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Públio José

Públio José

Jornalista, publicitário, escritor e atento observador da vida

Postado em 08/10/2010 11:39

Quem gosta do fracasso?

A criação e educação dos homens que estão hoje no poder na política, nas empresas, na comunidade – pessoas na faixa etária dos 40 aos 60 anos – foram feitas para não conhecer o fracasso. “Homem que é homem não chora”; “homem não leva desaforo pra casa”; “quem bater leva”, etc, etc. Lembram-se? Era assim a essência da nossa criação doméstica. O que isso originou? Pessoas fechadas a outro tipo de linguagem, duras de coração, culturalmente pré-estabelecidas a sempre levar vantagens e avessas ao risco. Essa geração prima por buscar a segurança, a tranqüilidade de uma vida assentada em parâmetros que giram em torno de regularidade. E o que significa regularidade? Vem de regular, “referente a regra, disposto simetricamente, que tem lados e ângulos iguais” entre outros significados.

Vamos agora olhar ao nosso redor. A realidade que nos cerca nos traz regularidade, segurança? De jeito nenhum. Estamos rodeados de dificuldades por todos os lados. Então, porque nossos pais e educadores não nos treinaram para o enfrentamento de adversidades, ao invés de nos dotarem de uma capacidade sem igual de gerarmos medo, traumas, egoísmo, individualismo e violência? O negócio é atingirmos um estilo de vida que nos garanta conforto, sucesso, bem-estar. Das pessoas que alcançam este patamar diz-se “serem pessoas bem sucedidas”. Será que são? “É, fulano é um cara bem sucedido” afirma-se, apontando-se para aquele que tem um bom lugar para morar, um bom emprego, carro do ano (de preferência importado), celular e roupas de grife, etc, etc. E a que custo? Essa cultura nos levou a sermos pessoas desprendidas, corajosas, risonhas, solidárias, bem postadas interiormente?

Nada a criticar das pessoas que são bem aquinhoadas materialmente. Mas, será que a vida é simplesmente isso? Com a criação que recebemos – inclusive nas escolas – nos estruturaram para sermos óbvios, retilíneos, com lados e ângulos iguais, dispostos simetricamente. Sem estrutura interior para topar o risco, enfrentar a escuridão e encarar o caos do dia-a-dia. Por sinal, enfrentar o dia-a-dia com coragem é onde está o verdadeiro sabor da vida. Pense agora: qual é a grande barreira da sua vida? Falar em público ou plantar e colher relacionamentos pessoais e profissionais? Pense!

Está na hora de vencermos as nossas próprias limitações. O que você acha que não sabe fazer faça. O que você acha que não pode fazer faça. O que dizem que você é incapaz de fazer prove o contrário às pessoas e a você mesmo. Está na hora de desafiarmos o imenso potencial que temos dentro de nós. Qual a sua deficiência? Estabeleça-a para você sincera e honestamente e lute para vencê-la. Se o fracasso vier, tente novamente. Não desista. A recompensa virá de você para você mesmo. Já se imaginou rompendo barreiras no seu dia-a-dia e na alegria que surgirá do seu interior? Já pensou na onda interior de realização, você dizendo a você mesmo: eu consegui, eu venci?

Aprenda a desafiar o caos, a escuridão, a incerteza, a dúvida. Onde está a escuridão da sua vida? No medo do amanhã? No teste para o futuro emprego? No enfrentar a sogra? O auditório lotado? A síndrome da segunda-feira? O receio da traição? Sabe por que você pode desafiar a escuridão, o caos? Porque você foi dotado para isso! Você foi projetado para ser um vencedor. Analise as possibilidades infinitas de seu cérebro. Sinta a capacidade enorme de percepção que tem no seu olhar. Veja a potencialidade da sua “máquina corporal”.

A enormidade de alternativas e respostas que seu cérebro tem a lhe oferecer. “E o fracasso, se ocorrer”? você me pergunta. Tente de novo. Se posicione diferente, busque, procure. Você vai começar a experimentar, mesmo que de leve, o sabor indescritível e legítimo de vitória, aquele sentimento de esperança surgindo, brotando de dentro de você. Você é capaz de coisas maravilhosas. Quer apostar?

