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Públio José

Públio José

Jornalista, publicitário, escritor e atento observador da vida

Postado em 06/03/2011 09:22

Quem são os pequeninos?

É certo que Jesus Cristo, em seu ministério pelos territórios da Judeia, Galileia e Samaria, sempre manifestou apego especial pelas crianças, a quem, por diversas vezes, nomeou de pequeninos. É célebre, mesmo entre os incrédulos, a passagem que enfoca o assunto (Mc. 10.14). Nela, Jesus se indigna pela insensibilidade dos apóstolos ao tentarem impedir o acesso a ele de várias crianças. “Deixai vir os pequeninos a mim e não os impeçais, porque dos tais é o Reino de Deus”. Em seguida, realçando a pureza e a santidade infantis, atributos indispensáveis no reino ao qual se referia, arrematou: “Em verdade, em verdade vos digo que qualquer que não receber o Reino de Deus como uma criança de maneira nenhuma entrará nele. E, tomando-as nos seus braços e impondo-lhes as mãos, as abençoou” – tal gesto significando, de sua parte, amparo, carinho, proteção, além de exemplo por nós a ser seguido.

Portanto, tanto nestas como em inúmeras outras passagens de sua vida terrena, Jesus deixou bem claro o prioritário, indispensável e amoroso tratamento às crianças como ponto fundamental à fé cristã. Tal ensinamento se vê bem pautado em Mateus 18.1-4: “Naquela mesma hora, chegaram os discípulos aos pés de Jesus, dizendo: Quem é o maior no Reino dos céus? E Jesus, chamando uma criança, a pôs no meio deles e disse: Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos fizerdes como crianças, de modo algum entrareis no Reino dos Céus”. Entretanto, em outras ocasiões, Jesus elasteceu o significado do termo “pequenino”, enquadrando nele pessoas fragilizadas pelas circunstâncias da vida – mesmo as adultas. Em Mt. 18, desta feita no versículo 6, Jesus já emprega o termo de forma mais abrangente ao utilizá-lo no plural, certamente referindo-se a vários “pequeninos” ali presentes.

“Mas qualquer que escandalizar um destes pequeninos que creem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma mó de azenha, e se submergisse na profundeza do mar”. E no versículo 11: “Porque o Filho do Homem veio salvar o que estava perdido”. Essa, com certeza, é linguagem para “pequeninos adultos”, pois os “pequeninos infantis” não se enquadram na concepção de “perdidos” a que Jesus se refere. Nosso grifo objetiva demonstrar que Jesus, na ocasião, expandiu o conceito de pequenino para pessoas ali presentes, já convertidas, que já o seguiam, já o aceitavam pela fé – portanto, pessoas adultas. De outro modo não as teria nomeado como “pequeninos que creem em mim”, pois criança, cronológica e biologicamente, não tem preparo intelectual, nem discernimento, nem maturidade suficiente para analisar, considerar e crer em um complexo discurso de conteúdo espiritual.

Assim, para Jesus, crianças e adultos são seus pequeninos – principalmente quando fragilizados pelas agruras da vida – mesmo os bem forrados materialmente. Tal conceito independe se a condição de pequeninos se materializa através de problemas de ordem pessoal, familiar, profissional, política, econômica... Ou mesmo, quando pobres, se marginalizados de políticas assistenciais de governos ou de outros órgãos cuja competência é de tê-los sob cuidados – e que não vem cumprindo a atribuição. E agora?

A quem cabe cuidar dessas demandas se seus responsáveis delas não tomam conhecimento? O próprio Jesus se avoca o direito: “Vinde a mim todos vós que estais sobrecarregados e oprimidos, e eu vos aliviarei (Mt. 11.28)”. Como se vê, o convite é um só: “Vinde a mim”. Extensivo tanto a “pequeninos pequenos” como a “pequeninos grandes”. Por sinal, como você está agora? Pequenino? 

