21 Julho 2014 - 14:46

Guardiãs da cura: a sabedoria popular das benzedeiras em AL

Principalmente no interior das cidades nordestinas, a figura folclórica das benzedeiras ou rezadeiras curam, de acordo com a tradição popular, algumas enfermidades da alma e do corpo com rezas mágicas e especiais. Geralmente, essas mulheres utilizam plantas como os ramos de arruda, mastruz, crista de galo, entre outras, dependendo da moléstia sofrida.

Quebranto, ventre caído, fogo selvagem e mau olhado são algumas das “doenças” lendárias mais comuns no universo da cura popular dessas misteriosas senhoras. Quem não se lembra de ter sido levado, quando criança, para se tratar com uma dessas curandeiras? Não importava o motivo, fosse dor de cabeça ou cansaço, muitas crianças eram levadas pelas anciãs da família aos tais rituais milagrosos.

A Agência Alagoas conversou com três mulheres de fé e encantos que, por meio da antiga tradição quilombola, levam cura e paz para milhares de alagoanos. Na série de reportagens Guardiãs da Cura, contaremos a história dessas mulheres que curam pela fé e pelo amor.

A pioneira e mais ilustre herdeira da cultura quilombola

Anézia Maria da Conceição, 112 anos, é a mais antiga benzedeira de Alagoas, considerada patrimônio vivo e uma verdadeira fonte inesgotável de sabedoria primitiva da arte popular. Moradora célebre da cidade de Santa Luzia do Norte, área metropolitana de Maceió, é bastante querida pela população.
Dizer que já rezou por quase todos os moradores não é exagero, pois até hoje, mesmo com a fragilidade decorrente da idade avançada e a voz arrastada, ainda realiza proezas com quem a procura. Além de ser rezadeira, desde os 12 anos de idade costumava realizar partos na região.

“Praticamente todas as mulheres das cidades vizinhas vinham aqui para casa para minha mãe [Anézia] fazer os partos. Naquela época, não tinha médico por aqui, e era ela quem trazia as crianças para o mundo”, diz Nêga, a primogênita entre as cinco filhas da benzedeira.

Tantas décadas fazendo orações e partos lhe renderam o carinho da população e uma bela homenagem. Em breve, Anézia ganhará uma estátua de destaque na Praça da Liberdade, a principal da cidade.

Católica fervorosa, aprendeu a rezar ainda criança e o dom da cura não tardou em chegar. Ela afirma que aos 10 anos já ouvia uma voz divina que a orientava a ajudar as pessoas: “Conseguia ver o que estava de errado no corpo e na alma das pessoas e Deus me usava como instrumento para socorrê-las. A cura dependia da fé de cada um, esse era o segredo”.

Devota de padre Cícero, Anézia conta que em uma de suas romarias à Juazeiro do Norte presenciou o religioso profetizar sobre a futura perda da visão da rezadeira. O prenúncio se cumpriu quando, aos 80 anos, ela realizou o último parto. Mesmo com a cegueira, continuou usando os outros talentos para trazer bem-estar às pessoas até hoje.

Dona Anézia teve cinco filhos, 40 netos, 20 bisnetos e dez tataranetos. Dos descendentes, nenhum herdou o seu dom.
 

por Agência Alagoas

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