10 Agosto 2019 - 22:31

Projetos de leitura aguçam interpretação em alunos da rede municipal de ensino

Quantos mundos são possíveis encontrar dentro de um livro? Quantas realidades diferentes são inventadas? Quantos significados são decifrados? A resposta mais simples seria ‘infinitos’, assim como são imensuráveis as possibilidades que podem ser criadas para aquele que, não apenas lê, mas, interpreta e constrói outras perspectivas de vida a partir da leitura. E é justamente para aguçar essa busca por quebra de barreiras que as escolas da rede municipal de ensino de Aracaju têm desenvolvido projetos de leitura, do infantil ao fundamental.

Mais do que simplesmente parte do Planejamento Estratégico da atual gestão da Prefeitura de Aracaju, que tem como um dos objetivos elevar os índices da educação na capital, é um compromisso com o futuro de meninos e meninas que sonham com dias melhores, os quais podem ser conquistados com o conhecimento advindo da leitura.

Abrir um livro é acender o universo da imaginação, da criatividade, do saber, por isso, o gosto pela leitura pode e deve ser inserido no indivíduo desde os primeiros anos de ensino, como tem acontecido na Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) Ana Luiza Mesquita, localizada no bairro José Conrado de Araújo. Por lá, durante todo o ano, os professores e professoras têm desenvolvido o projeto “Contos e Fábulas”, uma construção coletiva que tem despertado a curiosidade pela leitura através do lúdico.

Pela unidade, já passaram Cachinhos de Ouro, Os Três Porquinhos e, por último, Chapeuzinho Vermelho acompanhada do Lobo, da Vovozinha e do Caçador. Todos esses personagens ganharam vida na interpretação dos próprios alunos, com idades entre 2 e 5 anos de idade que, apesar de ainda não saberem ler, já estão começando a adquirir o interesse a partir das histórias que podem reproduzir, mas, não é trabalhada apenas a leitura.

Interdisciplinaridade

“Trabalhamos as disciplinas dentro do projeto, de forma interdisciplinar. Todos os meses, uma ou duas turmas se apresentam, escolhem um tema. Os alunos produzem o material junto com a professora e, durante a semana que antecede a apresentação, eles fazem atividades em folha, atividade prática, produzem um livrinho de história. Cada professora escolhe um tema de acordo com a faixa etária. Com o projeto, percebemos que eles estão mais concentrados, mais empenhados e começaram a assimilar melhor o que tem sido aplicado em sala. É uma brincadeira que ensina muito”, considerou a diretora da Emei, Érica Rejane dos Santos.

De acordo com a coordenadora pedagógica da Emei, Denise Melo, os temas são apresentados a cada começo de ano. “Toda a escola se envolve na atividade. O professor prepara um pré-projeto para que as atividades possam ser inseridas em todas as turmas, de acordo com a idade. Aqui, trabalhamos com os alunos desde bem cedo, mesmo com os menores, de 2 anos, porque nossa intenção e despertar, primeiro, a curiosidade deles para que, mais tarde, quando eles aprenderem a ler, já tenham incutido esse gosto pelo ler”, afirmou.

O tema da professora Débora Lima foi escolhido de forma especial. “Escolhi essa história porque minha filha, de 4 anos, adora a Chapeuzinho e entende muito bem a mensagem, então, se ela entende, meus alunos de 5 também poderiam compreender e foi isso que aconteceu. Trouxe apostilas, fiz brigadeiros com eles para trabalhar a matemática, falamos sobre zona rural e zona urbana, trabalhamos as cores, foi toda uma construção que envolveu outras disciplinas. O gosto pela leitura, pelo conhecimento, deve ser despertado desde cedo. É muito difícil despertar quando estão maiores, então, desde os primeiros anos esse gosto deve ser trabalhado”, disse.

Criar para compreender

No Centro de Aracaju, a Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Dom José Vicente Távora trabalha as diversas disciplinas por meio da leitura, desenho e escrita. Há cerca de um ano, a unidade de ensino estimula os alunos através do projeto “Com HQs é mais fácil aprender a ler e escrever”. É durante o processo de criação que os alunos do 1º ao 5º ano passam a compreender melhor a realidade em que vivem e despertam para realizações futuras.