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Augusto N. Sampaio Angelim

Augusto N. Sampaio Angelim

Juiz de Direito em Pernambuco, apaixonado por Penedo

Postado em 06/10/2010 11:34

Senhoras e Senhores, com vocês, Sua Excelência, Tiririca

O cidadão Francisco Everardo Oliveira Silva, filiado ao PR, segundo indicam as pesquisas eleitorais, vai se eleger Deputado Federal pelo Estado de São Paulo com cerca de um milhão de votos e levará a reboque, pelos artifícios do quociente eleitoral outros candidatos mais conhecidos no ramo da política, tais como Valdemar Costa Neto, que é um dos personagens citados no escândalo do mensalão. Francisco Everardo é conhecido do grande público como o Palhaço Tiririca, que se apresenta como coadjuvante de vários programas de humor da televisão brasileira há anos.

Tiririca entra na política pelo viés do escracho. Vote em Tiririca, pior não fica e outras preciosidades são ditas com graça pelo candidato. Sob o ponto de vista do marketing político sua candidatura é um sucesso e, se fosse candidato à Presidência da República é bem provável que superasse o velho e radical Plínio de Arruda Sampaio, do PSOL, nas intenções de votos divulgadas pelos institutos de pesquisa. A candidatura de Tiririca é vista como engraçada por milhares de eleitores e ridicularizada por milhões. Na mídia escrita, chovem críticas contra Tiririca, considerando sua candidatura como um símbolo de degradação das instituições brasileiras. Pelas declarações prestadas pelo candidato à imprensa é perceptível que sua candidatura foi uma invenção para beneficiar outros membros menos simpáticos do PR, tanto é assim que ele disse que é o partido quem patrocina toda sua campanha, cabendo ao palhaço o riso e o escracho. Não sei ao certo o perfil do eleitorado de Tiririca, mas imagino que se trata da parcela da população mais desinformada e, ao mesmo tempo, revoltada com o baixo nível moral dos políticos. Cansado de quem trambica? Vote em Tiririca.

Desacostumado aos palcos da política, Tiririca vê sua carreira pessoal alavancada porém começam a surgir as primeiras pedras em seu divertido caminho. Um promotor eleitoral de São Paulo pediu a abertura de uma investigação contra Francisco Everardo porque ele declarou que informou à justiça eleitoral que não possuía bens, mas, à imprensa teria dito que fez isso porque colocou todos os seus bens em nome de terceiros, para evitar a partilha numa ação de separação judicial.

Riscos à parte, a campanha segue firme, embora enfrente alguns percalços, tais como a rejeição clara do Senador Aloysio Mercadante, candidato ao governo de São Paulo pelo PT, cujo partido é aliado do PR. Mercadante, do alto de seus bigodes e decisões irrevogáveis, disse que a população deveria votar apenas nos candidatos sérios.

Meninos e meninas, não é de hoje que o Brasil vota em candidatos declaradamente do tipo Tiririca. O Macaco Tião, foi lançado como candidato pela turma do Casseta e Planeta, à prefeitura do Rio de Janeiro, em 1988, e chegou aos quatrocentos mil votos, ficando em terceiro lugar na preferência do eleitorado. Com a introdução do voto eletrônico, candidatura fictícias dessa natureza não tiveram mais oportunidades, porém, de dois em dois anos, se registram candidatos fictícios. Uns, porque buscam alguns busquem apenas uma licença do serviço público (desincompatibilização). Outros, porque prometem tanto que seu programa é uma mera ficção. Mas, como lhes avisei garotos, a comédia não faz parte apenas da cultura eleitoral brasileira. Na Alemanha, por exemplo, nas eleições gerais do ano passado, um comediante se travestiu de um candidato fictício e se apresentava em rede nacional de televisão arrotando e propondo a realização de cirurgias plásticas gratuitas, com seu ar de canastrão e alcançou imensa popularidade.

Tiririca, se eleito, não deverá ser pior que muitos dos nossos atuais congressistas e é pouco provável que se envolva em falcatruas orçamentárias e outras maldades do gênero e, portanto, assim, sua eleição não atenta contra os princípios republicanos. O problema é que Tiririca, puxará um cordão com gente sobre quem paira grandes suspeitas de envolvimentos em negócios pouco ortodoxos, entre eles o deputado Valdemar Costa Neto.

Tiririca faz qualquer um rir, não é verdade? Mas o que dizer, por exemplo, do Deputado Federal Ciro Gomes, do Ceará, com seu ar circunspecto e sério? A revista Veja (edição 2183, ano 43, nº 38) acusa o deputado cearense e ex-ministro da Integração, de participação num grave esquema de corrupção, juntamente com seu irmão, o governador Cid Gomes.

