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Maria Núbia de Oliveira

Maria Núbia de Oliveira

Escritora e poeta, integrante da Academia Penedense de Letras

Postado em 01/09/2010 17:20

O Poder

Tem gente que não tem estrutura psicológica para exercer um cargo. Inicia uma caminhada desastrosa: humilha os outros, torna-se arrogante, muda até o jeito de andar e confunde a própria personalidade.
Na sua mente, o cargo é sinônimo de destaque. E vai, como se estivesse numa escola de samba no ritmo de um batuque destoante, só, distante do grupo que já não o alcança, face ao seu anseio de ser o alvo das atenções, fingindo o que não é. E quanto mais testemunhas oculares, melhor!

O importante para essa gente é chamar a atenção sobre si, mostrar que pode, não perdendo oportunidade para usar o verbo mandar . Quanta ilusão...Quanta pobreza de espírito... Na caminhada de Jesus Cristo, o maior é aquele que serve, lava os pés. No Projeto de Jesus Cristo, "o exaltado será humilhado e o humilhado será exaltado!". O pequeno, o pobre, o desprovido de honras são os que têm vez.

Infelizmente no projeto dos homens, o maior é aquele que tem mais e o menor é aquele que nada tem... Lembrei-me agora de um fato interessante: certo homem riquíssimo, mas virtuoso, resolveu testar os corações de algumas pessoas. Vestiu-se de mendigo e sem ser convidado, entrou num luxuoso salão, onde acontecia uma importante reunião para decidir o destino de um país. Lá estavam homens bem vestidos, sentados em poltronas revestidas de cristais, o piso espelhava os movimentos como se fosse uma dança clássica. O falso mendigo adentrou naquele salão e sentou-se. A reação de todos, foi terrível! Guardas foram convocados para expulsá-lo. Foi retirado daquele suntuoso lugar, arrastado. Seus pés deixavam manchas no reluzente espelho, que era imediatamente cuidado pelos solícitos serviçais.

O estranho expulso visitante retornou. E dessa vez, vestido à rigor. Suas vestes impecáveis sintonizavam com o luxo daquele salão. O virtuoso homem, sentou-se e todos os olhares se voltaram para ele! Quem era aquele nobre senhor? Foi recebido de pé e convidado a sentar-se à frente, num lugar de destaque. E ele, pleno de tristeza, usou da palavra nesses termos: vocês desprezam o ser humano e se curvam diante de uns pedaços de pano. Despiu-se, deixou as roupas sobre a cadeira, e saíu nu, zombando daqueles tolos... Se o homem não tiver maturidade, o poder o transforma e ele se perde num emaranhado de atitudes drásticas.

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  • Francisco Araújo Muito bela a sua reflexão, Núbia. Mais uma vez parabéns. No caso dos nossos políticos, no entanto, creio que é bom acrescentar que eles se sentem assim tão "donos do poder" porque costumam comprar os cargos que exercem. Como compraram aquele cargo, e como a população se deixa vender, eles podem tranquilamente ostentar esse poder de donos da cidade, do estado, do país. Lamentavelmente é assim...
  • Rômulo Galvão Paulo Que texto maravilhoso,Núbia muito obrigado por compartilhar esse texto maravilhoso conosco ai mostra plenamente o q acontece no nosso cotidiano Parabéns excepcional ! Até eu msmo irei refletir rsrsrs comigo msmo .
  • Roberto Primeiramente Núbia parabéns, continue nos presenteando com sua bela experiência, palavras sábias nos deixam até refletindo sobre nós mesmo. Por isso é muito bom ler estes artigos, porque na velocidade que andam as coisas, os valores morais não existem mais e estão transformando as pessoas como se fossem objetos.
  • Maria Núbia de Oliveira Caríssimos internautas: Gostaria de agradecer a todos vocês que fizeram comentários alusivos aos meus artigos inseridos no Aqui Acontece. É muito gratificante saber que meus escritos estão sendo receptivos a todos vocês, que são o alvo do que escrevo. Muito obrigada mesmo! Continuarei, com a graça de Deus, enviando tudo o que sou, tudo o que penso, o que sinto, o que me faz sofrer e chorar, o que me dá alegria e a injustiça que tem sido uma constante no nosso mundo. Um grande abraço e todo o meu carinho para vocês
  • Maria José Como é bom ler algo assim, tão verdadeiro, tão profundo. Seria maravilhoso se todos tivessem acesso a este tipo de leitura, com certeza contribuiria e muito para formar cidadãos que valorizassem o ser humano pelo que ele é e não pelo que ele tem. Parabéns! Que Deus derrame sobre te muitas bençãos.
  • Marcelinoi Cantalice Núbia : Boa tarde ! Mais um artigo, ilustrado por um exemplo... Ambos valeram. A primeira parte mostra como, de fato, o poder corrompe e dá uma virada nas cabeças dos gananciosos pelo poder... Um poder meramente interesseiro. O poder, como serviço, está muito difícil de encontrar os seus representantes. E o pior de tudo é que - de tanto mentir - o crédito já foi para as cucuias... O exemplo tem um valor vivenciado. O provérbio latino tem razão: \\\"Verba docent, exempla trahunt\\\" - \\\"As palavras ensinam, os exemplos arrastam.\\\" Abraços. Do: Marcelino Cantalice.
João Pereira

