Artigos

Públio José

Públio José

Jornalista, publicitário, escritor e atento observador da vida

Postado em 13/03/2010 10:57

Joga no rio!

Há tempos atrás, uma revista semanal registrou, numa matéria sobre a tendência do ser humano de causar poluição por onde anda, a naturalidade com que, em épocas imemoriais, as populações ribeirinhas descartavam lixo e produtos inservíveis pelo rio. Parece até que havia um ensinamento universal apontando para a única solução possível àquelas alturas: “joga no rio!”. Este era o brado que se fazia ouvir pelo mundo afora. Não passava pela cabeça de nenhum agrupamento humano de então que a manipulação do lixo fosse de sua responsabilidade.

Desde cedo, portanto, o ser humano acostumou-se a passar para frente, a empurrar na direção dos outros, a solução de problemas criados pela sua rotina diária. Pouco importava se, jogando dejetos no rio aqui, problemas seriam criados para outras populações acolá. O negócio era limpar a sua área mesmo que sujando a dos outros.

A realidade é que o homem desenvolveu-se através dos tempos em todas as áreas que se possa imaginar. Só não aprendeu o que fazer com o lixo. Ao que parece, a manipulação do lixo caiu naquela área da mente humana na qual a saída é fugir da responsabilidade e passar o pepino para os outros. Nada de encarar a questão de frente, de buscar solução para os problemas criados em comunidade. Por conta disso, o que se vê hoje, com raras exceções, é a quase totalidade dos rios morrendo, desfilando seus últimos instantes de vitalidade diante de uma sociedade que soube chegar à Lua, soube se globalizar, alcançar níveis nunca imaginados de desenvolvimento tecnológico, mas não sabe, lamentavelmente, se organizar em comunidade de maneira a não prejudicar a seara alheia. Tanto é que permanece, até hoje, o hábito de se desfazer de lixo e dejetos através da inércia e da passividade dos rios.

No tocante ao homem de hoje, esse hábito desgraçado de não assumir responsabilidades, de não enfrentar suas próprias demandas, não se restringe apenas a degradar rios e nascentes de água. Impera em todas as atividades onde o homem põe a mão. Na política, por exemplo, este homem aparece por inteiro, pelas mazelas causadas à população, pela má administração do dinheiro público, pelas obras superfaturadas, pela corrução, pela roubalheira generalizada. E ele nem, nem. O país afogado num lodaçal sem fim e os acusados se dizendo inocentes – e empurrando o problema para o mais próximo. Ninguém tem a hombridade de dizer “este problema foi eu que criei e vou arcar com as suas conseqüências”. Não. Não aparece ninguém com esse topete. Aparece gente de montão para enganar, para se esquivar, para encontrar saídas e esgrimir evasivas na hora de apurar as responsabilidades e apontar culpados.

Do mesmo modo que o homem de antigamente aprendeu a fazer do rio o desaguadouro natural de seus lixos e dejetos, o de hoje tornou-se mestre em transformar pessoas frágeis em verdadeiros rios, para onde são lançados seus mais abjetos projetos de interesse pessoal e carreados os dejetos mais desprezíveis do que é produzido em suas mentes. Aos mais fracos, enfim, são destinados, por essa gente sem escrúpulo, os sonhos mais egoístas e os feitos mais degradantes. Pois ao meter a mão no dinheiro público, prejudicando populações indefesas, se eximindo, além do mais, de encarar com seriedade o seu trabalho, o que estão fazendo os agentes públicos que agem assim, senão transformando em verdadeiros rios a massa humana que não pode se defender, que não pode protestar? “Joga no rio!”, parecem dizer, eternizando a irresponsável máxima de outrora. “Joga no riiiiiiiiiooooooooo!!!!” Beleza, né não?