Um consolo, entretanto, com Tiririca pode ser que a Câmara dos Deputados fique mais engraçada, pois outro humorista, Juca Chaves, também concorre a uma vaga de deputado federal pelo PR, em São Paulo.

A eleição de Tiririca será um sinal de que o país precisa de uma reforma política senão a tendência é piorar, ao contrário do que diz o palhaço candidato.

 

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  • Roberto Perfil do eleitor,caráter do candidato,grau de estudos, que são os culpados ? Envergonha o País,é verdade,com alto índices de desenvolvimento blá blá blá. A resposta dessa maneira é melhor doque o silêncio.
  • Roger E o que dizer do Delegado Protógenes, que foi eleito com as sobras dos votos de Tiririca e, quer se apresentar como uma pessoa séria e diz ter guardadoem casa 300 mil reais, porque nao confia nos bancos. De onde terá saido esse dinheio
Valfredo Messias dos Santos

Valfredo Messias dos Santos

Procurador de estado, defensor público e membro da Academia Penedense de Letras

Postado em 03/10/2010 07:48

A Importância do Bom Relacionamento

As preocupações que suportamos no nosso dia a dia, às vezes nos fazem ignorar a necessidade que temos de nos relacionar com os outros, não apenas dentro do núcleo familiar, mas também no meio social de um modo geral.

Aprender a conviver é uma espécie de dádiva, pois o ser humano é cheio de nuances de surpresas de incertezas, de contradições. Quando menos se espera, uma pessoa que tínhamos como amiga, como confidente como colaboradora, passa a adotar um comportamento estranho, inexplicável.

Quando esse comportamento se dá no seio da família, dá causa aos desentendimentos e até suspeitas de um relacionamento espúrio. Entre amigos, gera o afastamento, o esfriamento da amizade. Também é possível detectar-se essa mudança de comportamento, no ambiente de trabalho.

Quantas vezes não ouvimos alguém dizer: “ Fulano , em um dia está com uma cara , no outro dia está com outra; Num dia está de um jeito, no outro dia,está de outro.Não se sabe realmente o que ele quer “. Quando esse fulano é o chefe, gera um sentimento de insegurança na equipe, de despreparo, pois sua atitude não induz confiança, e o tempo todo, os empregados ficam apreensivos. Se a situação é vivenciada por um companheiro de equipe que muda de comportamento a cada dia, a conseqüência é o seu isolamento.

A falta de um bom relacionamento entre esposo e esposa e entre os filhos contribui para um lar conturbado, sem respeito, sem limites, sem futuro. Infelizmente esse tipo de família está aumentando a cada dia. Saber se comunicar no trabalho, na família e na vida pessoal depende de uma habilidade muito grande, de renúncia, de compreensão e de compaixão.

Basta uma palavra, um gesto, uma atitude, uma brincadeira em um momento inadequado, para desencadear uma decepção capaz de estremecer um bom relacionamento mesmo que essa não fosse a intenção do outro.

A sensibilidade do ser humano varia de pessoa para pessoa. Uns são mais tolerantes outros se ofendem por qualquer coisa. A sensibilidade, por ser algo muito subjetivo, não pode ser detectada simplesmente na convivência, ela aflora repentinamente e sofre influências do enfraquecimento emocional. Pessoas mais emotivas, são mais fáceis de serem ofendidas.

Por isso se faz necessário respeitarmos as pessoas, elogiando-as com sinceridade ao invés de criticá-las. É salutar que evitemos brincadeiras e gestos que magoem, para que não sejamos vítimas de nossas próprias atitudes e, com isso, mesmo sem percebermos, contribuamos para a quebra de um bom relacionamento, de uma boa amizade, necessários ao convívio social sadio.