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  • marcelino cantalice Prezado Públio: Trminei d ler o seu artigo sobre as \"Crianças\": os Pequeninos, de que fala Jesus. São os prediletos. E onde fica essa predileção? Como ? O amor e o respeito às crianças estão a merecer uma atenção bem maior. É a palavra do Mestre dos Mestres. Oxalá a sua reflexão nos leve a tanto... Abraços. Marcelino.
Isabel Fernandes

Isabel Fernandes

Bibliotecária Especialista e Contadora de Historias

Postado em 02/03/2011 10:27

“O infeliz continuará sempre infeliz”

A experiência foi das piores. Aconteceu numa noite quente e calma de verão. Resolvi visitar minha amiga Silvia, havia meses que não nos víamos, tínhamos tanta coisa para conversar, nosso reencontro foi caloroso e com abraços apertados. Não parávamos de falar um só instante. Decidimos sair para orla e encontrar um grupo de amigas em comum que estavam reunidas num barzinho. A noite prometia ser alegre e relaxante. Silvia propôs de irmos a pé, era pertinho, iríamos caminhando mesmo.

Tudo aconteceu tão de repente, ao dobrarmos uma esquina, surgiu uma motocicleta ocupada por dois rapazes. Repentinamente a moto parou, um dos rapazes desceu, era alto e musculoso, e com revolver em punho se dirigiu a mim e disse:

– A bolsa! A bolsa!

Fiquei paralisada, olhei aquele rapaz com arma brilhando em sua mão e querendo a minha bolsa. Uma pessoa que eu não sabia quem era, nem de onde veio e qual era sua história de vida. Mas, naquele momento, a arma dava-lhe o direito de ficar com a minha bolsa ou com a minha vida. Num gesto automático entreguei minha bolsa para ele e preferi ficar com a minha vida. Ele subiu na moto e foi embora com o outro comparsa, levando minhas coisas pessoais: documentos, cartões de créditos, aparelho celular, até meus óculos de leitura e a chave do meu apartamento.

A nossa noite acabou. Voltamos ao apartamento de Silvia e começamos a ligar para operadoras e realizamos o cancelamento dos cartões de crédito. Depois nos dirigimos a uma delegacia de plantão para fazermos o tal BO, boletim de ocorrência, este será meu documento nos próximos dias. Partimos então em busca de um Chaveiro 24 horas para abrirmos meu apartamento.

Silvia foi super prestativa, ficou todo tempo do meu lado, me auxiliou em tudo. Só quem sente na pele esse tipo de experiência é que sabe os transtornos que sofremos. Ter uma pessoa amiga do lado num momento desses faz toda diferença.

Em casa acessei a internet e avisei por email aos meus amigos e familiares o ocorrido. Recebi muitos emails solidários, um particularmente me chamou a atenção, foi enviado por meu queridíssimo e grande amigo Walter Melo, dizia assim:

– Minha amiga, força e bola pra frente! Você conseguirá tudo de volta. “O infeliz continuará sempre infeliz.”

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  • Augusto César Muniz Infelizmente isto e rotineiro nos dias atuais. Posso perceber tamanha aflição vivida por esta personagem ao qual teve tamanho susto diante de uma situação de risco. Sentimos muito a esse respeito. Mas, o bom de tudo isso foi a inspiração para esse texto de leitura muito agradável.
  • Roberto ...Se fosse do papel para a realidade, mas como foi da pura realidade para o site. Estamos perdidos.
  • Maria Núbia de Oliveira Isabel, o quanto foi difícil aquele momento pra você e sua amiga. Mas a vida é o dom mais precioso que temos. As coisas são secundárias. Chave de carro, celular, cartões de crédito, são substituídos, mas a vida, não! Ela é única. Sinto pena desses pobres infelizes, sem rumo, sem horizonte e que passam pela terra semeando o mal. A paz e a infelicidade passam longe dos seus caminhos.
Valfredo Messias dos Santos

Valfredo Messias dos Santos

Procurador de estado, defensor público e membro da Academia Penedense de Letras

Postado em 27/02/2011 06:38

Quando o silêncio fala mais alto

Os especialistas da área do relacionamento humano sempre recomendam que devemos ouvir mais e falar menos. É por isso que muitas pessoas se tornam inconvenientes porque quando reunidas, querem exclusividade ao expressar seus pontos de vista sem dar uma oportunidade para que as outras também se manifestem.

Com essa atitude acreditam que demonstram seus conhecimentos e sabedoria, sem se dar contas de que estão deixando transparecer suas antipatias e falta de educação por não saber respeitar o espaço dos demais.

Quantas vezes não presenciamos discussões a respeito de temas relacionados com futebol, religião, política, onde cada participante se preocupa apenas a demonstrar que sabe mais do que o outro e, no final, perde-se tempo e nenhum resultado positivo resulta de tantos minutos desperdiçados.

