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Augusto N. Sampaio Angelim

Augusto N. Sampaio Angelim

Juiz de Direito em Pernambuco, apaixonado por Penedo

Postado em 01/05/2011 12:12

Aurélio Buarque de Holanda e as fateiras de Passo do Camaragibe

leoiran.blogspot.com
Aurélio Buarque de Holanda e as fateiras de Passo do Camaragibe

Na bela paisagem da zona da mata alagoana, nas proximidades do exuberante litoral de águas mornas e cor que varia entre o verde e o azul, vou cavalgando sobre o cavalo de uma pousada de Passo de Camaragibe. Levo sobre a sela de “Dourado”, a pequena Maria Laura que não esconde sua alegria. À nossa frente, noutro cavalo manso, segue “Quatorze”, um simpático caboclo alagoano que leva consigo Heitor, o meu caçula. Entre risadas e explicações, descemos morros e admiramos os pedaços de mata atlântica do local e o gado nelore que ponteia a pastagem.

Pegamos uma trilha que beira o rio Camaragibe e observo que seu curso é inesperadamente vigoroso. Tortuosamente, segue em velocidade em busca de sua foz. Às suas margens, encontramos homens pescando, crianças se banhando e, há menos de duzentos metros da pitoresca ponte que dá acesso à Cidade de Passo de Camaragibe diz que vamos voltar. Não Quatorze, quero passar pela ponte, lhe digo.
A ponte é bem estreita e até parece que foi construída por uma criança, tão graciosa e infantil se parecem suas paredes pintadas de amarelo e azul, formando uma espécie de adorno impensável para uma ponte dos dias atuais. Foi doada ao povo de Passo de Camaragibe na administração de Fernandes Lima, em 1921.

Meio, sem querer, Quatorze diz: “tão tratando fato”. De início não compreendi o que ele falava, mas, aguçando os sentidos e olhando em frente, percebo os sinais da degradação. É que, estando o matadouro da cidade interditado, as fateiras, pessoas que tratam de limpar as vísceras dos animais abatidos, realizam o serviço ali mesmo na beira do tolerante Rio Camaragibe. Resolvo, então, até mesmo pelo mau cheiro, seguir os conselhos do caboclo e damos meia-volta. Mesmo assim, vejo que, na outra margem do rio, uma senhora lava suas panelas nas mesmas águas.

“Mas Quatorze, e ninguém toma uma providencia contra uma coisa dessas?”.
O bom matuto coça a cabeça, demonstrando preocupação e diz, bem baixinho:
“A Promotora deu três meses”.

“Três meses para quê?”.

“Sei direito não, doutor, mas parece que foi prá acabar com isso ou fazerem um matadouro”.
“Faz quanto tempo que ela deu essa ordem?”

“Não sei, mas já faz um tempo. Será que os meninos num querem espiar aquele cavalo novinho, brabo que só. Ainda não foi nem castrado. Àquele todo preto que tá sozinho lá no cercado", desconversa o guia.
“É, acho melhor”.

Tocamos nossos cavalos e vamos espiar a valentia do ainda indomável cavalo novo, que, ao perceber nossa presença corre de um lado a outro, com sua crina negra caindo sobre seus olhos. Os meninos enchem os olhos de felicidade.

Num site da Prefeitura Municipal consta que, seu filho mais famoso é Aurélio Buarque de Holanda, filho de Manuel Hermelindo Ferreira e de Maria Buarque Cavalcanti Ferreira e que viveu em sua terra natal durante sua infância, e parte da adolescência, tornando-se escritor, crítico literário, tradutor, lexicógrafo, filólogo e sinônimo de dicionário, acrescentando que pretende fazer a divulgação desse patrimônio cultural como forma de incrementar o turismo na cidade. É uma boa ideia e deve ser levada adiante, mas é bom que a edilidade de Passo de Camaragibe cuide melhor das condições sanitárias de seu povo, para não envergonhar Quatorze e nem constranger seus visitantes.