Comentários comentar agora ❯

  • sgt sabino Belo artigo. Um problema cultural que se arrasta através da inércia e da passividade do nosso sistema educacional. Um problema de Estado onde a maioria dos nossos governantes não estam dispostos a enfrentar! Afinal, eles só pensam como políticos e não como estadistas.
  • Ederson Leite "Homo omni lupus." "O homem é o lobo do homem." O ser humano é, em sua essência, ruim e destruidor. Todos sabem das consequências da poluição, mas nada fazem. Isso parte desde atitudes simples, como jogar a embalagem da bala pela janela do carro, até as mais drásticas. O povo é mal educado sim! Façamos um exame de consciência e vamos lembrar, com certeza, daquela lata de refrigerante na rua, a sacola que rasgou e foi ao chão, o jornal que depois de lido foi descartado, etc. Moro na Santa Cruz. Quase todo dia tem coleta de lixo, seja na Fernando Peixoto ou na Duque de Caxias, mas o povo insiste em acumular lixo na esquina (num terreno da União, cercado pela Marinha)!
  • Rosiene Somos na maioria populacional do planeta herdeiros de uma cultura centralizada apenas nas pessoas que detem o "poder" politico e econômico sem tomar a consciência de que somos nós que passamos esse poder, que esta nas nossas mãos por direito e por dever. É necesserio repensar nosso modelo social que aliênia, que favorece alguns, onde esses mesmos tratam a maioria populacional como sendo algo manipulavel e sem maior importancia para a construção da sociedade, talvez a culpa seja um pouco nossa, por estarmos acostumados a passar para o outro uma responsabilidade que é so nossa.
Isabel Cristina Medeiros de Barros

Isabel Cristina Medeiros de Barros

Clínica Geral com Pós-Graduação em Medicina do Trabalho

Postado em 06/03/2010 00:39

Mulheres & AIDS- porque o gênero feminino?

Nos anos 80, quando o mundo conheceu a AIDS, tinha-se a idéia de uma infecção que só acometia homossexuais, usuários de drogas e prostitutas. Entretanto, hoje a realidade é outra. Observa-se no Brasil e no mundo uma feminilização da infecção pelo vírus HIV, devido a uma trágica combinação de fatores biológicos, econômicos e sociais, cada vez mais as mulheres estão sendo expostas a essa doença, muitas vezes pelos seus próprios maridos. No Brasil, a AIDS é a quarta causa de óbito em mulheres de 10 a 49 anos e a primeira causa como doença infecciosa no mesmo grupo.

Quais são os principais motivos da vulnerabilidade feminina para o HIV-AIDS de acordo com médicos, psicólogos e grupos de apoio a infectados?

• A iniciação sexual feminina precoce no Brasil, que acontece por vários motivos: espontaneamente, pressão social e até por pura violência física.

• A mulher tem dez vezes mais chance de contrair o vírus de um homem infectado do que um homem, de ficar doente, relacionando-se com uma mulher soropositiva.

• O esperma contaminado tem uma concentração de vírus várias vezes maior do que a encontrada na secreção vaginal de uma mulher soropositiva. Além disso, o tempo de permanência do pênis em contato com a secreção vaginal é muito menor do que a da mulher em contato com o esperma.

• Em geral, os homens comandam a relação sexual, usando camisinha quando lhes interessa. Nos depoimentos aos grupos de apoio a portadores do HIV são comuns as histórias de maridos que tomavam como ofensa a sugestão de usar preservativo. É como se a mulher o estivesse acusando de ser infiel.

• Embora não existam estatísticas a respeito, a experiência dos médicos mostra que é grande o número de homens casados, aparentemente insuspeitos, que gostam de uma aventura homossexual de vez em quando. "Eu afirmaria que a maioria dos homens que infectaram suas mulheres foi contaminado numa relação homossexual", declara o infectologista David Uip, de São Paulo.

• Muitos casais param de usar preservativos no momento em que consideram que o relacionamento se tornou sério ou quando passam a morar juntos. "Para eles, o preservativo é como se fosse uma formalidade", explica Dráuzio Varella. "É usado na época em que os parceiros se estão conhecendo, mas depois é abandonado.