Se um falasse, expusesse sua opinião e aprendesse a ouvir e a respeitar a opinião do outro, no final restaria pontos positivos que seriam aproveitados por ambos, melhorando o conhecimento à cerca do tema tratado.

Saber ouvir é uma questão de educação. As pessoas educadas estão sempre dispostas a ouvir com atenção a manifestação das outras. Quando quer interferir para concordar ou discordar o faz com diplomacia e respeito.

O homem e a mulher necessitam de dialogo, de exprimir suas opiniões, de criticar, se necessário for, de elogiar. O convívio social exige que aja interação entre as pessoas, pois é através dessas práticas que nos tornamos conhecido, quer com relação ao caráter, personalidade, mas também com relação ao conhecimento e à sabedoria.

Quantas pessoas sábias existem na comunidade sem que as conheçamos? A sabedoria não depende do grau de instrução, não. Sabedoria se adquire na escola da vida, sabendo ouvir a voz da razão e a controlar as emoções.

Há ocasiões, entretanto, que é melhor silenciar. Silenciar não no sentido de se omitir, de ficar em cima do muro, mas como uma forma de evitar o conflito desnecessário.

Muitas vezes falamos com os olhos, sem haver necessidade de exprimir uma palavra se quer. Esse olhar, em alguns momentos é de repreensão, de alerta, de desconfiança, de decepção, de temor, e até mesmo de pedido de socorro.

No âmbito familiar ainda é possível se ouvir : “ Pelo olhar do meu pai já sei se ele está gostando ou não do que estou fazendo” ou: “ Quando meu pai olhava ,com aquele olhar, ninguém se atrevia a contesta-lo”.

Há o silêncio que serve de resposta. Isso se dá quando há uma ofensa à dignidade humana e o ofendido sem querer deixar aflorar o seu ímpeto de revolta, cala-se. O ofensor que esperava uma reação se surpreende e, em inúmeras ocasiões, se envergonha de seu ato e pede desculpas. A ofensa que nos faz calar, na maioria das vezes, nos dilacera por dentro e abre uma cicatriz difícil de ser curada, mas é nesse momento que devemos ser sábio.

Uma das respostas que mais me tem feito refletir sobre ela, por sua grandeza e profundidade, configurando-se, se assim podemos dizer , um silencio falado , foi a de Cristo ao responder a pergunta de Pilatos :
- Tu és o Cristo?
- Tu o disseste.

Ao silenciarmos sobre indagações ou situações que nos provoca ,nos ofende e nos machuca,devemos usar a sabedoria para que, mesmo em silencio, possamos dar as respostas apropriadas.

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  • Zuildson Ferrreira Alves Todos têm o direito de falar, se expressar mas ao mesmo tempo saber ouvir é uma arte.Falar no momento certo com fundamento requer muita leitura e experiência.Ser discreto.Coerente.Poucas palavras é o suficiente.A Oração da Coroa é um dos mais belos discursos de todos os tempos.Simplicidade e palavras bem colocadas.Que o diga Demóstenes.Muito bem.
  • Martha Mártyres É verdade Dr. Valfredo. Parabéns pelo texto. Eu, que vivo de falar, sei que nesse silêncio ao qual o senhor se refere, enocntra-se a maior das respostas. Quem não entende o silêncio, não entende nada.
  • GILCELIA NO MARAVILHOSO TERRITORIO DO SILENCIO NÓS TOCAMOS O MISTERIO.ELE É O LUGAR DA REFLEXAO E CONTEMPLAÇAO E, É O LUGAR ONDE NÓS PODEMOSCONECTAR COM O CONHECIMENTO PROFUNDO PARA O CAMINHO DA SABEDORIA PROFUNDA!!! ´´´´E VERDADE!!!
  • marcelino cantalice Caríssimo Valfredo: Pax et Spes ! Silenciosamente quero lhe felicitar pelo seu artigo: Silêncio ! Haverá eloquência maior do que a do silêncio? A história está repleta de exemplos.Bons exemplos. Quem não sabe silenciar, também não saberá falar. Tudo a seu tempo; tudo na sua hora. Parabéns ! Abraçõs. Do: marceli08f95no.
João Pereira Junior

João Pereira Junior

Advogado, Professor de Direito e Membro da Academia Penedense de Letras

Postado em 22/02/2011 08:26

Era para torcer para o Murici ou para o Flamengo?