A propósito, na minha infância, entre os anos 60 e 70, não haviam preocupações ambientais e nem sanitárias, e uma das coisas que me recordo era do encontro semanal das fateiras, por trás de um chafariz da cidade, no qual, conversando, cantando e falando mal da vida alheia, as fateiras iam limpando as vísceras que, depois de secas, formavam as gostosas tripas salgadas vendidas na feira livre. Ao lado das fateiras, sempre, pela abundância de comida, sempre tinham os cachorros e quando se queria dizer que alguém era mentiroso, falavam assim: “mente mais que cachorro de fateira”. As fateiras de hoje, mesmo sem leitura, sabem que sua atividade pode provocar problemas com a vigilância sanitária, principalmente quando o serviço é feito de forma inadequada, por isto que as de Passo de Camaragibe ficam escondidas numa encosta do rio, recoberta por frondosas árvores, mas, toda gente de lá deve saber do fato. Mas, pelo visto, ninguém denuncia o fato à Promotoria.
 

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Isabel Cristina Medeiros de Barros

Isabel Cristina Medeiros de Barros

Clínica Geral com Pós-Graduação em Medicina do Trabalho

Postado em 27/04/2011 12:05

Faltam médicos ou falta vergonha política?

Ouvimos muito nos meios de comunicação e da população em geral, reclamações sobre a falta de médicos nos serviços públicos, e isso se confirmou através de uma pesquisa realizada pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) em 2010, onde a falta de profissionais médicos foi mencionada como o principal problema do sistema de saúde no Brasil por 58,1% dos entrevistados, enquanto o tempo de espera para conseguir atendimento nos serviços de saúde, foi apontado por 35,4% e a demora para conseguir consulta com médicos especialistas, por 33,8%.

Apesar de ser a principal queixa da população, o CFM (Conselho Federal de Medicina) afirma que não existe falta de médicos no Brasil, pois em 2010 foi realizado um levantamento e observou-se que o numero de médicos no País aumentou 27% entre 2000 e 2009, enquanto a população brasileira cresceu 12% no período. O resultado indicou que existe um médico para cada 578 habitantes, mas mostrou também que apesar de não faltarem médicos, eles estão concentrados nas regiões Sul e Sudeste e nas capitais dos estados, por isso a carência no nordeste, principalmente fora das capitais.

De acordo com o CFM os problemas indicados pelos entrevistados se devem a deficiência de financiamento e ausência de políticas publica efetiva para a área de saúde. A entidade relata que os gestores do SUS, em todos os níveis, falham em apresentar soluções para a contratação de profissionais de saúde, especialmente da Medicina, garantindo-lhes remuneração adequada e condições de trabalho dignas. Este quadro se apresenta mais preocupante em nossa região, onde ocorre a má aplicação desse financiamento, já deficiente, o que torna a fixação desse profissional quase impossível.

Enquanto os gestores municipais, estaduais e federais continuarem SEM VERGONHA de pagar R$1.000,00 a R$2.000,00 de salário base para o Médico exercer 40 h. de trabalho e fazer milagres no atendimento aos pacientes em serviços de saúde sucateados e onde “falta tudo”, a população vai continuar reclamando da FALTA DE MÉDICOS, pois os gestores “FAZEM DE CONTA” que os médicos trabalham 40 h. com o salário vergonhoso que pagam, e os médicos “FAZEM DE CONTA” que trabalham as 40 horas com o que recebem, enquanto estão em três empregos no lugar de um, pensando se valeu à pena estudar tanto, passar seis anos numa faculdade, mais dois à quatro anos se especializando, e como recompensa se “dividir em três” para receber “um salário”! Além disso, a classe médica aguarda há anos a regulamentação da Emenda Constitucional 29 que cria a carreira do médico dentro do SUS e determina um piso salarial decente! Infelizmente esse direito conseguido por outras carreiras há anos como, por exemplo, o judiciário, para os médicos é uma espera de sete anos, ainda sem conclusão.

Diante disso tudo não é incomum ver um médico aos oitenta anos ainda em atividade, pois a maioria continua trabalhando para sobreviver na velhice, resultado dos salários, de “VERGONHA”, que receberam a vida toda, e que não resultaram numa aposentadoria decente e no descanso merecido! Então se eu sobreviver aos meus inúmeros empregos e a minha saúde permitir, me procure no consultório daqui a vinte e cinco anos!!!