 

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  • Antonio Se tal comentário fosse lido e assimilado por aqueles que se apresentam com os sentidos vendados para a compreensão dos valores mais elementares da espécie humana, teríamos uma sociedade mais tolerante e capaz de ser senhora de sua própria existência.
Jean Lenzi

Jean Lenzi

Ator, dramaturgo, encenador teatral e ativista cultural

Postado em 29/09/2010 14:20

Café para Viagem

Da poesia portuguesa pela qual tenho grande admiração, eu me faço valer das palavras de Fernando Pessoa quando nos diz que “para ser grande, sê inteiro...” é desta citação intima que meu nariz de cera a guisa de intróito me permite comentar, muito distante da pretensão crítica, e agora, em que pese eu sinta a necessidade de reafirmar esta que me é peculiar, eu simplesmente pauso. Pauso a língua em sinal de respeito e com olhos e ouvidos gozando de boa saúde constato a ferrenha luta entre continente e conteúdo sabiamente incitada por uma viajante experiente, mas que ao aportar no Penedo, já contemporâneo dos “ingênuos”, eis que sua experiência é posta à prova numa simples degustação de um café servido para uma comunidade morna e distante da literatura. Em oposição a isso, a organização livre Arte-Fato. Eco propõe com o Café Literário do Penedo diálogos e reflexões várias acerca do cotidiano de seu povo. O diário de bordo contempla um “menu” copiado de singular evento sulista, e que se não fosse por força do longo processo de aculturação e comodismo vivido pelo povo do Penedo, este evento não deveria nada aos demais cafés literários existentes mundo afora. Tal como uma rosa ainda por desabrochar, ele nos remete à beleza e a poesia de um evento plural e multifacetado que a cidade do Penedo e seus munícipes precisam descobrir.

Uma Idéia que é genialmente fruto da inquietação sui generis da psicóloga e bailarina Penedense Lúcia Prata, que após um longo período em que esteve radicada no sul do país, regressa a sua terra e se debruça sobre ela com imponderada energia e generosidade, dignas de uma filha do Penedo que é ilustre pelo simples fato de ser sobrevivente do caos. O caos a que me refiro, é tão simplesmente a antipatia que se levanta como bandeira por um marasmo asfixiante, e pelo bucolismo como cartão de visita que aliadas à falta de perspectiva, à ociosidade e ao medo que fazem vida comum com o Penedo, repito, já contemporâneo dos “ingênuos”. E contrariando isto, vemos num discurso sensível e abrasador que energicamente é proferido por uma mulher, que lamentavelmente está exilada em sua própria cidade. Por isso, basta que saibamos, “há viajantes que regressam às suas cidades para matar as lembranças e recuperar a vida”..., e disso bem sabe esta exímia navegadora que é uma “pessoana”, ainda que não tenha conhecido o “Pessoa”.

À navegadora, o Pessoa:

“Trago dentro do meu coração,

Como num cofre que se não pode fechar de tão cheio,

Todos os lugares onde estive,

Todos os portos a que cheguei,

Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias,

Ou de tombadilhos, sonhando,

E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero”.

O Café Literário do Penedo que em 2007, ano de seu lançamento, pode ser degustado sob os auspícios da Fundação Casa do Penedo, toma agora um formato itinerante, e consequentemente ganha maiores proporções. Com apoio do Governo Estadual, a Escola Lai, (livre de artes integradas) ARTEFATO. ECO dará nestas ocasiões continuidade ao seu projeto de levar cultura e entretenimento a importantes comunidades do Penedo.

Na primeira edição desta jornada, estando o “Barro Vermelho” no contramão do desenvolvimento sócio-cultural-educacional, foi oferecido aos cidadãos daquela comunidade mais um bate papo sobre os transtornos que se abate sobre o Rio São Francisco, tema palpitante, que acredito deveria ser tratado com maior delicadeza e especialidades. Populares do Bairro Santo Antonio foram minorias numa noite que foi pensada especialmente para eles. O Café que sempre foi reconhecido pelos artistas, chegando a ser point do rappy hour em tempos glórios, não pôde ser degustado pela classe artística local, tendo dentre os presentes, além deste que vos comenta, apenas o escritor Penedense, fiel degustador dos “cafés”, Francisco Araújo, que em sua fala, antecipando a leitura dos poemas, reafirmou o Café literário do Penedo como sendo uma das melhores iniciativas culturais já desenvolvidas nessa urbe, isto a bem da verdade, eu acrescentaria, nos últimos dez anos.