Era para torcer para o Murici ou para o Flamengo?
Presidente do Murici é sócio do Flamengo

Testemunhamos neste mês de fevereiro uma visita do Flamengo às plagas alagoanas. Foi por ocasião de uma partida válida pela Copa do Brasil, competição que, de forma inclusiva, permite confrontos tipo “Davi e Golias” pelo país afora. No caso em tela, o jogo foi contra o alviverde da zona da mata, o Murici, atual campeão alagoano. Resolvi escrever esse artigo não por força do insólito confronto, ou pela forma como atuou o time alagoano durante o primeiro tempo em que poderia ter feito, pelo menos, um gol; não, não foi nada disso que me motivou. Contudo, as divergências em torno de para quem deveríamos torcer, apimentada pela paixão confessa do presidente do próprio Murici pelo Flamengo, deram vazão a essas linhas.

Alguns sentiram vergonha ao verem os alagoanos lotando o Rei Pelé não só para o jogo, como para acompanharem o treino do Flamengo, também. Cobraram a nossa fidelidade ao Estado e fizeram comparações com os times nordestinos de capitais maiores como Recife, Fortaleza e Salvador, onde, lá, os torcedores são fiéis aos seus pavilhões. Outros, loucos pelo Flamengo, davam de ombros para tais observações e se antenavam apenas ao grande acontecimento futebolístico.

Peço vênia para discordar do ponto-de-vista dos detratores dos alagoanos/flamenguistas em relação a esse fato. À primeira vista, o discurso alagoanista soa persuasivo, tanto pela pretensa valorização de nossa terra, quanto pela alegada falta de autenticidade de se torcer por um clube tão longe e de um lugar tão diferente. Contudo, lançando um olhar mais perscrutador, fazendo-se uma leitura diagonal e sondando as entrelinhas do acontecimento, vejo que assiste razão ao torcedor, seja do Flamengo, seja do Murici quanto à sua escolha, sobrando o equívoco para os críticos, ainda que bem intencionados.

Ora, o bairrismo de que estamos precisando não passa por este viés esportivo, afinal, o futebol está entre as coisas mais sérias dentre as menos sérias e, se é assim, porque misturarmos orgulho, bairrismo, brio ou coisa que o valha com esse assunto? De antemão, aviso que não sou avesso ao futebol, ao contrário, fui assíduo praticante de salonismo e muito me alegra ter feito parte de um dos melhores times do Baixo São Francisco, comandado pelo nosso maestro Givaldo (Juquinha) no início dos anos 90 com quem aprendi valores que me instruem até hoje (saudosos Jogos da Primavera). Mas, voltando ao assunto, a falta de adesão dos alagoanos ao time do Murici, naquela partida, não teve e não tem nada a ver com falta de lealdade ao nosso Estado, mas teve e tem vazão na porção lúdica que há em todos nós. Essa ludicidade não está preocupada com fronteiras, circunscrições geográficas, etnias, ou qualquer outra delimitação. A sua atenção se volta apenas para o seu objeto de admiração sendo indiferente a que país ou Estado pertence, como acontece com os milhares de ferraristas pelo mundo afora que, independente de sua nacionalidade, onde houver uma corrida de Fórmula 1, lá estarão eles prestigiando a escuderia de Maranello.

Confesso que já me indignei muito com essa questão de um alagoano torcer contra um time alagoano em favor de um paulista, carioca, enfim; hoje, não mais. Depois que aprendi a não levar futebol a sério (a não ser que eu vivesse dessa prática esportiva), percebo que o que faz um povo ter orgulho de seu Estado não é ser bairrista no esporte, mas no civismo, na política, o verdadeiro lugar onde se podem operar as mudanças necessárias a um povo. Não adianta tapar o sol com a peneira, fazer “bico doce” para o Flamengo ou qualquer outro grande clube apenas para dizer que temos tanto orgulho de sermos alagoanos que, aqui, não se torce para time de fora. Puro exagero! E aí? O que é que vamos ganhar com isso? O reconhecimento da imprensa carioca ou paulista que vai voltar impressionada com Alagoas? Claro que não! Alagoas não vai mudar a sua imagem por conta de uma partida de futebol. Nem o ASA sendo campeão da primeira divisão mudaria alguma coisa. Ora, até 1994 o Brasil já havia ganho quatro copas e, na esfera política, não era tido como um país sério e decisivo, contudo, após a arrumação econômica iniciada na data acima citada, passamos, de uns quatro anos para cá, a atuar no cenário político internacional com desenvoltura. Isso, sim, é que faz a diferença e, não, ficarmos mendigando reconhecimento ou fidelidade em entretenimento esportivo.

