Artigos

Alexandre Cedrim

Alexandre Cedrim

Administrador de Empresas e Consultor Organizacional

Postado em 17/11/2023 09:04

A lei de cotas para universidades públicas

Em 2012 foi criada a lei de cotas para ingresso nas universidades públicas, através da Lei 12.711/12, ela vincula 50% das vagas a candidatos oriundos de escolas públicas e etnias raciais.

Esta lei, desde sua promulgação é severamente criticada pelas pessoas das classes econômicas A, B e C, pois como seus filhos frequentam escolas privadas de melhores níveis educacionais, que são as mais caras do país e, portanto, proibitivas paras os pais da classe D e E, tinham antes desta lei, ingressos quase garantidos na totalidade das vagas nas universidades públicas, que são gratuitas e apresentam os melhores níveis do ensino superior no país.

Ficou explícita que a intenção do governo de plantão era e continua sendo, independentemente da ideologia governamental, escolher o ensino superior para tentar minimizar o hiato existente entre o direito constitucional de todos à educação e a nossa triste realidade, olhando apenas parte do problema e não o seu todo,

Porém, por mais incrível que pareça e provavelmente através de alteração proposta por um parlamentar iluminado, consta na lei que de 10 em 10 anos ela deverá ser reavaliada. Uma verdadeira luz ao final do túnel objetivando um olhar para a floresta (educação) e não para algumas árvores (universidades).

Acredito que ao introduzir na lei a avaliação dos resultados dos efeitos produzidos é uma forma direta de verificar se o ensino público (fundamental e médio), está saíndo da inércia de quase um século, recomeçando um novo ciclo eficaz para se igualar as melhores instituições de ensino privado. Quando os governos, federal, estaduais e municipais conseguirem equalizar o ensino fundamental e médio público ao privado, o sistema de quotas perde sua finalidade, pois todas as classes sociais, inclusive as etnólogas, concorrerão quase nas mesmas condições de conhecimento. Não devemos esquecer que a equidade total na educação depende, também, de uma melhor saúde e segurança das classes menos favorecidas.

Foi sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 13.11.2023, a lei que atualiza o sistema de contas, prorrogando a política até 2033, quando ocorrerá nova “atualização”, coloco entre aspas por que o termo atualização é bem mais amplo do que consta nesta lei complementar.

Entre as “grandes mudanças” é (1) a inclusão de quilombolas entre os beneficiados na reserva de vagas, que é de 50% de alunos provenientes da escola pública; (2) metade destas vagas (50%) são de candidatos que comprovem renda familiar de até um salário mínimo (R$ 1.320,00), antes era de um salário mínimo e meio; (3) Na lei anterior o cotista concorria apenas às vagas destinadas às cotas, mesmo que tivesse pontuação suficiente na ampla concorrência; na atual serão observadas as notas pela ampla concorrência e posteriormente as reservas de vagas para cotas, em linguagem clara participa de dupla concorrência e tecnicamente as vagas destinadas às cotas passam de 50% das vagas. Esta lei vigorará a partir do próximo ano, quando será, novamente, reavaliada. Reavaliada ou remendada?

Um tema recorrente que não prospera em uma discussão séria e necessária em nosso país, é a cobrança de mensalidade nos cursos de graduação e pós-graduação mas universidades públicas, mensalidades variáveis de acordo com o rendimento anual familiar, sendo o valor máximo equivalente a um percentual da média cobrada pelas universidades privadas que apresentam os mesmos níveis de ensino das públicas, conforme a avaliação de cursos superiores do MEC. Esta alternativa possibilitaria ao governo, sem criar novos encargos fiscais, destinar mais recursos ao ensino fundamental e médio e para as próprias universidades,

A melhoria do nosso ensino público, como um todo, passa necessariamente pela qualidade ofertada a partir do ensino fundamental, em nada adianta ter os melhores cursos de graduação nas universidades públicas se os alunos provenientes de escolas públicas, na sua grande maioria, depende de cotas, independente se estão aptos ou não a compreender os conteúdos ministrados nas diversas graduações. Estes cotistas concluem seus cursos, ou desistem por se sentirem em nível inferior aos seus colegas provenientes de boas escolas privadas? Existe alguma estatística sobre este assunto? Desconheço.