Nada é tão válido para um evento cultural quanto à acareação das verdades, e das “verves”. E do que se entende por verdade, haja vista a combinação dos conteúdos discutidos no Café, a simbiose literária e vocativa, e mais ainda, a pretensão (esta em caráter menor). É isto que o Café Literário promove, e deverá ser este o nosso chamamento. Seguir os gritos, ainda que pareça impossível aos ouvidos dos tiranos. Como o descobrimento de talentos jovens e sadios, o trabalho e o cuidado com a escolha dos textos, a exaltação à poesia que nem sempre é acompanhada pela dileta platéia, mais que uma intenção de se mostrar trabalho, (e um bom trabalho), é uma obrigação para aqueles cujas “sortes” de terem freqüentado boas escolas, ou ainda de terem nascido em tempos menos difíceis sentem ao compartilhar com as novas gerações toda esta poética de vida, que também é um exercício de cidadania, e isso também é essencialmente válido.

Potencialidades e especialidades como as do jovem “Dark Poet”, Thiago Vinnycius, cujo caráter conflituoso confrange uma maioria que ainda estar por se descobrir igual; estão se perdendo nas esquinas, embrulhadas num sistema, já falado, ignorante, falho e cruel que são presas fáceis para o comércio ilícito, ou o que parece pior, para um pólo corrosivo que é a ociosidade. Assim, o Café Literário do Penedo serve também como fonte de renovação e libertação da boa e velha prática de pensar, que será segundo Paulo Freire, a melhor prática para se pensar certo.

 

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  • HAPPY HOUR E aí e aí e aí mano como vai ser essa parada, pq não utlizas ferramenta de correção ortográfica?
  • MANO pow brother, o google fez isto seu mane.
João Pereira

João Pereira

Advogado, escritor e atento observador da política

Postado em 22/09/2010 17:09

Políticos e Camaleões

Não se tratava de uma crônica sobre o pacato e inofensivo réptil, mas de uma curiosa observação sobre diferenças e semelhanças entre os dois. Naturalmente que existem outros animais que podem servir de comparação. Isso porque, supomos, todos nós, com a diversidade de comportamento, sempre nos identificamos com um outro representante do reino animal. Existem aqueles que são mais comuns ao homem, como os leões, a pomba, a raposa, o rato, o porco e o abutre. No campo da política, por exemplo, a proverbial sagacidade da raposa aparece em primeiro lugar.

Mas no que tange às diferenças e semelhanças entre os dois personagens acima, a primeira coisa em comum é a camuflagem sob aspectos e finalidades diferentes. O camaleão camufla-se com a mudança de cor e tem como finalidade proteger-se dos predadores, ao passo que a camuflagem do mau político aparece vestida com as cores da malícia, da mentira e da traição entre outras indignidades. Uma outra similitude diz respeito ao tamanho da língua. Temos certeza que poucas pessoas tiveram a oportunidade de ver o tamanho descomunal da língua do camaleão. Além de grande é pegajosa. O camaleão mira sua presa, geralmente um inseto, e arremessa sua língua. Nunca falha sua pontaria. É o seu instrumento de caça para garantir-lhe a sobrevivência. A língua do mau político, também enorme, serve de esgoto de toda sua vileza. Presta-se também para arremessar à distância o cuspe na cara do eleitor incauto e ingênuo.

É no período eleitoral, tempo da caça intensiva, que o arremedo de político, com seu apetite voraz, mais muda de cor. Para ludibriar, veste-se com as cores da honestidade, trabalho, competência, confiança, sinceridade e outras tonalidades que possam ludibriar o pobre eleitor. Como se fossem obra do milagre, as boas qualidades de caráter, antes adormecidas, brotam em cascata.

Afirma-se que na guerra, apesar das horríveis atrocidades, afloram os mais belos sentimentos de humanismo e solidariedade. Acreditamos que sim, porque resultam do sofrimento, fogo purificador. Não quer isso dizer que as expansões de bondade e solidariedade só possam surgir nas adversidades. Certas coisas, segundo as nossas expectativas, deveriam acontecer conforme sua compatibilidade com o local e o momento. Muitos políticos camaleônicos, desconhecendo ou alheios a essa constatação, desprezam a ocasião apropriada para encenar no palco das ruas os mais elevados sentimentos capazes de traduzir a política na verdadeira essência do seu significado. Na verdade, eles encenam e podem, na aparência, interpretar bem a esse respeito, mas pecam pela falta de honestidade. Limitados e corrompidos pelo vício, preferem enlameá-la, desacreditá-la e, o que é pior, desacreditarem-se a si próprios.