• Apesar de a maioria das mulheres brasileiras acima dos 50 anos ter uma vida sexual ativa (Uma pesquisa de comportamento do ministério da saúde revelou que 55,3% da população feminina de 50 a 64 anos é sexualmente ativa), 72% delas não usam preservativo nem durante as relações eventuais. Uma das consequências é que a incidência de casos de AIDS nesta faixa etária triplicou entre 1996 e 2006.


Em sessão especial sobre HIV-AIDS das nações unidas, realizada em N. York em junho de 2006, foi reconhecido que a epidemia de AIDS no mundo hoje tem um perfil heterossexual e sua incidência é muito mais acelerada entre as mulheres, por isso este fenômeno ganhou o nome de feminilização da AIDS, e a ONU aponta a desigualdade de gênero e todas as formas de violência contra as mulheres como fatores determinantes para o crescimento da AIDS entre as mulheres.

Quem são as mulheres que pegam AIDS?

• 76% são mães

• 71% são contaminadas por maridos ou namorados fixos

• 59% descobrem que estão com o vírus depois que o marido adoece

• 51% têm até o 1º grau completo

• 41% têm entre 25 e 35 anos e 40% trabalham

O que fazer para prevenir o avanço do HIV entre as mulheres?

A prevenção eficaz só é conseguida através de acesso a informações, arma única para evitar que mais e mais casos se somem às tristes estatísticas brasileiras e mundiais.

Campanhas e programas voltados para saúde da mulher devem conscientizar a sociedade como um todo e não apenas o gênero feminino.

“Sem que haja uma transformação das relações desiguais de poder de gênero que existem em toda sociedade, as mulheres do mundo inteiro continuarão a ser alvos preferenciais da própria segurança. Sem corrigirmos a injustiça sócio-econômica que existe tanto dentro das nações quanto entre o mundo desenvolvido e em desenvolvimento, os pobres (tanto do norte como do sul) continuarão a sofrer o maior impacto de uma epidemia que já se tornou íntima da pobreza e da miséria”. (Parker, 2000)
 

Comentários comentar agora ❯

  • Ninguém comenta Porque ninguém comenta um artigo como este, tão bem feito, rico em detalhes e informações uteis não somente a classe feminina mais a toda sociedade no geral. Será que Penedo também fica encabulada em descutir isto, certamente será julgar o caso depois de feito.
João Pereira

João Pereira

Advogado, escritor e atento observador da política

Postado em 25/02/2010 23:52

Presenciamos um Corrupto a Falar Mal de Ladrões: Explica-se?

Sem esperarmos, fomos ouvintes de tamanho disparate. Imaginem o acanhamento ao ouvi-lo cheio de indignação a espinafrar o desonesto. Frio e desavergonhado, envergonhados ficamos nós, rostos ruborizados, não sabíamos como disfarçar o mal-estar.

Era natural que logo após esse desconfortável incidente, a nossa imaginação começasse a especular para tentar encontrar uma explicação para tamanho cinismo. Após algumas divagações, chegamos a conclusão que o político corrupto imagina que ladrão é apenas aquele que de má-fé se apropria de algo que não lhe pertence. Não o é o que subtrai o dinheiro público.

Dizia Aristóteles que nada inspira menos interesse do que um objeto cuja posse é comum a um grande número de pessoas. Concordamos plenamente com essa opinião. O dinheiro público, pertencendo a todos nós, não passa de um direito difuso. A própria significação de dinheiro do povo, tem um sentido um tanto vago, sem uma realidade concreta por não atender diretamente o interesse de cada um. Como povo não passa de um amontoado de cabeças ocas, sem o espírito do coletivo, o seu dinheiro, sem a devida vigilância, desperta, fazendo exceção à regra do pensamento acima de Aristóteles, o apetite voraz do político corrupto. Como não se trata de um furto, segundo deve imaginar, a sua apropriação não passa de um adiantamento da sua legítima parte, direito restrito ao administrador gatuno.

