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Traipu ainda guarda o casarão que hospedou Sua Majestade

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Traipu ainda guarda o casarão que hospedou Sua Majestade

Na noite do dia 16 de outubro de 1859, o Pirajá chegava a mais um ponto de Alagoas. “Ainda nada vi de Traipu senão inúmeros rojões, uma ladeira, em que João de Almeida Pereira (ministro do Império) quase caiu, e a casa da Câmara, onde me hospedaram, e estava quase vazia de tudo”, descreveu o ilustre viajante, Dom Pedro II.

A ladeira ainda existe e não é única. Fizemos o passeio pelo município na companhia do secretário do Meio Ambiente de Traipu, Antônio Jackson Borges Lima. Foi ele que nos levou até Berilo Soares Mota, 84 anos, o proprietário do sobrado onde ficou a majestade.

A fachada ainda guarda a sobriedade de tempos atrás. São mais de dez janelas e portas. O assoalho, conta Seu Berilo, é original. Ele tenta preservar ao máximo as características do prédio. Vive nele com a família — esposa, filhos e netos.

O dono do casarão faz questão de apresentá-lo em detalhes. Mostra as paredes seculares — erguidas numa largura não mais vista hoje, com pedra e caliça. Paciente, Seu Berilo explica: “Caliça, mistura de água, areia, barro e cal, era comum naquela época. A construção não levava cimento. O sobrado foi feito com taipa também”.

De lá, avistamos o rio. É o quintal da família Soares Mota. Jackson Borges conta que conhece o amigo desde menino e lembra dele sempre bem-humorado. Seu Berilo confessa: “Sabe o porquê disso? É o homem saber sofrer…”.

Saímos da bela casa e fomos até a matriz, parada também de Pedro de Alcântara. “A igreja de Traipu é pequena mas decente, construindo-se agora a torre”, anotou. Tem como protetora a Nossa Senhora do Ó.

Ainda no centro da cidade, conhecemos o Museu Ambiental Casa do Velho Chico. Tem peças bem curiosas, do tempo do ronca. O liquidificador é movido à mão. A calculadora mais parece uma máquina de datilografia. Existem ainda instalações que fazem refletir sobre o aquecimento global e o uso consciente da água. Faz bem conhecer o espaço.

Saindo do Museu, fomos até o Rancho Opara, lar do nosso guia. Jackson Borges nos levaria ainda ao Buraco da Maria Pereira, que fica do lado de Sergipe. Atravessamos o São Francisco de barco a motor — muito bom o passeio, mesmo debaixo de chuva.

No Buraco da Maria, o aguaceiro deu uma trégua. Pudemos ver de pertinho o refúgio de Maria Pereira. Ela viveu lá durante anos, com medo dos holandeses. “Trouxe pedras desse vale tiradas de uma cerca de pedras secas dos morros. Vi o lugar onde se diz ter se escondido a Maria Pereira, sendo apenas uma reentrância pouco funda na montanha”, contou o imperador. Ele também passeou pelas terras.

Maria Pereira soube se esconder. O vale ainda hoje tem mata verde e água pura. Do barco, vemos alguns dos moradores. Eles vivem da agricultura de subsistência e da pesca. Quem sabe são parentes distantes dessa mulher, que fugiu, temerosa dos holandeses.

A inspiração que vem do São Francisco

O imperador fez um retrato da paisagem de Traipu. Não esqueceu do rio. Esse mesmo São Francisco encantou também um poeta, o baiano Castro Alves (1847-1871). No rancho de Jackson Borges, descobrimos o livro Cachoeira de Paulo Afonso.

Sobre o Velho Chico, Castro Alves versou:
Rio soberbo! Tuas águas turvas
Por isso descem lentas, peregrinas…
Adormeces ao pé das palmas curvas
Ao músico chorar das casuarinas!
Os poldros soltos — retesando as curvas,
Ao galope agitando as longas crinas,
Rasgam alegres — relinchando aos ventos
De tua vaga os turbilhões barrentos.

E tu desces, ó Nilo brasileiro,
As largas ipueiras alagando,
E das aves o coro alvissareiro
Vai nas balsas teu hino modilhando!
Como pontes aéreas — do coqueiro
Os cipós escarlates se atirando,
De grinaldas em flor tecendo a arcada
São arcos triunfais de tua estrada!…

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