Públio José

Públio José

Jornalista, publicitário, escritor e atento observador da vida

Postado em 12/09/2010 07:27

A Praga das Coligações

Dentro do balaio de gato em que se transformou o sistema eleitoral brasileiro, um item tem se sobressaído. Muito mais pelo seu lado turvo, enevoado, brumoso, negociateiro, falcatruoso, do que no sentido de agregar, num mesmo bloco, partidos políticos com visões ideológicas semelhantes. Este item a que me refiro é a tal da coligação partidária. Saco para onde escorrega todo tipo de acerto nebuloso, de argumentação cabreira, de ajuntamento de sabidos e sabichões, a coligação partidária é o cadafalso da verdadeira prática política no Brasil e cemitério de toda nova liderança que tenta emergir do cipoal de siglas em que se constituiu o emboloado sistema partidário brasileiro. Muito se tem reclamado do avantajado número de partidos existentes no Brasil. Tais reclamações partindo, inclusive, dos grandes nomes, das grandes lideranças que comandam o processo político nacional.

Em sendo assim, porque essa realidade se mantém? Porque uma tesoura bem afiada ainda não expurgou tais entidades da tessitura partidária brasileira? Ou, por outra, que padrinho tão forte é este que continua a manter os partidos chamados nanicos em atividade quando é voz corrente que todos desejam jogá-los no cesto dos elementos inservíveis? A conclusão a que se chega é que a ninguém, rigorosamente a nenhuma das atuais lideranças nacionais, consideradas fortes, interessa a ausência das pequenas siglas do tabuleiro político brasileiro. Com base nessa constatação, podemos aqui até alinhar um fato irrespondível. Esse amontoado de partidos ainda sobrevive em função do instituto da coligação partidária. Pois somente aí, nesse quesito, é que eles se tornam interessantes e bem-vindos às grandes organizações eleitorais, para montagem dos planos e metas de alcance e manutenção do poder.

Pois se a coligação partidária não tivesse lugar no bojo da legislação que estabelece o formato eleitoral brasileiro, de que viveriam e para que serviriam os partidos nanicos? Pela lógica já teriam desaparecido do horizonte político. Na verdade, o instituto da coligação partidária transformou-se na única razão de existir de tais monstrengos partidários. Fato é que, antes de qualquer eleição, ninguém sabe da existência de muitos dos partidos registrados na justiça eleitoral. Entretanto, quando se aproximam os períodos eleitorais, eles começam a se movimentar, a demonstrar vigor partidário, democrático e patriótico (entre aspas, é claro!), tentando, com isso, se inserir – através de gordas vantagens – no elenco de partidos com estruturas mais consistentes e com chances reais de alcance do poder. Aí as ofertas de cargos, vantagens e dinheiro enchem o noticiário e envergonham a opinião pública.

Fala-se muito no Brasil em reforma política. Entretanto, vão-se os anos e a mesma realidade permanece, permitindo a constituição das alianças mais ilógicas, mais perniciosas, mais descabidas por ocasião dos períodos eleitorais. Tudo em função da coligação partidária. Eu mesmo já tentei por duas vezes me candidatar em Natal e, em todas elas, fui vítima da coligação partidária. Enquanto isso, todos reclamam que não há renovação nos partidos nem surgimento de novas lideranças. Mas como lutar se está vedada a disputa democrática dentro do partido em função da coligação que sufoca a candidatura própria? Os correligionários querem, a opinião pública torce, porém a coligação partidária destrói o surgimento de novos nomes que possam se submeter à análise e à livre escolha do eleitorado. Conclusão: o jogo, como está, é pra cabreiros, pra inescrupulosos, pra vendilhões. Pobre do eleitor. Pobre do Brasil.

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