Enquanto se cobra uma torcida pelo Murici, por que não cobrar uma torcida por Murici? A ESPN Brasil (canal esportivo de tv por assinatura) esteve lá e fez uma reportagem sobre a cidade de lona em que vivem os moradores vítimas da cheia. Dentro de cada cabana daquela, segundo depoimento de uma entrevistada revoltada com o abandono em que se encontravam, a temperatura pode chegar a 58 graus, de acordo com uma medição que foi feita recentemente! Portanto, a imagem que foi levada de Alagoas, como já é de costume, meus caros, foi essa. Flamengo, Murici, ASA, Sport, são detalhes de somenos importância dos quais podemos viver sem eles, contudo, dignidade, essa não vivemos sem. Enquanto estamos indiferentes com esses desafortunados da sorte que vivem em cabanas, esforçamo-nos em discussão sobre se não era melhor ter torcido pelo Murici, enquanto o Brasil, por meio da reportagem, via a nossa indiferença com a Murici. Quanta inversão de valores!

O esporte aproxima os povos em virtude do idioma comum que adota e a sua plasticidade deve ser admirada independente de quem está se apresentando, pois é o gênero humano quem está na berlinda. É preciso assumirmos uma visão planetária quando o assunto for cultura e esporte. Sinto saudade de quando o europeu aplaudia as jogadas de efeito da seleção adversária. Sinto saudade de uma época em que o drible era encarado como talento e não como deboche. Garanto que se Alagoas fosse um Estado forte na federação, pouco ligaríamos para o fato de termos conterrâneos admiradores do Flamengo, torcendo contra o ASA, o CRB, o Penedense, etc., etc.; no máximo, “tiraríamos uma onda”, o que nos mostra que o problema é tão somente de uma auto-estima avariada. Observe em Porto Alegre. O torcedor do Grêmio torce a favor de qualquer time que venha a jogar contra o Inter, pois não é o Rio Grande do Sul que está em discussão. Isso é apenas um jogo de bola! Toma-se partido apenas de um clube e não de um Estado ou de um determinado povo.

Nesse sentido, todos nós temos o direito de admirarmos quem quisermos. Temos nossos motivos para torcermos por nosso clube, seja ele qual for, e o motivo vai desde ao fato de ser o único time da cidade (como é o caso do Penedense), até à história de glórias e estilo de jogo atraente que o time detém (como é o caso do Barcelona). Infelizmente não há no cenário alagoano times que despertem paixão a ponto de ultrapassar as fronteiras de seu próprio município, ao contrário dos grandes times nacionais que fizeram por merecer esta admiração. São detentores, muitos deles, de títulos continentais e até do sonhado título mundial. Foram e são passarela de grandes jogadores, alguns, verdadeiros artífices da bola, como é o caso de Pelé (Santos), Ronaldinho Gaúcho (Grêmio e Flamengo), Ronaldo Fenômeno (Cruzeiro e Corinthians), Rivaldo (Corinthians), Romário (Vasco e Flamengo), e tantos outros.

Um fato despercebido por nós é que, há mais ou menos 25 anos, nossa opção televisiva era tão somente a Globo e a Bandeirantes. Desse modo, o campeonato carioca era a grande atração, depois do brasileiro, daí a grande preferência do nordestino pelos times do Rio de Janeiro, sem falar que transmissões de jogos de times locais somente vieram a acontecer há pouquíssimos anos e, no entanto, a maioria dos torcedores é forjada em frente ao televisor e não no estádio de futebol.

Não se enganem aqueles que acreditam que em Salvador, Recife e Fortaleza é pequeno o número de torcedores de Flamengo, Vasco e Corinthians, e a explicação para isso é, por um lado, a inexpressividade dos times destas cidades e, por outro, a história de glamour dos verdadeiros grandes times brasileiros. É lamentável que cidades tão grandes e com poder econômico inegável como estas tenham times tão pífios e tão sem importância no cenário nacional (Sport, Santa Cruz, Náutico, Bahia, Vitória, Fortaleza e Ceará), frequentadores assíduos da 2ª, 3ª e, agora, da 4ª divisão, como é o caso do Santa Cruz. Tiremos estes times “de faz de conta” da história e somente três títulos serão suprimidos e, ainda assim, um desses títulos (o do Sport) é altamente questionável como é de conhecimento geral.