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  • Rosineide Dr. Isabel adorei essa matéria, na minha opinião falta vergonha ,falta caráter,falta consiencia, agora o que os maus políticos tem de sobra é granancia pelo poder e pelo dinheiro público que alíais é do povo, as vezes eu fico pensando será que os maus políticos pensar que lá no inferno tem caixa eletrónico para saqua o dinheiro que rouba do povo.pois não tem não lá tem é muito fogo esperando por voces corruptos.
  • Gineide Parabéns pelo seu artigo! Precisamos avaliar essa realidade, e projetar o q queremos para o futuro. Quando esse descaso com os serviços públicos acabarão? Todas as áreas estão na UTI, sáude, educação, segurança... até a ECT , os correios, que já foi uma empresa pública q ofertava um serviço de qualidade para a população, hj é só desastre, atraso, extravio de correspondências, funcionários sem condições de trabalho, sem segurança para exercer sua função, etc. Quais as causas de tamanha ingerência nos serviços públicos? CORRUPÇÃO! É UMA VERGONHA!
  • VALQUIRIA NOBRE ÓTIMO TEXTO DR. ISABEL CRISTINA, Q POR SINAL É UMA EXCELENTE PROFISSIONAL , ASSIM COMO ALGUNS EM NOSSA CIDADE, PESSOAS Q FAZEM DA PROFISSÃO UMA MISSÃO DE AJUDAR AO PRÓXIMO COMO É O EXEMPLO DAQUELE ANJO \" DR. RAIMUNDO\" Q ATENDE A TODOS COM A MAIOR PRESTATIVIDADE, Q MESMO SEM TER CONDIÇÕES E SALÁRIOS DIGNOS DO TAMANHO DA RESPONSABILIDADE DE VCS, SE DOAM AO MÁXIMO E AJUDA A TODOS. PORÉM ACHO Q O TÍTULO DE SEU ÓTIMO TEXTO DEVERIA SER \" FALTAM MÉDICOS, VERGONHA POLÍTICA OU VERGONHA DO ELEITOR? É PQ QUANDO O POLÍTICO É ELEITO PELA 1ª VEZ E ENGANA, AÍ SIM O ELEITOR Ñ TEM CULPA, MAS QUANDO DETERMINADO POLÍTICO PASSA OS 4 ANOS MENTINDO, ENGANANDO, FAZENDO DE CONTA Q ESTA TRABALHANDO COMO É O CASO DE NOSSO GOVERNADOR E O POVO AINDA VOTA EM UM HOMEM DESSE, ENTÃO EU ACHO Q O DEFEITO ESTA NA POVO. VAMOS REZAR E TORCER Q UM DIA ESSA TRISTE REALIDADE MUDE..
  • Eliene Mello Parabéns pelo texto, é triste mais é a realide do nosso estado. Mas o que está faltando mesmo é consciência dos eleitores na hora de votar. E vergonha na cara desses políticos. Que rasga a \"Contituição\", a todo momento, sem que nada seja feito. Porque a lei está do lado deles. Vejo a política de Alagoas, como uma grande teia de aranha, onde ninguém que mexer para não ser preso por ela, nem desmanchar e ficar sem proteção, sem poder, sem saquear . Eliene.mello.
  • geraldo cavalcante Nenhum Presidente chegou lá a não ser colocado pelo povo, indiretamente os minitros idem, aplica-se a mesma coisa para Governador, Prefeitos, com seus secretários. Eles tem que agir de acordo com o povo, e o povo quer moleza, quer tirar vantagem em tudo (lei do Gerson). Imagine na area de saúde , os Medícos e Dentistas tivesse que cumprir a sua jornada de trabalho, seria uma verdadeira calamidade, ninguem iria aceitar uma barbaridade dessa. Não são os políticos , somos nós, eles dançam comforme a musica. que nós tocamos para eles.
Públio José