Há, como muito bem percebemos, uma mudança radical de comportamento do político profissional quando em campanha. Transformados numa caricatura de torcedores da copa de futebol do mundo, quando se exalta de verdade o espírito nacionalista e o esbanjamento da alegria coletiva, a deflagração do pleito eleitoral origina uma tempestade a chover milagrosamente uma enxurrada de virtudes capazes de formarem a mais completa imagem de políticos ideais. Como de repente se tornam brasileiros de verdade, preocupados com os menos favorecidos pela sorte e com o desenvolvimento em tudo que diga respeito aos interesses da sociedade. Nada do que possa chamar a atenção e aprovação do eleitor deve ser descartado. Anteriormente arredios e indiferentes às missas, procissões e outros sacrifícios religiosos, passam a participar compenetrados pela fé. Como são solidários na dor! Nem os defuntos alheios e desconhecidos deixam de ser pranteados.

Por pouco não se transformam em carpideiras. Mas dentre todas essas demonstrações de grandeza da camuflagem camaleônica, nada chama mais a atenção do que a cordialidade. Quanta prodigalidade! Nessas exibições, as mãos têm um grande desempenho. As sofredoras, além de acenarem e apertarem democrática e hipocritamente todas as mãos, perdem a sua autonomia. As coitadas, como se tivessem sido submetidas ao reflexo condicionado ou lavagem cerebral, tornam-se compulsivas à vista de outras mãos. Tem de apertá-las a qualquer custo. Ao passar por quem quer que seja ou mesmo alguma coisa que lembre uma forma humana, é contemplada com o aceno. E as fotografias! Quanta simpatia!

O sorriso, comum a todas, é capaz de convencer a todos da sua pureza. Esse artifício malicioso faz-nos lembrar Shakespeare que deles diria que “são mendigos de desejos inconfessáveis, que respiram candura e santidade para melhor lograrem seus infames objetivos.” Verdade seja dita, em muitas dessas fotografias, se lupa tivéssemos nos olhos, enxergaríamos, no fundo, a ferocidade de hienas esfaimadas. Os carros de som, que primam pelo incômodo, propagam os bons propósitos dos candidatos que sabemos, a respeito de alguns, terem perdido a confiança e serem completamente bichados em sua reputação.

A campanha para deputado estadual, em nosso estado, reveste-se de um coliforme fecal compatível com as nossas expectativas. Não pode ser diferente, vez que a Assembléia Legislativa, sede de um poder desacreditado e inútil, infestada por gabirus, assemelha-se a um corpo a flutuar a esmo, sem rumo como bosta de marinheiro, decompondo-se pela ação de parasitas e predadores.

Muitos de seus atuais inquilinos responsáveis pela avalanche de imoralidades que sobre a mesma a soterrou, tentam reeleger-se. E o inacreditável é que quase todos, segundo alguns entendidos, estão eleitos. Que auspicioso horizonte se nos deslumbra para o futuro! Batendo forte contra esse estado de coisa, aparece uma nova geração de camaleões, uns verdadeiros em suas camuflagens e outros na mesma linha dos veteranos. PHD da corrupção, que prometem desratizá-la. Será que irão, se eleitos, usar o remédio certo, o raticida ou, cinicamente, empregarão a homicida honestidade? O cenário é tão tenebroso que sequer temos o direito de usufruir do sentimento da dúvida.

O mundo animal, através de documentários, mostra-nos o camaleão como um animal calmo e inofensivo. A natureza, para compensá-lo, deu-lhe o dom da camuflagem para poder se defender dos predadores. O político anão, sem esse dom natural, compelido pelo obsessivo desejo de tirar o máximo proveito do cargo, planeja maliciosamente a sua camuflagem, não como defesa pessoal, mas para o ataque. Com esse intuito, escolhe a isca apropriada visando atrair para sua armadilha os eleitores incautos e ingênuos. Distribui sorrisos, tapinhas nas costas, apertos de mão e falsas promessas com o perfume de pétalas de rosas da ilusão. Findo o pleito, quando vitorioso, ofuscado pela claridade, vê o caminho aberto às suas torpes e inescrupulosas pretensões, enquanto o pobre eleitor assistirá, mais uma vez, murcharem as flores das mais acalentadas esperanças.

Em síntese, os camaleões continuarão sendo autênticos camaleões, enquanto grande parte dos nossos políticos, PHD da improbidade, continuarão com todo zelo a seqüenciá-la, aleijões da ética que o são, como a mais legítima e última aspiração de suas carreiras.

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