O atual ministro de Educação e Cultura declarou sua intenção de criar um conselho para definir, conjuntamente com governadores e prefeitos, as ações que envolvam os três níveis da educação pública, que são interdependentes, para que todas as escolas tenham o ótimo desempenho das escolas que estão fora da curva do péssimo ensino público brasileiro. Relatórios estatísticos sobre estes desempenhos estão à disposição de todos, mas parece-me que os secretários responsáveis desconhecem, por motivos que bem sabemos.

Cristovam Buarque publicou em 2019 o livro, em pdf gratuito a disposição de quem quiser na internet, Por que Falhamos – o Brasil de 1992 a 2018, com sérias críticas ao período de governos petistas na área de educação. Será que a avestruz continua com a cabeça escondida no buraco, fugindo do problema?
 

Comentários comentar agora ❯

Alexandre Cedrim

Alexandre Cedrim

Administrador de Empresas e Consultor Organizacional

Postado em 08/11/2023 09:18

O sonho começa a se tornar realidade

A construção da Ponte Penedo/Neópolis começou a dar sinais de que finalmente será construída, terminando a espera de décadas da população local. Estes sinais positivos iniciaram-se com a divulgação do edital de construção, que é o marco inicial de qualquer obra financiada com recursos públicos, neste caso federal.

Os efeitos que ela provocará nos municípios de Penedo, Neópolis e Santa do São Francisco (prefiro Carrapicho por ser mais original e romântico) são as mudanças estruturais em segmentos significativos na geoestratégia, principalmente a de Penedo por se tratar do principal município deste triângulo microrregional. Neste espaço procuraremos tratar prioritariamente do segmento econômico, que é o primeiro a ser beneficiado com o empreendimento. Porém estes benefícios para serem bem aproveitados dependem de boas estratégias específicas, pois nada acontece por acaso.

Esta ponte deverá provocar dois efeitos, benéficos à economia local. O primeiro no período de sua construção e o segundo após ser concluída, mas o aproveitamento destes benefícios dependerá como os agentes econômicos agirão estrategicamente para otimizar seus resultados, com ações que devem ser realizadas antes dos eventos, pois em caso contrário perderão, mais uma vez, o trem da história esperado e em vias de se concretizar.

Em recente artigo publicado no correiodopovo-al.com.br,: Penedo no Retrovisor do Tempo: Construção da Ponte Penedo/Neópolis Exigirá a Mudança de Comportamento na Cidade e da População, o Prof. Raul Rodrigues, com muita propriedade, fez uma viagem á década de 70, quando ocorreu um evento similar, a construção da rodovia AL 110, que liga Penedo à rodovia BR 101. Neste artigo o autor mostra o efeito momentâneo e provisório ocorrido na economia da cidade, que infelizmente poderia ser melhor aproveitado, se os agentes econômicos da época se programasse antecipadamente prevendo e aproveitando o que aconteceu.

Os agentes econômicos local têm, naquele artigo o ponto inicial de suas estratégias para a fase da construção da ponte, enfatizo que provisória, porém com seus méritos, desde que as variáveis causadas sejam previstas e aproveitadas. A variável mais relevante é o aporte financeiro orçado para esta fase e quanto circulará no município proporcionando renda e emprego. O poder público também é um agente protagonista, pois a movimentação de mais pessoas afetará os serviços públicos principalmente saúde e segurança. Porém a experiência nos tem mostrado que este poder não costuma agir antecipadamente.

O segundo efeito será o desenvolvimento que a ponte poderá trazer para Penedo, sendo que este planejamento estratégico, de longo prazo, tem a peculiaridade de ser mais complexo do que os usuais, pois envolve os agentes econômicos privados e o poder público, sendo o poder público coordenador natural das ações, pois as infraestruturas necessárias são de sua responsabilidade e assim evitar descompasso entre elas.