Públio José

Jornalista, publicitário, escritor e atento observador da vida

Postado em 23/04/2011 11:04

Olhai os lírios do campo

Esta é uma das citações mais conhecidas da Bíblia. Faz parte de um dos mais belos momentos vividos pelos discípulos na companhia de Jesus. A essência de seu discurso envolvia a questão da ansiedade das pessoas, já naquele tempo, com a sobrevivência, com o vestir, o ter, o exibir. Na sua palavra, Jesus exortava os presentes no sentido de não se angustiarem tanto com as necessidades do dia a dia. Muito sabiamente, Jesus já preparava as pessoas daquele tempo – e dos tempos atuais – a respeito da importância de preservar sua qualidade de vida, não permitindo a ocupação da mente com pesos em excesso nem com uma configuração de vida super avaliada nas coisas materiais. Aliás, Jesus também deu uma certa importância às demandas materiais de nossas vidas, deixando bem claro, porém, de que nossa preocupação com essas coisas deveria caminhar até um certo limite. A partir daí...

As palavras de Jesus lastreiam também uma afirmação de fé. No momento em que fez essa afirmação era verão na Palestina e nos campos, rigorosamente, não havia lírio algum. Jesus tencionava, assim, puxar pela mente das pessoas, fazendo-as lembrar de que, apesar da geografia árida, seca que elas tinham diante de si, existia sempre a perspectiva de um tempo de beleza, de fartura, de provisão. Ou por outra: mesmo quando a vida está em baixa, com predominância da dor, da incerteza, da amargura, existe sempre a perspectiva de surgir o outro lado da medalha. E, através da fé, um novo tempo poderá ser alcançado. À frente de Jesus as pessoas estavam confusas. Como enxergar lírios belíssimos, de uma textura luxuriante, em meio à secura de um período de verão? Ou como enxergar uma nova realidade de vida diante da escravidão materializada na presença do senhorio romano?

“Olhai os lírios do campo!” Ao fazer tal afirmativa, Jesus queria enlarguecer nossa visão, ampliar nossos horizontes. Sabe-se que no campo existem armadilhas contra a vida. As aves de rapina, os répteis, os rigores do inverno, o calor inclemente do verão. Os predadores, os animais de grande porte, as ervas daninhas... Apesar disso tudo, os lírios também surgem, emoldurando com sua beleza uma nova realidade. O problema é quando o campo – em síntese, na ótica de Jesus, uma alegoria da vida, do mundo – é visualizado somente através das grossas lentes do negativismo gratuito. Apesar de todas as adversidades da vida, há sempre a presença de algo belo a ser visto, focalizado, priorizado. E que, diante de um vastíssimo leque de sentimentos que a vida nos impõe, tais como o egoísmo, o individualismo, a soberba, a arrogância, há sempre a chance de cultivarmos o belo, o frutífero, o substancial, o edificante.

Ao que tudo indica, a planta que Jesus nomeou em seu discurso como lírio é hoje conhecida com o nome científico de “anemone coronária”. Tinha uma haste de uns 40 centímetros e pétalas vermelhas, púrpuras, azuis, róseas ou brancas. Como se vê, algo de uma beleza realmente estonteante em meio à aridez do solo palestino. Segundo relatos históricos era uma planta de floração comum na região, florescendo próxima ao tempo da colheita do feno. Devido à sua beleza, já era usada em larga escala na decoração dos ambientes requintados, bem como nas casas simples dos moradores do campo. Era, por assim dizer, um referencial de beleza, de nobreza, de excelência decorativa. Uma planta que realmente fazia a diferença. É nesse ponto que quero destacar o eixo sobre o qual gira o ensinamento de Jesus. Fazer a diferença. Priorizar sentimentos nobres sobre o negrume dos valores cultivados atualmente.

Há momentos na vida em que a mente se fecha. O horizonte divisado vai somente um pouco além das agruras do dia a dia. O belo da vida se perde diante da feiúra do contexto da existência. É preciso romper essa linha divisória que demarca a tristeza da alegria, a angústia da paz, o caos da ordem, da serenidade, da esperança. Quando o campo da existência está recheado de abutres, répteis e ervas daninhas, é necessário se crer que, mesmo num campo assim, a semente do lírio está lá, latente, pronta a brotar – a se fazer presente. A irradiar a vida com a variedade de suas cores, a emergir bela, firme, altaneira em meio à aridez da geografia social da atualidade. “Olhai os lírios do campo” é em sua essência uma receita inteligente de vida. Ou por outra, uma concepção ideal de vida para quem deseja enxergar a realidade atual como algo mais do que um mero passar de dias. Vai olhar?

