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Agosto Lilás: Mulheres relatam viver medo e insegurança em espaços públicos

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Agosto Lilás: Mulheres relatam viver medo e insegurança em espaços públicos

Via pública pouco movimentada, praça mal iluminada, ponto de ônibus sem estrutura, parque com o mato alto. Cenários inseguros para qualquer pessoa. Mas são as mulheres as mais vulneráveis e as que se sentem mais inseguras. O medo de roubo, assédio ou outros tipos de violência pode ser comprovado numa simples conversa informal, mas pesquisadoras da Ufal quiseram documentar isso para ajudar na luta por políticas públicas que atendam às necessidades das mulheres.

“Os espaços públicos das cidades, ao longo dos anos, têm sido pensados e vividos mais intensamente por homens, as mulheres se sentem inseguras, pois temem diversas violências – assédios verbais, perseguição, roubo, estupro. Isso dificulta que elas circulem e permaneçam livremente pelas ruas, parques e praças. É urgente elaborar propostas que melhorem a experiência da mulher na cidade”, destacou a professora Alice Barros, do curso de Arquitetura e Urbanismo da Ufal em Arapiraca.

Alice coordena o projeto de extensão Lugar Delas que surgiu como uma inquietação de como as mulheres não conseguem vivenciar a cidade da mesma maneira que os homens. O objetivo é propor um projeto urbano em uma área de Arapiraca para se tornar mais segura e confortável para as mulheres.

A professora explica que seis alunas e um aluno estão envolvidos no projeto que está realizando estudos teóricos, consulta à população feminina e investigação da área selecionada. A equipe deu espaço para as mulheres contarem sobre suas experiências nos espaços públicos, como ruas, praças, parques e paradas de ônibus. Muitas das respostas se repetem entre as entrevistadas. São comuns, não normais.

“O maior medo das mulheres é caminhar a pé sozinhas. Absolutamente todas relataram histórias de assédio verbal que as incomodaram, algumas citaram perseguições, outras viram homens expondo o órgão genital e, por isso, sentem-se inseguras quando estão sozinhas. Algumas mulheres destacaram a preocupação com a roupa que irão sair de casa, escolhem ruas mais movimentadas, quando à noite elas selecionam ruas mais iluminadas e não sentam em bancos de praças”, disse Alice, citando algumas das centenas de respostas enviadas por meio de questionário on-line em fevereiro deste ano. Século 21!

Projeto pretende mudar praça em Arapiraca

Durante a consulta à população feminina, o grupo selecionou uma pergunta buscando identificar o local com mais problemas para a vivência das mulheres. O nome mais citado foi o Parque Ceci Cunha, no Centro de Arapiraca.

Para sentir um pouco da experiência, uma equipe composta por duas arquitetas e cinco alunas realizou uma marcha exploratória e descreveu que o trecho próximo ao Ginásio João Paulo II é o mais vazio. Segundo elas, não se vê mulheres com frequência, tem apenas três bancos, dois deles quebrados, não possui vigilância, uma grande parte não conta com sombra de árvores, não há pontos comerciais, o banheiro existente fica sempre fechado, postes sem lâmpada e muitos carros estacionados.

“A sensação é que se acontecesse algo de ruim não haveria socorro. O piso do passeio é irregular e pode causar acidentes durante a caminhada. Pessoas idosas, gestantes e com deficiência física possuem muitas limitações. Não há quiosques para venda de alimento e água, isso dificulta permanecer [ali]. A área onde ficam os três bancos possui muita vegetação sem cuidados de poda o que dificulta ver quem se aproxima, a sensação foi de medo e de sair rápido desse trecho”, lembrou a docente, que estava em grupo, mas pôde imaginar o quão vulneráveis ficam as mulheres que se arriscam a passar por ali sozinhas.

É com a mesma capacidade de imaginar os perigos iminentes que elas conseguem idealizar um lugar diferente. A próxima etapa do trabalho é propor a criação de pontos transformadores da área, com brinquedos para crianças, ponto para contemplação da paisagem com bancos confortáveis, local para refeição com quiosques para venda de alimentos e mesas, espaço para apresentação cultural, e ponto de permanência para vigilante.

Alice Barros reforça a necessidade de parceria entre os profissionais do poder público com associações da sociedade civil e iniciativa privada para executar projetos de espaços sensíveis aos diversos grupos que compõem a população: “Serão espaços potencialmente mais igualitários, pois reconhece a diversidade dos grupos, escuta eles e considera suas opiniões para tornar o espaço mais acolhedor para suas necessidades”.

O problema não tem fronteiras

O olhar do projeto Lugar Delas restringe um único espaço, mas não pouco, porque pode representar o início de uma grande transformação se vários olhares estiverem atentos. É o que muitas vezes falta quando se pensa em ações de combate à violência contra a mulher.

Quem se junta à essa luta é o projeto de pesquisa da Ufal Pretas: observatório da violência contra mulheres no semiárido alagoano, coordenado pela professora Marli Araújo, que propõe democratizar o acesso à assistência das vítimas que não estão no eixo urbano mais privilegiado.

“Sempre que a gente fala de violência contra as mulheres aqui em Alagoas, a gente fala muito da capital e esquece que Alagoas é mais que a capital e a região metropolitana. Os serviços de assistência se concentram muito em Maceió. Hoje, no Agreste, a gente só tem uma Delegacia da Mulher e um suporte em Delmiro Gouveia. Agora que os Centros de Atendimentos à Mulher em Situação de Violência [Ceams] estão se expandindo”, ressaltou Marli.

O trabalho do grupo será implantado neste segundo semestre, com o retorno das atividades acadêmicas na Ufal, quando haverá edital de seleção para participação dos estudantes. “A proposta é monitorar os serviços pensando em quais mulheres são atendidas e como está o atendimento.

Marli reforça a importância de espaços seguros, mas do acolhimento necessário quando elas precisarem recorrer à assistência: “É extremamente importante pensar na diversidade de territórios e onde essas mulheres estão” .

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