Com suas responsabilidades bem definidas nos planos das ações estratégicas, poderemos repetir o sucesso desenvolvimentista que inúmeros municípios brasileiros vêm apresentando após algum acontecimento inesperado, circunstancial, necessário ou planejado importante ocorrido nos seus domínios territoriais.

Conheço pessoalmente três municípios antes e depois de eventos que modificaram exponencialmente suas economias: Gramado antes e depois do festival brasileiro de cinema, Maragogi antes e depois do Hotel Salinas e Nova Trento antes e depois da canonização de Madre Paulina. Estes municípios souberam aproveitar os eventos para criar outros, numa sucessão de novos empreendimentos privados e públicos que estão apresentando ótimos resultados, em um círculo virtuoso de empregos e renda.

Importante é a conscientização dos gestores públicos e privados locais de que este evento inédito provocará um ambiente novo, que demandará novas experiências em seus segmentos e a melhor fórmula de sucesso é conhecer o comportamento de gestores que passaram por algo semelhante e aproveitaram os seus benefícios.

Como o mundo não é movido por respostas e sim por perguntas e para não perder oportunidades, a hora de conhecer a experiência tratada no item anterior é durante a construção da ponte, viajando, dialogando e criando rede de contatos (networking), Nestas horas é que notamos a importância de associações nas discussões sobre o que estar por vir.

Agora a paternidade da ponte será requerida por muitos, mas ela poderá ser a mãe de um futuro promissor.
 

Comentários comentar agora ❯

  • MARCONDES Na verdade que garantirá um desenvolvimento efetivo é Neopolis, ante a miopia empresarial do povo de Penedo.
  • Raul Rodrigues de Lima Gomes Artigo de grande abrangência de um administrador de empresa de formação acadêmica, escritor por vocação, e de notável experiência ao aglutinar em forma de alerta para que Penedo não perca o que já teve em outro momento, fazendo proveito apenas de maneira temporal. A construção da AL 110.
  • Eduardo Regueira Silva Ponto de vistas equilibrado embora estamos vivendo novos tempos mas estou muito confiante no progresso.
Alexandre Cedrim

Alexandre Cedrim

Administrador de Empresas e Consultor Organizacional

Postado em 26/10/2023 10:15

Empreendedor: viva a sua evolução

A expressão “viva a sua evolução” está sendo utilizada em um slogan da Construtora Uchôa, de Maceió, para um novo empreendimento imobiliário na orla de Cruz das Almas/Jacarecica, para quem data venia para utilizar neste espaço e não ser imputado de plágio, porém sem nenhum cunho de merchandising.

Quando vinculo a mesma expressão ao empreendedorismo é pelo seu significado profundo, ilimitado e atemporal que deveria ser um norte permanente para as pessoas que decidem iniciar ou reiniciar o sonho de ser proprietário/empresário de empresas com finalidade lucrativa ou não.

Importantíssimo é a reflexão de quem pretende iniciar a jornada do empreendedorismo, sobre a responsabilidade que terá perante a sociedade quando suas atividades forem colocadas à disposição dela, pois hoje é inaceitável produtos ou serviços que não atendam os requisitos de qualidade e preço justo, sendo o profissionalismo o vetor básico para se alcançar o sucesso na nova atividade, seja como autônomo ou empresário. Entendendo que este vetor é composto de responsabilidade social, disciplina, permanente estado de alerta, desconforto, conhecimentos novos, equilíbrio entre vida profissional e privada, compreensão dos ambientes local, regional e nacional entre outras variáveis. A prática dessas variáveis é simplesmente primordial e indispensável.

Recentemente ocorreu na nossa cidade o Trakto Show Penedo, que entre vários temas o empreendedorismo também foi evidenciado como um deles, sendo realizadas diversas palestras e mesas redondas sobre o assunto, com a participação de empreendedores, locais, regionais e nacional que alcançaram sucesso e hoje são empresários que conduzem, com sucesso, seus empreendimentos consolidados ou em fase de desenvolvimento.