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  • Livia Maria Costa Muito bom o texto, parabéns!!!
  • MARIA NÚBIA DE OLIVEIRA \\\" Se dos lírios cuidas meu Deus, cuidas de nós , teus filhos!\\\" O Lírio é uma forte referência. Frágil e de um perfume peculiar, lembra Maria a Mãe de Jesus; José o esposo casto, Santo Antônio tem como símbolo, um lírio. Santa Maria Gorett, tem um lírio nas mãos. simbolizando a pureza. Enfim o lírio está presente em todos os momentos fortes da vida dos santos e principalmente de JESUS CRISTO, o tomou como exemplo para dialogar com os apóstolos. O lírio é belo, perfumado. Surge da terra e sua missão é perfumar e embelezar os olhos dos que o vêem. PARABÉNS PELO PROFUNDO TEXTO!
  • Zuildson Ferrreira Alves Algo de complexo.Inimaginável está por trás do simples \\\\\\\"passar dos dias\\\\\\\".Já pensou estar viajando e sem a mínima conscência de onde e para onde.Assim somos nós,seres humanos.Fomos jogados aqui.Entre bilhões de estrelas e milhares de galáxias.A terra, um simples grão de areia na imensidão do Cosmos.Aqui estamos e nem ao menos fomos consultados se queríamos estar.Apenas existimos.Os acontecimentos do dia a dia, os fatos, praticamente nos impedem maiores reflexões mas como nos diz o autor, em um belos texto,\\\\\\\"olhai os lírios do campo\\\\\\\".as belezas naturais.A solidariedade entre as pessoas, o amor ao próximo e aos animais.É terrível mas o que está por trás de tanta miséria,tanta violência.\\\\\\\"Olhai os lírios do Campo\\\\\\\".Parabéns!!! Zuildson,Vila Velha/Es.
João Pereira

João Pereira

Advogado, escritor e atento observador da política

Postado em 20/04/2011 12:00

Se Sergipe pode, por que não pode Alagoas?

O pleito salarial dos servidores estaduais que está a desenrolar-se, dificilmente não buscará no Estado de Sergipe um paradigma para balizar o teto de suas reivindicações, especialmente na Polícia Militar. Não será bom para o Governo de Alagoas, sempre alagado em lágrimas de crocodilo e falsas lamentações que, o têm tornado, por anos seguidos, surdo, mudo e insensível às justas aspirações do funcionalismo.

No mundo competitivo em que vivemos, o inferior quando deseja galgar ao patamar onde se encontram os de nível superior, espelha-se nas boas qualidades e parte para transformar seu desejo em realidade. A competição não existe apenas no nível individual entre as pessoas, mas entre países, estados da federação e cidades. Por exemplo, histórica é a rivalidade entre Sergipe e Alagoas e suas respectivas capitais. Entre os dois estados, qual a nota de cada um? Basta dizer que Sergipe, há muito anos, ostenta a melhor renda per capta do nordeste.

Como gostaríamos de ver Alagoas despertar do torpor que o acomete por tantas gerações, procurasse alçar vôos mais altos e deixasse de ver refletida em si mesmo a imagem de penúria que o coloca na rabeira dos demais estados. Frente a essa triste realidade, sentisse vergonha, sacudisse a poeira e os nossos políticos, sentindo o peso da culpa, fossem tocados pela graça do milagre, fizessem por Alagoas juras de amor e prometessem de fato todo o empenho para erradicar-lhe sua endêmica miserabilidade. Como seria extraordinário!

