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A estigmatização da nossa mão de obra

Rotular como ruim a mão de obra brasileira tornou-se conceito comum para boa parte do empresariado de nossas pequenas empresas e um pouco menor nas médias. Este juízo é mais presente nas empresas que atuam na prestação de serviços e comércio.

Por mais contrário que sejamos a esta opinião, não podemos ficar no radicalismo do “eu estou certo e ele errado” quando se trata de um assunto de suma importância e que merece uma análise mais criteriosa para se conhecer as causas deste posicionamento, parece-me que são várias.

Uma das causas, difícil de contestar, é a péssima qualidade de nossa educação básica e média oferecida pelos poderes públicos, com raríssimas exceções em pouquíssimos estados e municípios, pois as avaliações pretéritas mostram os péssimos resultados obtidos no geral pelos alunos, principalmente nas disciplinas de matemática e português. Como minimizar que estes alunos, quando empregados possam ajudar as empresas a melhorar suas performances, considerando que não têm nenhuma noção de raciocínio lógico e abstrato que se aprende ao resolver os problemas de matemática, nem a compreensão de textos para entender os manuais operacionais que cada vez ficam mais complexos. Mas encontramos empresas que transformam esta deficiência de origem em pessoas produtivas e competentes, qual será a “porção mágica” para tal proeza?

Acreditamos que as pequenas e médias empresas que conseguem extrair as melhores pessoas disponíveis no mercado de trabalho tèm como prática o constante aprimoramento dos três pilares da gestão das pessoas: admissão, remuneração e manutenção de colaboradores. Estes processos são complexos, abrangentes e interligados. E como processos de gestão empresarial não acontecem por acaso nem espontaneamente, mas através de pesquisas, planejamento, observação e muita troca de experiências.

Estes processos são interdependentes, mas não sequenciais. Como a empresas pode ir ao mercado de trabalho sem inicialmente estruturar uma remuneração atraente que possa interessar as pessoas que tiveram melhor desempenho escolar? E a estruturação no processo de manutenção atende aos candidatos escolhidos em suas expectativas de crescimento na empresa e galgar cargos de maior relevância e melhor remuneração? As respostas são muitas e não existe receita pronta para cada empresa, e sim a certeza de que, se a remuneração for somente o salário mínimo, seja lá qual for o desempenho individual, é que esta fórmula não dá certo em nenhum lugar e em nenhuma empresa que deseja ser competitiva e superar seus concorrentes.

O empresário que vai precisar de pessoas para o funcionamento de sua empresa tem que entender como funciona o mercado da oferta de mão-de-obra, que tem variáveis próprias em cada localidade. Tem localidade que tem uma oferta grande de mão-de-obra, mas a maioria com uma formação escolar de baixa qualidade, sem experiência e as que já tiveram emprego foram demitidas por desempenho ruim. É o que encontramos na maioria das localidades que têm atividades empresariais incipientes e os empresários “seguram” os colaboradores que têm um desempenho regular ou bom. E estas localidades dificilmente interessarão  a empresas de outras localidades, de diversos segmentos, a realizar  investimentos nelas. A oferta salarial se apresenta baixa e não há nenhum incentivo para os admitidos.

Nas localidades mais desenvolvidas com boas atividades empresariais a situação do mercado da mão-de-obra comporta-se diferentemente, sendo a oferta menor e mais preparada no que se refere a qualidade do ensino básico e médio, proporcionando que os futuros empregados entendam da importância do conhecimento e da concorrência mais efetiva entre seus pares. A oferta salarial é melhor e incentivos passam a ser importantes para os candidatos no processo de admissão.

Este conhecimento do mercado de trabalho em que atua a empresa é importantíssimo para o empresário que já atua ou que pretende empreender em algum tipo de negócio. Notamos que os empresários conhecidos que vem alcançando sucesso nos seus negócios, além de ter uma boa formação escolar média e superiora, sempre estão se atualizando e possuem uma boa rede networking. Esta condição faz com que entendam que o sistema de manutenção de sua mão-de-obra é importante para suprir as deficiências que encontram nas pessoas que admite, por melhor que seja o seu método de escolha e assim conscientizar as pessoas quanto às metas da sua empresa e à meritocracia dos incentivos proporcionados.

Estes processos referidos no início deste artigo, tornam-se cada vez mais complexo a medida que a empresa vai crescendo, mas é importante que os interessados em empreender em qualquer negócio tenham um conhecimento básico destes processos, seja por meio dos cursos ofertados pelas diversas organizações especializadas, para compreender a importância deles.

Darcy Ribeiro foi muito explícito quando afirmou que “a crise da educação no Brasil não é crise, é um processo” que podemos completar essa afirmação dizendo que a falta do desenvolvimento da mão-de-obra também é um processo, pois perpetua a dependência das pessoas.