“Esse projeto surgiu a partir da participação de duas professoras em um curso de formação da própria Prefeitura. Elas quiserem aplicar na escola antes de mostrar durante o curso e deu muito certo. Os alunos sentem mais prazer e muitas crianças não conheciam gibi, infelizmente nem todos tinham acesso. A partir desse projeto, todos que estão nas turmas que participam têm esse contato. A leitura é conhecimento, ela abre portas pra que a gente crie sonhos, para que a gente busque um objetivo na vida, para que a gente vá além e não fique somente nas paredes da escola. É de abrir o mundo”, pontuou a coordenadora da Emef, Michelle Chagas.

No projeto, todo o trabalho é feito em grupo, o que, além de aguçar o prazer pela leitura, também colabora para a socialização dos alunos.

Para a professora do 3º ano, Maria José Henrique, o projeto amplifica o olhar das crianças. “O importante desse projeto é que, inicialmente, a gente pensa que só vai trabalhar a leitura, mas, ele é uma excelente ferramenta também de escrita porque as crianças desenham e também escrevem a história, expressam o que desejam. É interessante que cada criança traz uma forma de trabalhar a sua personalidade e isso, quando aplicado em grupo, é uma riqueza para a formação do ser humano”, completou.

Roger, de 9 anos, por exemplo, era filho único até o mês passado. Como, até então, não precisava dividir a atenção com outra pessoa, o trabalho em grupo na escola o ajudou a aceitar a construção coletiva.

“Eu gosto de tudo o que eu aprendo na escola e é muito legal fazer os quadrinhos com meus amigos. Cada um faz um pouco e a história fica divertida no final”, relatou o aluno.

Para Lohanny, de 10 anos, dividir espaços e pensamentos já era natural. Em casa, ela convive com dois irmãos e afirma adorar o tempo que passa no projeto e com os colegas. “Fizemos a história da Mônica e da Magali e todo mundo fez uma parte. Todos desenharam, um coloriu, o outro escreveu e ficou legal. Até matemática eu já aprendi com os quadrinhos”, contou.

Para ler o mundo

Segundo o diretor de Educação Básica, Manuel Prado, tanto a Coordenação do Ensino Fundamental quanto a do Ensino Infantil compartilham de uma perspectiva da competência de leitura que é a de criar ambientes de aprendizagem nas escolas que possibilite aos estudantes, desde a creche, a ler o mundo, no sentido amplo da expressão, não apenas no processo de alfabetização.

“Nosso diálogo é para que esses processos alimentem a imaginação dessas crianças, que desperte o desejo de viajar na leitura e, obviamente, com foco no processo de alfabetização. Consideramos da maior importância a capacidade do sujeito de dialogar com o texto, decodificar um texto e compreender o seu contexto, perceber o que se passa, quais são os personagens que se atravessam, que dialogam nesse texto, quais as temáticas que são abordadas. A ideia dos projetos de leitura é desenvolver essa capacidade de interpretar”, destacou.

Para ajudar os alunos a fazer a leitura de mundo, o grande papel das escolas é prepará-los para esse nível de leitura, para que eles possam ter a exata noção da informação que se extrai de um texto, por mais breve que ele seja, e também para que ele entenda a produção da informação.

“Os projetos de leitura cumprem dois papeis: desenvolver o gosto pela leitura e qualificar a competência da leitura para que ela não seja meramente mecânica. Quando não qualificamos a competência da leitura, criamos um analfabeto funcional, ele consegue decodificar breves textos, mas não tem capacidade de produzir inferências, interpretações mais substanciais”, reforçou Manuel Prado.

Essa ideia de ler o mundo significa não somente ler o mundo externo, mas, aquele pessoal que cada aluno vivencia em sua história de vida. “O objetivo é fazer também um contraponto diante da realidade que, muitas vezes, se apresenta dura. Não é que a gente queira negar isso, mas, queremos despertar a imaginação, a criatividade possibilitando um espaço em que os alunos, apesar das dificuldades que enfrenta, possam criar, possam se reinventar a partir dessa relação com a leitura. O conhecimento que eles podem adquirir com a leitura é fundamental para que eles construam novas perspectivas”, completou.
 

por Secom - Aracaju

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