Existe uma piada na qual Deus distribuiu para cada país vantagens e desvantagens, sendo estas em quotas de calamidades naturais. Chegada a vez do Brasil, achou por bem livrá-lo da fúria da natureza, dando-lhe como compensação um exército de corruptos e ladrões. Será que Deus foi bonzinho com o Brasil? Bem, as calamidades são passageiras e danos materiais reparáveis, ao passo que os nossos políticos são permanentes, eternos e irrecuperáveis. Será que Deus fez o mesmo com os estados do Brasil? Tudo indica que sim. Com referência a Alagoas, por exemplo, deu-lhe as mais belas praias do Brasil, privilégio que por si só seria suficiente para pô-lo no topo do crescimento, com a exploração do turismo, atividade que mais gera renda e emprego em todo o mundo. E como anda nesse setor? Engatinhando. Por que? Acontece que do outro lado da moeda, Deus castigou Alagoas, dando-lhes proporcionalmente ao seu tamanho um considerável contingente de políticos corruptos, verdadeiros bate-estacas que afundam o estado, corrompem e emperram a máquina administrativa, gangrena o corpo sadio de Alagoas e jogam na completa escuridão as mais belas e acalentadas esperanças dos alagoanos.

Vamos às expectativas do funcionalismo. Por antecipação, sabemos que o Governador Vilela, o Senhor Balela, nas negociações salariais, virá com a mesma choradeira, a surrada desculpa da falta de recursos financeiros e o respeito à Lei de Responsabilidade Fiscal. Até quando perdurará essa desculpa? Quando os servidores poderão nutrir a esperança de um reajuste digno? Alguma providência está sendo tomada para corrigir as distorções que impedem atender condignamente a demanda do funcionalismo? Afinal de contas, em que causa ou causas se centram as dificuldades financeiras? Queda na arrecadação do ICMS? Não. Nunca o Estado de Alagoas arrecadou tanto. O que será então?

Sob o aspecto comparativo com Sergipe, chama-nos a atenção a reivindicação da Polícia Militar que tem atualmente um piso salarial de mil e quinhentos reais. Está pleiteando um de dois mil e oitocentos reais, mesmo assim inferior ao de Sergipe que é de três mil e quinhentos reais. Por que Sergipe pode e Alagoas não? E a educação, como está? Em termos salariais, já foi uma das melhores do Brasil. E as condições de trabalho? Nada elogiável. Acrescentando-se a isso as perdas salariais e a falta de professores, o quadro da educação no estado pode ser definido como de abandono. O que podemos dizer de um governo que relega, deixa ao descaso a educação, quando todos sabemos ser o principal fator para o desenvolvimento em todas as áreas da atividade humana? Não vamos desgastar os adjetivos, mesmo sendo os piores.
Como é irritante e desconfortável ler nos jornais ver e ouvir o noticiário televisivo sobre Alagoas!

Sentimos uma sensação de vazio e abandono, desconsolo e tristeza que resultam em depressão e um tormento para o espírito. Não é que não existem as boas coisas, mas são tão poucas que quase não as percebemos, diluídas e perdidas que ficam na imensidão de um mar revolto de calamidades. Não devemos, no entanto, abdicar do otimismo, mesmo diante dessa paisagem desoladora da Terra do São Nunca. Acender-lhe a chama, sem dúvida, está mais para um ato de fé do que uma crença racional de que venha ocorrer, a médio prazo, uma regeneração, uma nova mentalidade entre os nossos políticos individualistas, rudes e historicamente retrógrados. Em Sergipe, os políticos divergem, o que é muito natural, mas convergem em bloco, quando está em jogo o interesse do estado. Eis um importante diferencial, razão porque afirmamos que enquanto não houver uma mudança na visão político-administrativa dos nossos representantes, Alagoas, por mais que se mire no espelho de Sergipe, só verá dentro de si mesmo, com escancarada nitidez, toda a sua miséria e mediocridade.
 