Queremos acreditar que a opinião acima tem algum fundo de verdade. Se não pensassem assim, como devemos explicar a naturalidade desses ratos que desfilam pelas ruas de cabeças erguidas, como os mais honestos dos homens? Será que muitos políticos, após eleitos, são aliciados por uma seita secreta que os obrigam a fazer uma sessão de nudismo moral, uma conspiração contra a honestidade para se aliarem, induzidos por uma força diabólica, zelosos amigos do vício lucrativo? Haja conjeturas absurdas e obscuras para entendê-los!

Não bastasse a rapinagem, esses personagens da lama nos irritam por pensarem que são os bambas da esperteza e todos nós, pobres coitados, ignoramos todas as suas falcatruas. Carregando dentro de si o complexo de superioridade, não passam, à luz dos fatos que se desenrolam quase todos os dias, de verdadeiros canastrões do crime. São pobres conservadores, sem nenhuma inovação na arte de surrupiar o dinheiro público. Os métodos são os mesmos, qualificando-os, senão de burros, no mínimo negligentes. Para não continuarem a aporrinhar a nossa paciência com a mesmice das cenas exibidas pela televisão, por que não criam a LADROBRÁS, escola de aperfeiçoamento para os ladrões da administração pública? Ela irá ensiná-los, na hora de aplicar o golpe, a domar, através da ioga, a impaciente ganância que cega e faz descuidar-se da defesa. Aconselhará a não armar estratégia de assalto por telefone.

O grampo está muito manjado. A não depositarem em sua conta corrente o dinheiro do crime.

Há a quebra de sigilo bancário. Por que não um colchão de dinheiro? Poderão, carinhosamente, afagá-lo como fazem os avarentos. A não tramarem o golpe nas proximidades de terceiros. Existem os que fazem a leitura labial. A serem ariscos como o soldado espartano que, não recebendo o soldo para garantir-lhe a sobrevivência, era permitido que furtasse, contanto que não fosse pego em flagrante. A serem inteligentes, perspicazes, um autêntico ladrão para não protagonizar cenas cômicas de por dinheiro na cueca e nas meias. Se esse hábito se generalizar, nossa bandeira poderá perder o lema Ordem e Progresso e passará a ter o bolso e a cueca como símbolo da nossa moralidade. Não duvidem.

A pior condição do ser humano é sentir-se sozinho em situação adversa de infelicidade, de sofrimento, de dor de consciência e miséria. Outros devem fazer-lhe companhia para aliviar o fardo. Os nossos corruptos, que parecem achar que ladrão é apenas o que atua fora da área política, não têm drama de consciência vez que muitos colegas estão no mesmo barco, fato que lhes oferece o mais confortável alívio de consciência.

Na linha do pitoresco, supomos que esse componente psicológico seja mais uma razão para explicar o cinismo do corrupto para falar mal do ladrão comum. São tantos a formarem essa confraria de gatunos que chegam a sentir a sensação de inocência e de se acharem capazes de transformar o crime em virtude.

Comentários comentar agora ❯

  • Fabiana Mais uma vez o senhor se superou. Parabéns pela excelente matéria!
  • Antonio Lins O que o senhor quiz dizer mesmo joão pereira?
  • MARCELO E ESSA BANDEIRA COM O LEMA BOLSO E CUECA DEVE ENCHER OS OLHOS DO POVO, VISTO QUE É BOA DE VOTO.
  • Melissa Borges Valeu João Pereira. Pura realidade!!!
  • carlos Certamente isso não foi aqui em Penedo! Não temos políticos desse náipe. Graças a Deus.
  • marcelo Realmente Carlos, aqui em penedo não existe !!!!! KKKKKKKKKKK !!!
Públio José

Públio José

Jornalista, publicitário, escritor e atento observador da vida

Postado em 19/02/2010 14:17

A Salvação na ótica de Deus

Por mais simples e singelo que o significado do termo “salvação” represente para nós, dificilmente o ser humano comum, e o convertido a Jesus Cristo em particular, alcançarão a real dimensão do que Deus quer para nós ao nos brindar com a sua salvação. Comecemos pelo que a palavra representou para povos antigos. O termo vem do latim “salvare” e “salus”, que significam, respectivamente, “salvação” e “saúde”. Ou seja, um estágio, digamos assim, que contempla o homem com o bem-estar espiritual e o conforto físico. Já no hebraico a raiz da palavra salvação tem uma conotação mais profunda indicando também “segurança”, proposta segura e concreta de salvação. Todos estes significados, entretanto, estão longe de alcançar a dimensão plena que o termo, do ponto de vista de Deus, traduz.

