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Programa da TV Educativa aborda intolerância religiosa com crenças de matriz africana

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Programa da TV Educativa aborda intolerância religiosa com crenças de matriz africana

A TVE Alagoas está com programa novo. Logo na estreia, o ‘Contemporâneas’ vai discutir a intolerância religiosa. No Brasil, a discriminação por conta da crença atinge, principalmente, as religiões de matriz africana, estigmatizadas como rituais maléficos.

Para entender como ocorre o preconceito e se há forma de combatê-lo, o Pai Célio de Iemanjá, que é babalorixá e defensor da ancestralidade africana, foi o convidado do primeiro episódio.

Sobre o programa

Nos últimos tempos, observa-se um avanço nas discussões sobre temas antes pouco abordados. De modo geral, questões envolvendo minorias e causas sociais ocupam um curto espaço na televisão brasileira e, por consequência, na TV alagoana.

Pensando nisso, a TVE Alagoas criou o ‘Contemporâneas’, programa de entrevistas com uma linguagem despojada e dinâmica. Ele surgiu com o objetivo de dar espaço a esses assuntos, de forma aberta e despretensiosa.

“O programa tira proveito dessa lacuna existente para veicular e debater temas considerados tabu, alternativos ou de interesse apenas de públicos específicos. A ideia é ouvir diferentes vozes que, de um modo geral, não encontram espaço na grande mídia”, esclarece Cintia Ribeiro, gerente de jornalismo do IZP.

Idealizado pela Gerência de Jornalismo, em parceria com o apresentador Luiz Alberto Fonseca, o ‘Contemporâneas’ é um programa semanal. A primeira temporada vai contar com dez episódios, que tratarão de distintos temas como, sexualidade, costumes, tabus, dentre outros. A edição é assinada pelo gerente de TV do IZP, Herivaldo Ataíde. A conversa descontraída, com duração de 15 minutos, é dividida em dois blocos.

A construção do Brasil

Dando início à temporada, Pai Célio fala da intolerância religiosa. “Desde o início da formação dos grupos tradicionais da matriz africana, eles não tinham a possibilidade de estar no meio de uma sociedade nos bairros nobres. Então, formaram a periferia, onde puderam cultuar sua religiosidade”, justifica Pai Célio, sobre os fatores passados que provocam a atual situação.

A história conta que, no tempo colonial, o Brasil vivenciou a escravidão na qual o povo negro foi vítima do tráfico. Mesmo após a abolição, por meio da Lei Áurea, os negros foram marginalizados. Sem moradia, sem apoio do estado, diante de uma condição econômica precária ainda eram vítimas da discriminação racial.

Discriminação na prática

Ao ser questionado sobre como acontece a intolerância religiosa, o babalorixá disse ao jornalista Luiz Alberto Fonseca que a discriminação pode ocorrer também de forma velada. Segundo ele, são notados olhares, gestos, afastamentos, até chegar ao ódio extremo que resulta em agressões físicas.

Para o Pai Célio, a ignorância é a principal causa do preconceito. “Aquilo que não se conhece é um incógnita, e aí as pessoas vão pelo senso comum. Essa ideologia de certa forma negativa, pejorativa, racista, é a ideologia que está impregnada no senso comum sobre as religiões de matriz africana”, explica.

Por consequência da falta de conhecimento, ele afirma que a população hesita em se aproximar das religiões de matriz afro. “As pessoas não querem entender”, lamenta, ao lembrar que os principais ataques vêm de grupos cristãos, que demonizam os rituais.

Como mudar esse cenário?

De acordo com Pai Célio, muito se tem feito para alcançar uma melhoria na imagem dessa religiosidade, por meio do conhecimento. “Existem vários movimentos. Nós trabalhamos com redes municipais, estaduais e nacionais, por meio de seminários, congressos, ações culturais e de saúde”, informa.

Ele ressalta que a cultura do povo negro é bem mais abrangente. “Não é simplesmente uma religião, nós somos uma tradição; temos nossos ritos, nossos mitos, nossas formas, por isso a nova nomenclatura é povo tradicional de matriz africana”.

Fé e tecnologia podem caminhar juntas?

Com uma geração ligada à tecnologia, o uso de smartphones se tornou parte da rotina de qualquer jovem. Mas o babalorixá relata que a nova geração pertencente a essa crença é orientada a tratar os terreiros, local onde os cultos acontecem, com respeito. Para isso, fotos e vídeos que registram o dia são evitados no ambiente sagrado.

Ao final da entrevista para o programa ‘Contemporâneas’, Pai Célio menciona feliz a ascensão das novas crianças e adolescentes adeptos às religiões de matriz africana. “Nossos jovens, que são o futuro do terreiro, estão se empoderando, entendendo e compreendendo a dinâmica do terreiro para levar isso para a sociedade e, a partir daí, levar ao respeito”.

Disque 100: você conhece?

Em casos de violação de direitos humanos, como a intolerância religiosa, o governo oferece o chamado ‘Disque 100’. O serviço, que serve como um meio de denúncia e encaminhamento de conflitos sociais, é uma iniciativa da Secretaria Especial dos Direitos Humanos. A ouvidoria funciona 24 horas por dia, providenciando intervenção.

Segundo os dados mais recentes do site do Ministério de Direitos Humanos (www.mdh.gov.br), de 2015 até junho de 2017 foram registradas 1.486 ocorrências que caracterizam intolerância religiosa. O coordenador-geral do Disque 100, Fabiano de Souza, alega que o número pode ser muito maior. “A subnotificação é alta, considerando o cenário nacional”, diz. “Algumas pessoas não querem se envolver e preferem permanecer no anonimato a denunciar”, completa Fabiano.

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