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  • eliene mello Parabéns! Alcides, seu desabafo é o de todos os professores, que vive insatisfeitos com o descaso dos nossos governantes, que faliram a educação, adoeceram os profissionais. Deixam o nível de analfabetismo crescer e ficam na mídia com cara de paisagem, explicando o que não tem explicação.
  • Refugiado Parabéns Dr. João pelo belo texto! palavras sábias que sintetizam o repúdio de um povo ávido por dias melhores. No entanto, vale salientar que este mesmo povo foi responsável pelos políticos que hoje se encontram no poder zombando de Alagoas. Oh vida! oh céus! oh azar!!
  • Paulo Roberto Pelo que estes professores fazem, eu acho que eles estão ganhando até demais. Sãoprofessores faltosos, preguiçosos que não tão nem aí pra os alunos, só falam em aumento de salarios. Parasitas!!!!!!!
  • eliene mello Por favor desculpe-me, pela troca dos nomes no início do comentário. Parabéns! Realmente a máquina administrativa do estado vem tratando a educação com muito descaso.
  • Silvio Gomes O castigo que DEUS deu a ALAGOAS, foi ter os piores políticos do Brasil, sempre reeleitos, por todas as camadas sociais.
  • Elusival Silva Santos Enquanto o Governo de Alagoas anuncia apenas 5,91% de reajuste para servidor público, publica no DOE de 16/04/2011 (sábado!!) diversos decretos de nomeação para cargos comissionados, em consonância com a bendita Lei Delegada nº 44 aprovada em abril/11 pela ALE. É uma festa, todo dia tem nomeação!
Alcides Regueira Lucena

Alcides Regueira Lucena

Professor e Historiador, com pós-graduado em Gestão Educacional

Postado em 18/04/2011 09:33

Penedo: 451 Anos de Luta

Falar sobre a história de Penedo é algo muito valioso para mim, que sou um filho deste ilustre chão brasileiro. Nossa cidade de acordo com o historiador penedense, Caroatá, em pesquisa realizada no Convento de Iagarassú-PE, no seu livro, Crônica do Penedo, p. 14 nos relata “que Duarte Coelho Pereira teria saído em uma viagem em 1545 para explorar a costa sul de sua capitania e em 10 de outubro do corrente ano adentrou nesse majestoso rio limite de suas terras, o qual os indígenas denominavam de OPARA”.

Por sua vez, Craveiro Costa, em seu livro História das Alagoas op. Cit. p.14 comenta: “no penedo que aí se encontra à margem esquerda do Rio São Francisco fundou uma feitoria para a vigilância do gentio, a qual foi a origem da atual cidade do Penedo”, referindo-se à viagem feita por Duarte Coelho de Albuquerque em 1560, que aqui chegando fundou uma Feitoria. Este fato foi confirmado por Frei Jaboatão em um artigo na revista IHGA. Nº XXV. Ano de 1947, p. 16 que comenta “que os irmãos Albuquerque andaram em sua viagem, em 1560, restaurando algumas povoações, que já havia, e levantando outras as margens do Rio São Francisco”. Diante destas afirmativas considero a data de 1560 como a fundação oficial desta cidade.

Durante seus 451 anos de existência a antiga Vila do Penedo do São Francisco, revelou-se uma cidade que estava sempre na vanguarda de sua época. Durante o período colonial se destacou em diversas batalhas tendo como a principal o levante denominado de OPENEDA, quando nossos ancestrais lutaram contra os Holandeses, expulsando-os do nosso município.
No período monárquico, Penedo se encontrava dentre as 30 cidades mais importantes do país. Durante o segundo Reinado, nossa cidade foi a Capital do Brasil por ocasião da estadia de D. Pedro II. Nesta época, se destacou o Barão do Penedo, sendo nomeado o primeiro embaixador do Brasil em Londres e posteriormente na cidade

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  • Emerson Feitosa Só uma pequena correção meu amigo Alcides, Manoel Rodrigues Gameiro Pessoa, Visconde de Itabaiana foi o primeiro embaixador em Londres em 1823. Nosso Barão do Penedo foi o 9° embaixador na corte inglesa: 1855 - 1863 ; o 10° 1866 - 1867 e o 12° 1873 - 1889, em três fases distintas. Abraço.
  • Paulinho PIaçabuçu Parabéns e viva a historia!
  • Fernando Maximino Cruz Lessa Meus sinceros parabéns pelo artigo. É deste tipo de artigo que o povo de Penedo precisa para conhecer toda riquesa da história de nossa cidade.
  • Eliene Parabéns! Amigo, Vc sempre teve minha admiração pela educação e sutileza. Parabéns a Penedo pelo historiador que é filho da terra. Parabéns pelo belo texto sobre a nossa cidade. Abraço.