Neste evento os participantes pretendentes a iniciar negócios próprios tiveram a oportunidade de confirmaram, nas diversas palestras, mesas redondas e outros trabalhos realizados, que a trajetória começa com um sonho e o primeiro desafio é o paradoxo pessoal do medo da mudança versus a confiança de ter perfil alinhado a dificuldades diárias, crescentes e permanentes. Os que decidem iniciar a nova jornada têm que possuir um conhecimento de suas qualidades e de suas limitações, pois a direção do sucesso, como já afirmamos, é um permanente estado de estudo, observação, reflexão, responsabilidade, disciplina, rede de contatos profissional e particular entre outras habilidades necessárias para alcançar, manter e progredir com sucesso perene.

Entre as diversas palestras realizadas destacamos as de Fernando Peron e Thomas Gouveia de Assis, que expuseram com uma comunicação simples, objetiva e eficiente, os fatores que os conduziram para alcançar sucesso nos ambientes de seus negócios (hamburgeria e bar), que detêm muitos concorrentes e são muito sensíveis a diversas ameaças externas incontroláveis, sendo a mais recente e extremamente excepcional, anormal e longa a Covid 19, mas que com destacável resiliência conseguiram transpor dando continuidade ao crescente desenvolvimento de suas empresas.

Também participaram socializando suas experiências os empresários locais Alexandre Malta (Biscoito Caseiro D’Lícia), Flávio Cruz (Cerveja e Chopp artesanais), Tatiana Nascimento (Coco Bom) e Jaqueline Alencar (Logil Ótica).

Não podemos deixar de comentar a ausência, neste evento e em outros anteriores, de empresários locais que conseguiram alcançar sucesso nos seus empreendimentos e destaco neste rol José Severino dos Santos Junior (Prestek) e Bruno Maia (Ponto Frio). Para os participantes que compareceram ao evento, com a intenção de empreenderem em atividades empresariais, foi uma ótima oportunidade de conhecer o comportamento profissional de empresários que iniciaram suas empresas a partir dos seus sonhos e apesar das dificuldades iniciais que enfrentaram prosperaram neste ambiente competitivo e hostil tornando-se exemplos para quem também deseja sucesso nos seus empreendimentos.

Saindo deste ambiente aparentemente comum no imaginário de muitos, entramos em uma realidade completamente diferente, onde a maioria dos empreendedores não se tornam empresários e as pesq uisas e o nosso entorno mostram que somente uma minoria torna seus empreendimentos em sucesso e pouquíssimos são aqueles que transcendem suas fronteiras territorial, atuando em mercados circunvizinhos, regionais e raros os que se tornam fornecedores de produtos e serviços no âmbito nacional. É aqui que se diferencia empreendedor do empresário, pois enquanto o primeiro integra um grupo amplo e indefinido, o segundo grupo é integrado por aqueles que são inovadores e prosperam em ambientes adversos em contínuas mudanças.

Tenho muito respeito àqueles que preferem permanecer onde estão e geralmente estão empregados em empresas públicas ou privadas, sendo profissionais muito competentes e talentosos, que provavelmente realizarão belas carreiras nas empresas que trabalham ou em outras, mas este grupo é assunto para outra ocasião.

Por ser relevante, acredito que a causa principal do fracasso de empreendimento é quando ele se torna a única opção das pessoas que perdem seus empregos e ficam sem perspectivas de nova colocação no mercado, passando a realizar os serviços que fazia no emprego ou empregos anteriores como empresa ou profissional autônomo por questão de sobrevivência, passando a atuar no mercado sem nenhuma preparação prévia do que o espera no ambiente de negócios. Quem dera que a Associação dos Jovens (ou não) Empreendedores de Penedo minimize essas ocorrências, qualificando quem deseja realizar seus sonhos empresariais para que vivam e comemorem suas evoluções.

