto Salles, médico e criador da Casa do Penedo.

Um prefeito a frente do seu tempo

Arquivo - aquiacontece.com.brHélio Nogueira Lopes, 91 anos, iniciou na vida pública em 1956, quando eleito prefeito da cidade. Foi um gestor a frente do seu tempo, sempre buscando contribuir com o desenvolvimento de Penedo. Na sua administração, a cidade foi eletrificada, vindo direto de Paulo Afonso, ganhou 400 linhas telefônicas. Lopes também criou o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE).

Durante a sua então gestão, foi responsável pelas comemorações do centenário da passagem do Imperador D. Pedro II. Nada melhor do que conversar a com alguém que possui conhecimento e trabalho. “Desejo que a nossa cidade retome o desenvolvimento. Penedo já esteve muita adiante dos outros municípios do seu entorno. Que o turismo se consolide definitivamente e consiga contribuir economicamente para o desenvolvimento. Potencial para o crescimento nós temos”, finalizou.

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