Já no grego o significado de salvação, no original “soteria”, nos abre um pouco mais o leque sobre o que a palavra representa: cura, recuperação, redenção, remédio e resgate. Apesar de todos estes significados, o que significa realmente a salvação de que tanto nos fala a Bíblia? O que representa a salvação no nosso dia-a-dia? Quem será salvo? E a justificação existe de fato ou Jesus foi crucificado em vão? Para os povos do Antigo Testamento – apesar das citações até profundas consignadas em Is. 45.17; Dn. 7.13 e Is. 53 – a salvação estava bastante ligada à discussão sobre “livramento de alguma coisa” e “livramento para alguma coisa”. O homem, nesse sentido, estava salvo para se livrar de algum mal, de si mesmo e do pecado. Para que? Com que objetivo? Os rabinos acreditavam na alma, no pós-vida e nos lugares celestiais.

Para onde certamente seriam encaminhados os que tinham permanecido fiéis aos conceitos da elevação espiritual, do livramento do pecado, fugindo da degradação moral e dos castigos que devem afligir aos que teriam de se submeter ao julgamento divino. Mas a percepção nunca passava disso, nem nunca tomou os aspectos revelados por Deus ao homem através dos escritos do Novo Testamento. Baseados nos textos do Novo Testamento, principalmente no Evangelho Segundo João e nas Epístolas Paulinas, fica estabelecido que aquilo que o Filho é nisso seremos transformados, pois a nossa condição de salvos nos garante a qualidade de autênticos filhos de Deus. Em João, fica bem claro também a respeito da participação do homem na vida necessária e independente de Deus. Vida necessária tendo por base que a vida de Deus é o âmago, a essência, a fonte e o sustentáculo de toda expressão de vida.

Ao passo que as outras vidas são não-necessárias, ou seja, podem existir ou deixar de existir, por ser vida potencialmente perecível. Por outro lado, Deus tem vida independente através da qual depende somente dele mesmo para continuar a viver. Portanto, foi esse tipo de vida que Jesus Cristo recebeu por ocasião da sua encarnação e é essa vida que, através Dele, os remidos, agora passam a exalar, passam a refletir. Nas epístolas do apóstolo Paulo o conceito de salvação se aprofunda mais ainda – e por revelação divina, ou seja, autenticada pelo próprio conhecimento vindo de Deus. Agora, a salvação envolve nossa transformação segundo a imagem moral de Cristo, da qual compartilharemos a sua natureza essencial. Toda essa operação se processa pela presença do Espírito de Deus em nós, que nos amolda segundo a natureza moral de Cristo.

É essa participação na divindade, aberta a todos os homens que Nele crêem, que tanta diferença faz do conceito cultivado pelo povo do Velho Testamento. Mas e o meio pelo qual alcançaremos tamanha graça? Todo o conceito está expresso através do arrependimento, da fé, da conversão, do perdão, que nos declara detentores da glorificação e cidadãos do novo mundo. Pela plenitude de Deus, da qual passamos a fazer parte, concluímos que o processo de salvação é eterno e infinito. Assim, a salvação, em última análise, consiste em trazer o infinito ao que é finito, em trazer o que é divino ao que é humano. Diante de dimensão de tal grandiosidade, passamos a entender que nesse processo não pode haver fim e que toda eternidade, através do que Jesus nos assegura, está à nossa disposição, juntamente com uma vida aqui na terra plena das qualidades de Deus em nós. Já pensou? Aleluia!