Qual a tendência do futuro de um empreendimento se o empreendedor desconhece a informação mais elementar da continuidade do negócio: o cliente e como retê-lo, transformando-o em um divulgador do seu produto ou serviço? Os que conhecem transformam-se em empresários. exemplos foram mostrados no evento do Takto Show. Destarte os empreendedores que hoje são empresários inovadores que estão permanentemente em estado de alerta.
 

Comentários comentar agora ❯

Alexandre Cedrim

Alexandre Cedrim

Administrador de Empresas e Consultor Organizacional

Postado em 29/06/2023 09:46

Os valores empresariais

Um assunto pouco comentado por empresários e pesquisadores é o que se refere aos valores intrínsecos que as empresas deveriam levar a efeito. O que encontramos, em larga escala, é a importância dada aos valores tangíveis e que são apresentados, por muito empresários de empresas de sucesso, às vezes de maneiras exageradas que chegam a quase denotar um culto ao princípio de que dinheiro só se ganha com dinheiro.

Claro que não se pode cair na ingenuidade de que o capital financeiro não é importante para o sucesso empresarial, mas será que inexistem outros valores intangíveis tão importantes quando o financeiro e que contribuem também para o sucesso das empresas?
 Quando falamos de ética, excelência, responsabilidade, diversidade, equilíbrio, transparência, honestidade referimo-nos a valores intrínsecos e expansíveis que podem se espalhar pelas organizações como podem também escassear, dependendo do comportamento dos seus dirigentes.

Análogo a uma estrutura física, os valores intrínsecos de uma organização são extremamente dependentes dos seus fundamentos e para que estes fundamentos aconteçam é determinante o caráter de seus fundadores e de seus dirigentes ao demonstrarem desde os primórdios da organização a missão que determinará a finalidade da sua existência: a sociedade ou o lucro, pois o segundo tem que ser a consequência da primeira.

Esta determinação é facilmente observada quando observamos, na prática, o comportamento das pessoas que constituem as empresas, independentemente de estarem escritas ou não em quadros exuberantes nas paredes, as missões determinantes de suas existências, pois é a missão que encaminha as organizações ao credo de seus valores. Quando os seus colaboradores demonstram que conhecem, praticam o norte determinante da organização e são acompanhados pelos dirigentes, tendem a agregar estes valores intrínsecos nos seus produtos ou serviços. No caminho inverso é um autêntico laissez faire, que pode ser traduzido como “um verdadeiro oba-oba”, refletindo na baixa qualidade de suas produções, e no desrespeito de seus stockholders, promovendo, consequentemente, a felicidade de seus concorrentes.

Infelizmente muitos empresários desconhecem completamente o conceito de missão organizacional e entre os que conhecem encontramos relutâncias na aplicação dele em seus planejamentos estratégicos. Esta relutância decorre da incredulidade na aplicação de conceitos teóricos e essa incredulidade conduz a não oficializar os valores da empresa para que seja de conhecimento de todos e aplicados em suas operações diárias.

A nossa realidade - principalmente nos municípios de médio porte, os que tem entre 25 mil a 100 mil habitantes é a predominância de empresas de pequeno porte, até 100 empregados, é pontual, pois a grande maioria dos empresários só têm a vivência prática e é exceção os que têm conhecimentos teórico, seja através formação média específica, superior ou cursos livres de qualificação profissional e continuada. Esta situação é um terreno fértil para que empreendedores, como já tratei neste espaço anteriormente, iniciem negócios nos segmentos onde foram empregados com a principal finalidade de suas sobrevivências.

Este ambiente convulsivo, onde os objetivos principais são as receitas, não proporciona a proliferação dos valores intrínsecos, a não ser quando os empreendedores tenham caráter moldado pela família, escola, amizades e instituições religiosas ou não. O resultado notado é a ausência de qualidade nos produtos e principalmente nos serviços, preços determinados pela posição social dos usuários e outras distorções que não são condizentes com a nossa contemporaneidade.

