O salão está pronto. Os convidados começam a chegar e os protagonistas da festa estão nos camarins, vestindo suas fantasias para se apresentarem ao público. Aquele que melhor dançar, será eleito e ganhará o troféu mais cobiçado do mundo: o poder!
Cada um vai planejando arrebentar com o outro para ser o melhor aos olhos da turba, que perdida, já não sabe quem escolher, pois não tem opção.
A dança começa. Os músicos tocam seus instrumentos para o seu escolhido. Aliás cada protagonista tem a sua orquestra, cuja missão é impressionar. Uns vêm com a valsa, retrocedendo no tempo, apelando para os sentimentos saudosos de uma geração, que atônita, já não sabe se a orquestra está ou não afinada. Outros vêm com a Música Popular Brasileira, no intuito de arrancar aplausos e admiração. Há os que chegam com tudo na música eletrônica, derrubando quem está na frente, jogando raios de luzes coloridas sobre os olhos de todos, os quais sob o efeito do laser, não enxergam nada, só ouvem o barulho.
A festa continua. Os que terminam suas apresentações retornam ao camarim, cruzando os dedos, desejando a queda do rival. O que eles não se lembram é que existem sapatos anti derrapantes. Quem planeja dificilmente cai . Final da festa. Hora da decisão. Quem será o escolhido? Quem, dentre os dançarinos, melhor se apresentou? Quem dentre todos não derrapou na pista nem ofuscou os olhos do povo enquanto se apresentava?
Enquanto deslizava pelo salão, pensou no conforto da platéia, na segurança, na brisa leve suavizando o calor? Quem? Quem dentre os dançarinos respeitou os limites da multidão e teve o cuidado de não atropelá-la? Pensou em aplacar a sede, saciar a fome, dignificar as pessoas? Que tipo de dança foi apresentada? Se foi uma dança distante, num palco muito acima da platéia, forçando-a a volver o rosto para alcançar o dançarino, com certeza, esse não será premiado. Se foi uma dança, sem ritmo, monótona, sob o olhar de uma platéia inerte, desestimulada, também não terá prêmio. Também uma dança com o muito barulho e sem metas, nada de vitoria.
E o que dizer daquele que é empurrado para o salão, sem ensaio, sem amor à arte, entrando de “gaiato”, pra ver se dar certo? Sei não. Pode até dar certo. O problema é que quando aprende a dançar, perde a inocência da ignorância e se torna pior do que os profissionais. Não daria troféu para ele.
Não é possível que dentre tantos não exista um que absorva os requisitos necessários para executar a mais linda das danças. Aquela que está em sintonia com todas as orquestras, seja qual for o conjunto dos instrumentos. O bom dançarino deve permanecer no centro para melhor visualizar a multidão. Deve interagir com todos, direcionar o olhar para cada rosto que o olha e espera um aceno, uma resposta, um toque musical em forma de esperança! E quando a música parar que ele tenha expressado todo o seu sentimento de ter encantado e realizado a promessa feita antes da subida ao pódio. Se não o fez, que sai cabisbaixo, sem aplausos e sem retorno.