Valfredo Messias dos Santos

Valfredo Messias dos Santos

Procurador de estado, defensor público e membro da Academia Penedense de Letras

Postado em 13/04/2010 20:33

Filhos: Por que a relação é sempre conflituosa?

Tenho me feito, em muitas ocasiões, uma pergunta que ando em busca de respostas mais convincentes: Por que a relação entre pais e filhos é tão conflituosa? Alguém pode até dizer: Na minha família isso não acontece!. Claro,quando assim indago é com relação à grande maioria,respeitando às exceções, que ressalvo,são muito poucas.Por muito que os pais façam pelos seus filhos ,eles querem cada vez mais .Não há o sentimento de troca,de gratidão,de agradecimento, mas,tão somente de cobranças.

Quantos pais têm amargado nesta vida, uma relação conflituosa, quase odiosa entre seus filhos e filhas? E isso não acontece apenas nos lares de famílias pobres,sem recursos,sem educação. Até parece que nas famílias de classe média e alta, os escândalos envolvendo os membros familiares são mais constantes, talvez pela exposição que os fatos são dados pela mídia. A busca efusiva da liberdade tem sido um dos ingredientes dessa disputa dentro do lar. A tendência dos filhos em se relacionar melhor com seus amigos e amigas, de participar de grupos às vezes organizados para a prática do mal, como assaltos, uso de drogas, orgias, e a de querer morar sozinhos, longe dos olhos vigilantes de seus pais, são apenas alguns desses fatores que contribuem para esse eterno problema de convivência.

Os pais por já terem percorrido um longo caminho na estrada da vida e por terem enfrentado os dissabores dessa caminhada, se preocupam com o futuro de sua prole, e se aventuram a dar conselhos para que não venham ser surpreendidos nas armadilhas dessa mesma estrada. Entretanto, a cada conselho que os pais se aventuram a dar ,novas contradições e insatisfações afloram,dando margem a novos conflitos e às respostas: “a vida é minha e vivo como quero”;”suas idéias são ultrapassadas”;”os tempos são outros”; “ você só quer falar e não quer ouvir “.

Enquanto isso, muitos, que não fazem parte do convívio familiar, procuram ouvir e seguir conselhos, sugestões que lhes são dados e dizem ter encontrado a saída para seus conflitos pela palavra amiga ,pelo simples ouvir. Por que isso acontece? Por que a maioria dos pais não consegue partilhar com seus filhos suas preocupações, seus anseios e um pouco de sua história como uma forma de colocar diante deles um quadro mental de um passado que pode se repetir no presente ou no futuro? Tenho andado em busca dessas respostas, mas, sinceramente, ainda não as tenho como definitivas. Apenas suposições.

O famoso escritor árabe Gibran Kahlil Gibran, em seu livro “ O Profeta” conta que uma mulher que carregava o filho nos braços disse:” Fala-nos dos filhos”. E ele assim falou:

Vossos filhos não são vossos filhos.

São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma.

Vêm através de vós, mas não de vós.

E embora vivam convosco, não vos pertencem.

Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos,

Porque eles têm seus próprios pensamentos.

Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas;

Pois suas almas moram na mansão do amanhã,

Que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho.

Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis fazê-los como vós,

Porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados.

Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas.

O arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com toda a sua força

Para que suas flechas se projetem, rápidas e para longe.

Que vosso encurvamento na mão do arqueiro seja vossa alegria:

Pois assim como ele ama a flecha que voa,

Ama também o arco que permanece estável.
 

Que bela poesia! Por certo nos servirá de consolo. Propõe-nos uma reflexão mais profunda,mais real,mais natural.Mas ainda continuo a indagar : Por que tem que ser assim?


 

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  • emerson rocha Parabéns, esta é a realidade
  • Martha Mártyres Caro Dr. Valfredo, seja bem vindo! Parabéns pelo texto. Tive 4 filhos e ouvi 4 vezes a mesma frase: deixe que eu viva minhas próprias experiências. Então aprendi a responder: Certo, mas lembre-se de que, como eu, um dia você vai se arrepender de muitas coisas que fez, das que deixou de fazer, e, principalmente, de não ter lembrado a tempo que o presente não tem bilhete de volta ao passado e muito menos passagem garantida para o futuro. Já à minha neta, costumo lembrar que Jesus quis dizer que nos amássemos e não que amássemos uns aos outros, pois entendo que amor, mesmo de pai e mãe, não pode ser incondicional, sob pena de não ser amor, mas um sentimento doentio e hipócrita de que não respeita a si mesmo. Estamos orgulhosos de tê-lo conosco!