Voltamos ao primeiro parágrafo do presente artigo para reafirmar que o despropósito registrado nos dois itens anteriores não fica restrito aos novos empresários, pois da mesma forma encontramos em empresas de relativo sucesso, apesar de seus dirigentes pregoarem que praticam os valores da boa governança em suas empresas, apresentam que, na prática não é isto que ocorre e sim a negação do discurso. Esta negação é observada inicialmente nos seus colaboradores, pois quem está no ambiente destas empresas percebem durante o expediente que o caráter de seus superiores hierárquicos está distante do que a sociedade esperava sabido que ocorrem desvios, principalmente, na responsabilidade legal, social, ambiental. Embora uma parcela dos colaboradores discordarem destas irregularidades, permanecem nos empregos por ausência de opções no mercado de trabalho. Esta é uma das razões porque não ocorre a lógica da lei de Darwin quanto a extinção seletiva das organizações que não adaptam às exigências do mercado atual.

As organizações podem sintetizar todos os valores implícitos em apenas um: honestidade. Honestidade na responsabilidade fiscal, na transparência, no respeito às pessoas etc, e a consequência da ausência desta prática em busca de ótimos resultados financeiros tem como norte comum a sonegação fiscal do país, pois se nada vier a acontecer, continuará em torno de 9,2% do PIB, ou seja R$ 626,8 bilhões.

Infelizmente o cenário não demonstra expectativas melhor neste ambiente e quando Michael Palanye (1891-1976) afirmou que “a maneira como as batatas se acomodam para encher um sado tem analogias óbvia com a corrida competitiva dos indivíduos”, não está acontecendo nestes valores fundamentais.
 

Comentários comentar agora ❯

Alexandre Cedrim

Alexandre Cedrim

Administrador de Empresas e Consultor Organizacional

Postado em 02/06/2023 16:20

Tom vermelho do verde: uma estória antiga e realidade atual

Comento hoje neste espaço o romance “Tom vermelho do verde”, escrito por Carlos Alberto Libânio Christo, mais conhecido como Frei Betto, publicado pela Rocco em 2022. O autor nos transporta para a década de 60, época da ditadura militar quando o general no posto de presidente era Artur de Costa e Silva, 15.3.1967 a 31.8.1969 (de facto), que é sempre lembrado pelo grande feito de instituir o AI-5. Logo no início o leitor é colocado no ambiente geográfico e temporal onde se desenrola a estória que se mistura com a história, citando alguns autores que já relataram sobre o assunto. Porém o mais impressionante é o de Egydio Schwade que escreveu com rara objetividade que “A história do desaparecimento de mais de dois mil Walmiri-Atroari em menos de cinco anos ainda é um mistério para a sociedade brasileira”, misturando, assim, logo no seu início o seu romance com a veracidade histórica.

 Uma das ideias centrais do romance é a forma desarticulada do governo central da época integrar de a Amazônia, que seria um legado histórico, através da construção das BR 230 (Transamazônica) e 174 (Manaus/Boa Vista), mas que proporcionou o passo inicial à proliferação de invasões nas áreas ocupadas pelos povos originais sem um plano racional e eficiente de transferência das aldeias, resultando em constantes mortes e fugas dos nativos, deixando suas terras para a exploração inescrupulosa dos abundantes recursos naturais da região.

Como no período ditatorial (1964/1985), tratado com o eufemismo de governo militar por seus mandatários, os personagens principais são militares de patentes superiores - de major em diante - que detinham os principais postos de direção na região, como governador, diretorias regionais do DNER e IBAMA e outros, sendo os que mais detém voz ativa e de mando são o comandante militar da região e o coronel designado para superintender a construção das rodovias. O autor utiliza de nomes fictícios é claro, mas como quase sempre, os romances são idealizados com fatos verídicos ocorridos vivenciados, que foram relatados por residentes da época e utilizados pelo autor na sua narrativa.

