30 Julho 2009 - 12:40

Secretário da Paz pretende mudar combate às drogas

Tércio Capello

Ele é jornalista por formação e seminarista por missão. O titular da recém-criada Secretaria de Estado da Paz (Sepaz) ainda é membro da Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ciência (SBPC) e tem passagem pelo movimento estudantil acadêmico. Jardel Aderico tem 33 anos e, antes de aceitar o convite e assumir a pasta, atuava como diretor de Prevenção e Recuperação de Dependentes Químicos da Secretaria de Estado da Mulher, da Cidadania e dos Direitos Humanos.

Com grande penetração junto às comunidades de recuperação de dependentes químicos e ligado ainda ao movimento católico, o secretário acredita que uma cultura que hasteia a bandeira da paz, principalmente nas comunidades, lista resultados mais positivos do que a repressão dura e firme contra as drogas. Nesta entrevista à Agência Alagoas, Jardel Aderico fala de seus planos e conta como pretende interligar as ações do Estado para minimizar os efeitos corrosivos das drogas na sociedade.

- Em primeiro lugar, qual a sua missão à frente da Secretaria da Paz?
O histórico de Alagoas e do próprio governador Teotonio Vilela Filho, que me fez o convite, é de paz. Entretanto, ultimamente o alto índice de violência tem preocupado bastante o governador e, seguindo suas raízes pacíficas, ele acredita que a violência deve ser combatido em outras frentes, não apenas pela repressão, mas acima de tudo implantando um cultura da paz.

- Como poderíamos levar essa cultura de paz à sociedade, as escolas ajudariam neste sentido?
Não apenas por meio das escolas estaduais, mas municipais e particulares também, atuando em parceria com os municípios. Porque a nossa intenção enquanto governo é incentivar a paz desde a infância, para que as crianças possam ter uma educação voltada para o fortalecimento dessa cultura.

- Como fomentar essa cultura da paz em crianças?
Trabalhando a educação emocional. Educadores que trabalham com recuperação de viciados acreditam que trabalhar com a educação emocional hoje, resulta em colhermos cidadãos pacíficos amanhã. É um trabalho de longo prazo.

- E o que podemos exigir de real e efetivo da Secretaria da Paz?
O nosso papel é de articulação. Vamos juntar ações que estão dispersas e enfraquecidas, para reforçá-las de modo integrado. Por exemplo, o Territórios da Paz, lançando recentemente, e o Mulheres da Paz, ambos do Programa Nacional de Segurança com Cidadania, do governo federal. Ações nos municípios e atividades nas escolas contra o uso de drogas (Proerd). Todas elas estão isoladas e desarticuladas. A Secretaria da Paz vai fortalecê-las. Vamos reforçar o que se passa contra as drogas nas secretarias de Estado da Defesa Social; Saúde; Educação; da Mulher, Cidadania e Direitos Humanos. Em um segundo momento, vamos chamar os movimentos sociais e destacar neles o que existe com essa política da cultura da paz, e inserir nesse contexto para engrossar ainda mais o movimento contra as drogas.

- Existe um critério de formalização dessas ações?
Sim, as ações devem se basear em quatro pilares. A preocupação com a educação é o primeiro e fundamental. Paralelo a isso, a repressão, mas a repressão não apenas reaparelhando a polícia, mas repensando o modo de atacar as drogas. Em terceiro, a mobilização social em torno de um cultura de paz. E a recuperação dos jovens.

- Como o Estado pode combater as drogas sem a repressão que é feita atualmente?
Temos que promover essa cultura da paz. Trabalhar isso nos bairros e localidades onde o índice de criminalidade é maior, à exemplo do Clima Bom, Jacintinho e Vergel. É mobilizar a sociedade, promover atividades que insiram a comunidade como um todo para fomentar a paz dentro da localidade. Quando a comunidade está voltada para a ideia da paz, mexe com o dia-a-dia dela.

- A Secretaria da Paz vai estar mais presente em alguma área específica?
Vamos priorizar as políticas de prevenção às drogas, políticas de tratamento e reinserção social. Por exemplo, no Núcleo Estadual de Assistência Socioeducativa (antigo Complexo Humberto Mendes) temos 98% de jovens mantidos lá devido ao consumo de drogas. Será que eles deveriam estar mesmo lá? E as clínicas terapêuticas poderiam acolher esses meninos? Vamos criar parcerias com a iniciativa privada para estabelecer esse vínculo com centros terapêuticos. Pretendemos oferecer uma novo educação de reinserção social. Vamos criar um novo paradigma de uma cultura de paz, buscando o que já existe, fortalecendo e articulando para ganhar mais peso, consistência e eficiência.

- E as comunidades terapêuticas em Alagoas, vão ganhar de fato um novo parceiro? As famílias alagoanas vão poder ter para onde enviar seus filhos a fim de se recuperarem da dependência química?
Minha vinda para a Secretaria da Paz foi justamente quando o governo de Alagoas está construindo a Política Estadual Sobre Drogas. A Sepaz surgiu devido a preocupação que o governador Teotonio Vilela tem com esse problema. Tanto é que ele criou um órgão, uma Secretaria de Estado, para promover e encurtar esse caminho com as entidades de combate às drogas em Alagoas. A construção de parcerias com as comunidades terapêuticas antigamente demorava anos para se efetivar, agora estamos diminuindo para poucos meses. Por meio de linhas de financiamento, vamos fortalecer a rede de recuperação e pretendemos criar mais 3 mil vagas nas comunidades terapêuticas.

- Como militante no ramo contra as drogas, atuando junto a reinserção social, como você avalia a criação da Sepaz?
É como falei, a preocupação do governador elevou o debate para outro nível. Já realizamos o Fórum de Combate às Drogas, que foi um sucesso em se tratando de parcipação social. A nossa preocupação é plantar uma semente para daqui a alguns anos uma nova visão do papel de cidadão possa ser enxergada. Vamos inserir centros de convivências nas escolas, pôr psicólogos trabalhando com as crianças e jovens. A cultura do medo será trabalhada, o emocional. É um trabalho longo, mas alguém precisa começar. E neste sentido, o governador foi muito feliz, pois ele entendeu que com uma secretaria de Estado, há mais possibilidade de alencar parceiros, e acabar com o empurra empurra de responsabilidades.

 

por Agência Alagoas

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