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A eleição americana e os desafios para o Brasil

No momento em que esse texto é escrito, ainda não se sabe quem é o vencedor da eleição presidencial americana de 2020. O assunto foi um ponto forte das casas de apostas esportivas internacionais; o resultado de apostar nessa eleição era tão incerto como o de jogar bingo online valendo dinheiro. Entretanto, independente do presidente ser Donald Trump ou Joe Biden, existe um conjunto de desafios que se colocam à política externa americana para os próximos quatro anos. Vejamos os principais, em especial como será o futuro próximo da relação entre os Estados Unidos e o Brasil.

A guerra civil do Ocidente

O professor Samuel P. Huntington (1927-2008) desenvolveu a famosa teoria do “choque de civilizações”, prevendo que no século XXI a maioria dos conflitos aconteceriam entre países de civilizações diferentes. O mundo estaria dividido em 9 grandes regiões civilizacionais e culturais, se opondo em suas fronteiras. Muitos conflitos modernos podem ser explicados por essa teoria; a recente guerra entre a Armênia (cristã) e o Azerbaijão (islâmico) é um exemplo.

Mas o fato é que dentro da civilização ocidental e da latino-americana corre atualmente uma guerra civil cultural, cujo resultado futuro é imprevisível. Progressistas e conservadores assumem, dos Estados Unidos ao Brasil e passando pela Europa, posições mais extremas. A manutenção da aliança tradicional entre os EUA e a Europa dependerá desta evolução, tal como a relação com os parceiros latino-americanos (sendo o México e o Brasil os mais importantes para Washington).

O Desafio asiático

Donald Trump apontou em seu primeiro mandato que a China será o rival do século para os Estados Unidos. A origem chinesa da pandemia só veio reforçar o sentimento de desconfiança em relação ao gigante asiático. É quase certo que uma atitude de resistência e dureza para com a China se irá manter, independente do presidente em curso. Também a Europa, ao nível da União Europeia e dos governos dos principais países, já classificou a China como “rival sistêmico”.

A China é um importante “comprador” das exportações brasileiras e por isso o governo precisa “pegar leve”, para usar uma expressão popular. Mas no que depender do presidente Bolsonaro, certamente existirá coordenação entre o Brasil, os Estados Unidos e a Europa para balançar o crescente poder da China.

Médio Oriente

A história não negará a Trump o sucesso na consolidação de várias alianças no Médio Oriente, com vários aliados dos Estados Unidos a reconhecerem oficialmente Israel. Também essa política dificilmente será invertida num futuro próximo, pois nem Biden nem a Europa têm qualquer interesse na desestabilização da região. O atentado contra o professor Samuel Paty, em França, poderá ter feito surgir uma nova e mais assertiva vontade de resistência contra o islã radical.

Pandemia e coordenação

As estratégias de contenção e controle da pandemia divergem, mas é inegável que será necessária coordenação internacional, em especial para uma rápida recuperação econômica. Essa necessidade pode levar, no Ocidente (incluindo a América Latina), à criação de um grande bloco orientado contra a China. Resta saber se as divisões entre governos mais à esquerda e mais à direita não serão demasiado fortes para isso.