Comentários comentar agora ❯

  • Daniel Muito boa a explicação ,que Deus abençoe
João Pereira

João Pereira

Advogado, escritor e atento observador da política

Postado em 11/02/2010 01:59

A Vergonha do Caipira Galã

Que gosto não se discute, todos sabemos. No que tange aos nossos predicados da boa aparência e beleza pessoal, somos os mais parciais dos julgadores. Chegamos ao ponto, muitas vezes, de não perceber em nós uma grande fealdade, mesmo que todos a reconheçam como uma unanimidade.

Vadinho, como era popularmente conhecido, era uma dessas pessoas que chamam a atenção por alguma originalidade. Baixo e um tanto atarracado, encontrava-se com sessenta e oito anos de idade. Moreno claro, rosto largo, cabelos lisos e ralos, nariz ligeiramente achatado, olhar vivo, boca grande marcada pela flacidez do lábio inferior, podia não causa espanto, mas também nada tinha a ver com a beleza. Acontece que a vida costuma oferecer compensações. Era sociável, comunicativo e espirituoso.

Era filho único de um pequeno proprietário, tendo feito na cidade, na década de sessenta, o primário. Na pequena propriedade, como único herdeiro, residia com a mulher e uma amásia em casas contíguas. Os filhos, casados, residiam fora do estado. Não tinha empregados e sozinho cuidava de um pequeno rebanho e alguma cultura de subsistência.

O que não deixava de chamar a atenção de todos, era o fato de Vadinho conviver com a mulher Mariquita, com a mesma idade, não bem conservada, o que lhe dava um aspecto de bem mais velha, agravado pelo descuido da aparência, e a amásia Prazeres, morena, cabelos lisos, bem torneada, rosto engraçado, seus seios ligeiramente flácidos, era apetitosa e com ela pernoitava.

A relaxidão de Mariquita e sua frigidez sexual que ficou mais acentuada com a idade, obrigou-o, sem protesto da mesma, a cair nos braços da amásia. É um comportamento freqüente nas mulheres do campo que, outrora arrumadinhas para atrair o futuro pretendente, tornam-se com o tempo alheias a boa aparência, passando para a condição de repelentes de marido. Não tinha o menor sentido à fidelidade conjugal. Sexo, além de ser vida, é o mais agradável dos prazeres, necessário à estabilidade do casamento. Conviviam muito bem, na mais perfeita harmonia. Essa inusitada circunstância fê-lo chegar à conclusão, confessava aos amigos, que o homem deveria ter duas mulheres, uma para constituir família e outra exclusiva para os prazeres do sexo, proibida de parir para melhor conservar a forma.

Ao contrário de Mariquita, Vadinho preocupava-se com o seu visual. O barbear-se diariamente, como fazia, para quem mora na zona rural, não deixava de ser um comportamento incomum. Queria, a todo custo, apagar a velhice da cara. Brincava de se esconder com o tempo, achando que assim dava-lhe corda para afastá-lo do inevitável desfecho da vida.

Quando ia à cidade, invariavelmente nos dias da feira, comportava-se como um janota. Logo cedo, após um banho no São Francisco, vestia a melhor calça, camisa de cores berrantes, gosto que perdurava desde a juventude, borrifava o rosto e o corpo com um perfume barato, concluindo o seu ataviamento com os óculos escuros na cara. Eis que a velhice, num passe de mágica, transfigura-se em um corpo com toda vitalidade. Notava-se claramente, nesses momentos, a personificação da vaidade em seu grau máximo de satisfação, um verdadeiro astro do cinema.

Pronto achava-se para a conquista feminina, caso aparecesse. Embora já não estivesse a dar conta do recado com Prazeres, julgava-se um reprodutor à maneira de um paxá africano.

A feira, para muitos matutos, é um dia de festa. Nessa ocasião, uma das duas, a mulher ou a amásia, acompanhava o Vadinho em revezamento semanal. Após chegarem à cidade em um carro velho, acertavam sobre o local e hora do retorno. Caso ele não chegasse na hora combinada, que ela voltasse no transporte coletivo. Ela ia às compras e ele, para exibir-se e dar vazão a seu temperamento extrovertido, procurava os amigos para inteirar-se das novidades.