Se naquele jogo entre Murici e Flamengo era para termos vergonha de alguma coisa, miremos nossos canhões para banda alagoana que executou o Hino Nacional. Parecia uma banda de pífanos em que só sobressaía o som de um clarinete, deixando no ar uma melodia aguda, fanhosa que mais lembrava um pato gripado. Disso ninguém falou.
O fato é que cada dia mais receio por Alagoas, pois quando o futebol passa a ser tábua de salvação para o orgulho de um povo, é sinal de que esse povo já não tem muito a oferecer.


 

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  • alienado Então a vergonha é valorizar sua origem e ter o mínimo de noção do ridículo? Copa do Brasil, é disputada pelas melhores equipes de cada estado da federação, ou seja os estados membros medindo força. Não é questão de despertar um sentimento por um clube local e sim de fazer uso da musa razão. Para o Flamengo foi apenas mais um partida, para o Murici era o inexpressivo clube alagoano enfrentando um titan do futebol. Aí quando temos oportunidade de mostrar um pouco de nosso valor, apresenta-se uma submissão degradante, resquício da cultura colonial. Talvez, se nosso futebol fosse bem sucedido não devêssemos ter essa preocupação, entretanto temos um esporte ofegante, reflexo de nossos fracassos em outros meios, como econômico, social, político...E eu como jovem ainda carrego esses devaneios, de poder mudar essa triste realidade de meu estado e pode crer não me atenho ao futebol. O pior de tudo isto é a facilidade de dominação por parte das grandes forças de mercado -futebolístico, neste caso- em relação aos tabaréus que acreditam por exemplo na balela de\\\"times nacionais\\\", \\\"nação rubronegra\\\". O sucesso desse grupo restrito de clubes grandes, representa a decadência das equipes regionais, são os agentes de mercado desprendando o indivíduo de suas origens afim de atneder seus mais sórdidos interesses.
  • Aronaldo Júnior Parabéns João, comentários como esse devem esclarecer a mente de quem ainda está com dúvidas. Muito sábias suas palavras. ...e Flamengo é Flamengo!!!
  • Boleiro Bem, face a todo o exposto, não há o que se comentar.. Resta-me dizer: Parabéns!
  • Ricardo Teixeira Quam disse que a Copa do Brasil convoca o representante do Estado? Ela reúne os campeões e isso não quer dizer, de forma alguma, que seja o representante do Estado, a não ser que se diga que representante é o que se credenciou por ter sido campeão. Contudo, dizer que o jogo entre Flamengo e Murice foi um confronto entre Alagoas e Rio de Janeiro é ridículo. Esse tipo de confronte só pode haver no caso de seleção alagoana x seleção carioca, aí, sim, é possível. Dizer que o Inter foi o Brasil em Tóquio, no Mundial, é outra balela. Tanto é balela que há jogadores da seleção brasileira que já jogaram contra time brasileiro na final do mundial. Venhamos e convenhamos, o cara que escreveu nesse artigo colocou um ponto final nessa questão. Fui!!!
  • Ricardo Nem li. Se esse texto todo foi pra defender os mistos, você simplesmente se passou por ridículo.
  • justiça na verdade muitos alagoanos tem vergonha de mostrar suas origens , deviamos apoiar o murici , mas infelizmente , deram valor a um time de fora que é o flamengo, mesma coisa seria se o penedense jogasse com o flamengo em penedo , seria lotado de torcedores do flamengo oq seria uma vergonha pra todos os penedenses , ams infelizmente é assim a mente alienadade muitos , que o sistema capitalista nos impõe .
  • silvio leite borges Infelizmente ainda, são com esses pensamentos, nós Alagoanos ,como povo provinciano, diferentes de mentes mais evoluidas e estados mais desenvolvidos, como Pernambuco, Bahia e Ceara, que valorizam o que tem, independente de qualquer divisão, está ai o Santa Cruz, que coloca 50 mil torcedores serie D.meu unico time CRB.
  • Marcelo M. A. João Pereira parabéns pelas palavras! Agora sobre banda que executou o hino do Brasil, diga-se de passagem, possui músicos consagrados em todo o nordeste. O que deve ter acontecido é que o cidadão que estava com o microfone que com certeza é um insipiente da música colocou-o perto dos instrumentos de palheta, por isso é que tivemos a impressão de uma melodia aguda.
Maria Núbia de Oliveira

