30 Junho 2022 - 04:00

Artistas naïfs são os convidados do projeto do MTB, Munguzá Cultural, de junho

Divulgação
Evento promovido pelo MTB terá Tânia de Maya Pedrosa e Lula Nogueira

O Museu Théo Brandão (MTB) vai realizar o Munguzá Cultural com uma “Noite Naif”. O bate-papo terá a presença de Tânia de Maya Pedrosa e Lula Nogueira, além de peças expostas desses artistas. A conversa, mediada pela professora da Universidade Federal de Alagoas, Thaisa Sampaio, será na quinta-feira (30), às 19h30, no Palato Praia.

A chamada arte naïf é uma arte simples, espontânea, sem técnicas acadêmicas e formais. O artista desse estilo é considerado um autodidata. Naïf é uma palavra francesa que significa ingênuo, inocente. Esse modelo, caracterizado pela liberdade artística, foi marcado pela exposição do pintor autodidata Henri Rousseau, em 1886, no Salão dos Independentes de Paris.

Em Alagoas, os artistas Tânia de Maya Pedrosa e Lula Nogueira são destaques dessa arte. O trabalho da dupla representa o estado, alcançando muito além do meio artístico local. Memórias, cores, cenas do cotidiano alagoano e nordestino, visões de mundo apresentadas pelo olhar naïf.

O universo naïf de Tânia reflete o imaginário do Nordeste, conta narrativas sobre as peculiaridades naturais e simbólicas do espaço geográfico. Não por acaso, ela trilhou o caminho da arte. Chegou a fazer a graduação em Direito, mas não se identificou com a prática profissional. Fez os primeiros trabalhos em segredo.

O sigilo de Tânia não durou muito. O futuro reservava grandes conquistas no campo da arte. E essas conquistas aconteceram com muitos prêmios, exposições no país e no exterior, catálogos, entre outros reconhecimentos. “Era meu destino. Já nasci no meio artístico. Minha mãe era professora de música. Quando viajo, vou muito a museus, faço cursos. Não sou uma pessoa parada”, disse.

Em 1998, a artista ganhou o primeiro prêmio denominado Aquisição, o mais importante da Bienal Naïf, sediada em Piracicaba, interior paulista. Na época, ela também foi capa do catálogo oficial da mostra. O momento, decisivo na carreira de Tânia, foi só o começo da trajetória de reconhecimento da artista alagoana, cujo sucesso ultrapassou as fronteiras locais há mais de 20 anos.

Exposições individuais e coletivas percorreram o Brasil e países como França, Inglaterra e Suíça. A obra de Tânia também está registrada em livro e catálogos sobre naïf no Brasil, além de publicação na revista inglesa Raw Vision. São muitos prêmios e homenagens recebidas pela produção artística, como o Prêmio Destaque Bienal Naïfs do Brasil (no Sesc/São Paulo) e a Comenda Nise da Silveira, em Alagoas.

Tânia Pedrosa conta como se dá o processo artístico. “Eu sou autodidata, só havia tido duas aulas. Fiz cursos de arte teórica, mas não de arte na prática. Transfiro para as telas o que está na minha memória. Eu só sei fazer naïf. Quem manda em mim é o meu pensamento, com meus pincéis amorosos e minhas tintas. Se é certo ou errado, sou eu mesma”, afirmou.

Rituais de quietude

O dinamismo cultural na vida de Tânia não se limitou à prática artística. Escreveu em jornais locais sobre a arte naïf, participou de outro bate-papo no Munguzá Cultural do MTB em 2015. Sempre buscando o movimento no cotidiano, a artista, ao pintar, se entrega a rituais de quietude. “Gosto de pintar ouvindo música clássica. Às vezes, rezo quando estou pintando”, confessou.

O outro participante do bate-papo, Lula Nogueira é também um dos grandes representantes da arte naïf no estado. A terra alagoana marca presença em cenas cotidianas, cenários que representam histórias do povo, memórias locais, ruas e personagens, exibidas em cores vibrantes pelo artista.

Foi na infância que ele começou a pintar, retratando as manifestações e figuras populares. A primeira exposição aconteceu aos vinte anos de idade, em Marechal Deodoro. Foi só o começo da história. O trabalho do artista já foi visto nos principais espaços de exposição da capital alagoana. Em 1993, a obra de Lula Nogueira integrou uma mostra coletiva na Fundação Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro.

Nos anos 1980, inaugurou a Galeria Grafite, na Pajuçara. Em cerca de quatro anos, o local recebeu 50 exposições, ajudando a promover jovens artistas. Em 2001, Lula teve uma exposição individual em cartaz no Rio de Janeiro. Em 2004, seu trabalho esteve na Bienal Naïfs do Brasil, em Piracicaba. Dois anos depois, participou da exposição Brasil bom de bola, no Museu Internacional de Arte Naïf (Mian), no Rio de Janeiro.

Lula estudou no ateliê de Pierre Chalita, em Maceió. Em Minas Gerais, fez curso de gravura em metal, momento em que se aproximou da arte mineira. Antes mesmo de ser aluno da professora de pintura para adolescentes, Vânia Lima, de Recife, ele apresentava a tendência para o Naïf. “Já tinha uma semente em mim dentro do Naïf. Eu gostava de pintar temas regionais. Eu me identifiquei com o povo, com a linguagem popular dos cordéis, já tinha influência das viagens que eu fazia”, revelou.

Tânia e Lula começaram a trabalhar juntos no projeto Arte Alagoas. Outros projetos culturais da dupla de artistas se seguiram. Essas duas trajetórias da arte naïf se encontraram e estarão juntas na Noite Naïf, contando histórias, vivências, inspirações, bastidores desse universo artístico livre de padrões formais.

No evento promovido pelo MTB, participam convidados do meio cultural para um bate-papo sobre diversos temas relacionados à arte e à cultura. Neste mês, o Munguzá Cultural acontecerá no Palato Praia, localizado na Avenida Sílvio Carlos Viana, 2185, na Ponta Verde. O evento é aberto ao público.

por Jacqueline Batista – MTB

Comentários comentar agora ❯