No transcorrer da obra clareia-se a verdadeira razão dos autores do plano de integração da região amazônica, através da construção de rodovias ao país que foi apresentado ao ministro do exército, mas que era na verdade apenas um pretexto para concretizar as intenções de enriquecimento ilícito de militares corruptos, que eram sócios informais de empresas de extração de minérios, laboratórios farmacêuticos, madeireiras e outras empresas interessadas em explorar comercialmente a região.

O autor desenvolve o romance em partes distintas, a construção da BR 174, os contatos dos indigenistas com os Waimiri-Atroari e os militares ávidos a cumprir as ordens recebidas. Uma analogia aos Sertões quando Euclides da Cunha dividiu a obra em: a terra, o homem e a luta.

Na construção da rodovia os personagens, militares e trabalhadores civis desmatam, indiscriminadamente, a floresta que estava no trajeto do traçado da planta da estrada, mesmo com os seus medos apavorantes da reação dos indígenas, que para defender seu território promoviam ataques que resultavam em mortes dos dois lados e que resultavam na fuga muitos de trabalhadores, pois a iminência de morrer era mais forte que as péssimas condições de acomodações e alimentação a que eram submetidos. Opção esta negada aos militares que tem que cumprir o que lhes é ordenado independentemente de onde e de quando.

A narrativa dos contatos dos “civilizados” com os “selvagens” é onde se desenrola a prioridade do autor, que adentra nos interesses de pastores americanos que se utilizam de informações do Pentágono para conquistarem a confiança dos militares, podendo circularem livremente pelas vilas “doutrinando” e explorando os indígenas em proveito próprio e das empresas patrocinadoras.

Encontramos, no contexto, sertanistas inescrupulosos que se aproveitam de seus conhecimentos de locomoção na selva, seja através dos rios ou pelo interior, para locupletarem seus ímpetos de riqueza fácil e instintos criminosos de mortes e estupros.

Mas, neste vale de promiscuidades, aparecem os verdadeiros profissionais vocacionais de educação, um casal de educadores que abdica do conforto de sua residência para alfabetizar as crianças indígenas e por estes serem alfabetizados no seu idioma; uma médica do Instituto de Biologia do Exército, que permutou seu consultório pelo laboratório de pesquisas da flora amazônica e uma mulher abnegada que trocou a sala de aula pelo radioamadorismo, quando o marido oficial do Exército foi transferido de Natal para Manaus e que integra o grupo que adentra na floresta, com a função de informar o andamento da missão ao comando militar da região. Estas personagens femininas tem lugar de destaque no romance pela coragem e abnegações vocacionais profissionais e humanitárias que, juntamente com outros participantes ao descobrirem os verdadeiros interesses da maioria são cruelmente assassinados por seus colegas de expedição, crimes estes que no relatório final das autoridades foram atribuídos aos indígenas.

Esta narrativa de exemplos de pessoas exemplares assassinadas são esquecidas pelas autoridades que concluem, como em processos anteriores, que todo crime na selva é realizado pelos silvícolas que não querem ser “domesticados”, que nos remete aos problemas recorrentes da região: descumprimento das leis e direitos individuais e coletivos.

Quanto as personalidades militares do romance, que nunca participaram de algum combate com inimigos reais, elegem os nativos para a prática do que lhes foi ensinado na academia militar, esquecendo que também ensinam que o militar também é importante na continuidade da paz e sugerem, desde a primeira reunião secreta, que o desenvolvimento rodoviário da região só será possível se ocorrerem bombardeios com produtos tóxicos nas comunidades dos povos originais, sugestões acatadas e promovem a matança miilhares de Waimiri-Atroari,

Com o romance, acredito que o autor teve a intenção que os leitores reflitam e relacionem o seu conteúdo com o que ocorre atualmente naquela região, assunto continuamente relatado pela imprensa quando denuncia as invasões, o garimpo e o desmatamento criminoso que as autoridades não conseguem debelar e tirem suas próprias conclusões.

Todo romance tem um viés com a realidade.
 

Comentários comentar agora ❯