Maria Núbia de Oliveira

Escritora e poeta, integrante da Academia Penedense de Letras

Postado em 16/02/2011 09:24

O Vaga-Lume

Estava na penumbra do meu quarto, quando, um pontinho luminoso começou a passear em volta de mim. Apurei a vista e percebi que era um vaga-lume, vagando em torno da própria luz. Foi o suficiente para que eu iniciasse alguns questionamentos, um tanto infantis: a luz que ele carrega, tem alguma bateria? Ao morrer, a luz se extinguirá de imediato? O que provoca aquela iluminação tão linda e incandescente? Quem ele chama, quando pisca tanto?

E ele continuava lá. Piscando, iluminando, brincando de esconde-esconde, aparecendo em um lugar, reaparecendo em outro. Ganhei um tempo enorme com o meu pequenino vaga-lume, que me oferecia seu jatinho de luz, brincando com os meus olhos e tentando me dizer, que ele, apesar de pequenino, tem o dom de quebrar a escuridão...

Houve um momento em que o meu pequenino vaga-lume espaçou o tempo da iluminação. Fiquei esperando, procurando, atenta ao reaparecimento da luz. E ela retornou, mais forte! Certamente foi reabastecer as energias para iluminar melhor! Foi mais uma lição que aprendi: em alguns momentos da nossa vida, precisamos parar e nos afastar do burburinho para abastecer o nosso espírito! Com certeza retornaremos mais fortes, com a luz incandescente, ou seja, em brasa!Deus vomita quem é morno!

Que bom seria, se cada um de nós, se tornasse um vagalume e fosse por aí, na escuridão, levando a luz, iluminado e iluminando as noites escuras da vida, dissipando trevas.
Que bom seria se nos transformássemos em vaga-lume, fizéssemos uma greve de união iluminada, juntinhos, de lanternas acesas... Não precisaríamos nos preocupar com as trevas...

Ser luz, é ser caminho aberto para o outro. Ser luz é dissipar as trevas.É ir à frente, com a lanterna acesa. sem a pretensão de destaque. Unicamente com o objetivo de iluminar o caminho do outro...

E como o vaga-lume que nasceu para vagar iluminando, também nós, nascemos para uma missão: levar a luz da Palavra do Senhor, aqui e ali. E um dia, todos juntos formaremos uma só luz!

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  • Marcelino Cantalice braços. Do: Marcelino
  • Neuza Achei lindo a comparação que voce fez do vagalume com o ser humano. Mais hoje as pessoas preferem andar na escuridão...porque eles acham que na escuridão podem fazerem tudo sem serem visto......mas.......Deus tudo ve. Beijossssssssssssssssssssssssss
  • Francisco Araújo Mais uma vez, belíssimo texto Núbia. Parabéns.
  • Neuza Achei lindo a comparação que voce fez do vagalume com o ser humano. Mais hoje as pessoas preferem andar na escuridão...porque eles acham que na escuridão podem fazerem tudo sem serem visto......mas.......Deus tudo ve. Beijossssssssssssssssssssssssss
  • Marcelino Cantalice Companheira Núbia: paz e bem ! A sua \\\"luz\\\", hoje, chega com muita modéstia: um simples vaga-lume... Mas o seu jeito criativo tem condições de transformar um pequenino inseto (o vaga-lume) num \\\"luzeiro\\\"... Vale a analogia e a criatividade. Gostei. O importante é ser luz... Há tanta ncessidade de luz.... Daí a preciosidade da pequina luz do vaga-lume... Quem dera que, cada pessoa, fosse - ao menos - um vaga-lume ! A suas reflexões são válidas e hão de iluminnar muitas mentes. Parabéns ! Do: Marcelino.
  • AMIGA SUA Lindo seu poema . Essa pequenina luz, que vc compara com o ser humano .Tornando uma pequenina luz em um luzeiro .Precisamos de muita LUZ. PARABÉNS PELO SEU TEXTO LINDÍSSIMO,