Para tornar a conversa mais agradável, procuravam um boteco nas imediações do meretrício.

Pinga e cerveja, um copo atrás do outro, a conversa tornava-se cada vez mais animada. O assunto predominante, aparentemente inadequado para a idade, era mulher. Hábito de comportamento de quem quer dar a aparência de viril, quando a virilidade, a passos largos, começa a abandona.

Era comum, dada a proximidade dos bregas, que as quengas aparecessem na esperança de garfarem clientes e dar início aos trabalhos pela sobrevivência. Naquele dia, algumas já tinham aparecido, mas sem despertar o gosto do Vadinho.

A boa notícia para os freqüentadores de cabaré é o aparecimento de uma nova puta. Por sorte ou azar de Vadinho, naquele oportunidade apareceu uma apetitosa carne fresca. Beirava os vinte anos. Pele clara, cabelos lisos, quase esguia, corpo de violão, pernas e coxas bem torneadas, sem manchas, um rosto agradável, seios ainda firmes, era um deleite visual e a promessa do mais excitante combate sexual. Não seria ela demais, correndo o risco de ser rejeitado? O álcool, nessas ocasiões, aliado ao seu temperamento alegre, fez milagre. Esquece a possibilidade de ser rejeitado. Não era ela uma profissional a sobreviver da exploração do próprio corpo? Dirige-se a mesma e a convida a sentar-se à sua mesa. Após as apresentações de praxe, oferece-lhe um copo de cerveja. Comida apetitosa ao seu alcance, tornou-se imediatista para degustá-la mais rápido possível. Impaciente, pergunta-lhe onde está hospedada. Bebe um pouco mais.

Seu nome era Sirlene. Vadinho, a essa altura com a cabeça altamente alcoolizada, quer ver logo o desfecho daquele doce encantamento. Levantam-se e rumam para o quarto da Sirlene. Era de uma pobreza franciscana, resumindo-se numa cama e um guarda-roupa. O banheiro, no corredor, era comunitário a exalar um péssimo odor. Isso não tinha nenhuma importância perto da sua impaciente expectativa de desnudar aquele lindo corpo, abraça-la, beija-la da cabeça aos pés e chegar ao ápice do seu desejo. Tudo isso aconteceu nos mínimos detalhes. Sexo, afinal, é uma arte que requer criatividade e imaginação para torná-lo mais excitante e poder atingir o verdadeiro êxtase do prazer. Mas o que estava acontecendo com o Vadinho naquele dia?

Malabarismo corporal nas mais diversas posições eróticas foram feitas, sem conseguir despertar por completo do profundo sono o guerreiro peniano de grandes façanhas de outrora.

Sua parceira, a essa altura, não escondia a sua impaciência, a ponto de explodir. Ora, estava ali para fazer sexo e não ginástica. Vadinho percebeu e isso afundou mais ainda o seu desejo de usufruir as mil e uma noites que previra. Nada mais tinha a fazer. Desistiu. Olhou com raiva, quase ódio, para o flácido pênis. Com ímpeto irracional, como se ele fosse autônomo, teve vontade de dar-lhe uns tapas. Seu rosto, suado, respiração ofegante, estampava um ser dilacerado pela incredulidade, tristeza, frustração e vergonha. Como pode uma expectativa que acenava tão generosa, capaz de fazer-lhe desfalecer de prazer, transformar-se num sofrido e vergonhoso fiasco!!

Desculpa-se. Veste-se e despede-se de Sirlene que recebeu a mais amarga remuneração de sua vida. Vadinho, enquanto dirigia rumo à sua casa, convenceu-se de que a sua condição de guerreiro das proezas sexuais encontrava-se no passado. E numa honesta autocrítica, chegou a conclusão que o disfarce para exibir-se mais jovem não passava de uma infantilidade. Não há mal que não traga um bem. Adeus encenações de proezas machistas! Triste e desgraçado, sem dúvida, é aquele que não tem o espírito da sua idade.

Comentários comentar agora ❯

  • Antonio Lins O que foi que você quiz falar mesmo João Pereira?