João Pereira

Advogado, escritor e atento observador da política

Postado em 28/08/2010 21:21

Como Bico Doce, eleitor Sábio e Ladino, levou umas lambadas

No palco da vida, o gênero humano apresenta os mais díspares figurantes, fazendo-se notar os chamados personagens típicos que, por alguma característica ímpar da suas personalidades, fazem-se notar em relação ao comum dos homens. As circunstâncias do meio, por sua vez, induzindo as regras da sobrevivência, formam seus atores segundo a aptidão de cada um. O meio política, por exemplo, oferece um campo vasto e fecundo ao surgimento desses personagens. Numa fotografia bem mais ampla, vamos focar o eleitor e o político. O primeiro representando, numa boa parte, o rebanho de presas ingênuas e incautas, e o segundo o impiedoso predador. Feroz no íntimo, o político predador apresenta-se travestido de cordeiro para melhor, na suavidade do trato e da persuasão, enganar a caça com a ilusão das falsas promessas. Entretanto, fazendo-se notar as exceções, é claro que nem todo político é um implacável caçador e nem todo eleitor é uma caça ingênua. É um relacionamento onde surgem casos de trocas de posições, isto é, o político torna-se presa e o eleitor predador. Nesse cenário de interesses conflitantes, formou-se com louvor o nosso personagem.

Sem profissão definida, tinha aproximadamente uns quarenta anos de idade. Moreno atarracado, de estatura baixa, o chamado tipo digestivo, que do mesmo modo como facilmente digere os alimentos, da mesma forma fazia com os seus ressentimentos e contrariedades, incapaz de guardar por muito tempo mágoas e rancores, qualidade indispensável para quem atua à margem da política. De instrução abaixo da média, mas grande experiência de vida que lhe deu a alcunha de Bico Doce, era bajulador por excelência e expressava-se facilmente com a lábia peculiar dos velhacos e oportunistas. Durante a campanha eleitoral, evento que aguardava com ansiedade pelo resultado dos dividendos que colhia, abandonava seus afazeres, se os tivesse na época, e tirava por conta própria licença-prêmio para poder dedicar-se em tempo integral à enganação dos políticos.

Era meticuloso nos seus planos. A primeira providência que fazia era a previsão da safra, isto é, o número de vítimas, sua identificação e condição econômica. Tomada essa providência, elegia o rol de suas necessidades mais imediatas. Seu pequeno patrimônio imobiliário, localizado na periferia da cidade, fora todo adquirido através de doações de políticos. Os terrenos, materiais de construção, tudo adquirido graças à maestria na arte de enganar. Tinha uma casa como residência, duas alugadas e uma terceira em acabamento.

Acima de tudo, era um calculista. Traçado o plano de ação, era insuperável nos meios para pô-los em prática. Psicólogo nato, sabia que a vaidade, especialmente quando amaciada com a lisonja, era o mais pródigo dos sentimentos. Assim, olhar vivo e permanente sorriso nos lábios, tinha a chave para abrir qualquer porta e conseguir as vantagens pretendidas. A essa espontânea simpatia, elaborou uma isca infalível através de um fraseado padrão de abordagem que envaidecia e iludia a expectativa de vitória do candidato. Desconhecendo se a vitima tinha ou não a chance de ganhar, pouco lhe importava, repetia o chavão: Doutor, por onde ando só se fala no seu nome. Fique tranqüilo, ninguém leva essa do senhor! O que depender de mim pode contar, estou totalmente as suas ordens. Sou pobre, mas o meu voto vale tanto quanto o do rico. Para o desfecho final, descaradamente afirmava que entre parentes e amigos dispunha de uns cem votos. Que era uma pessoa influente, querida e simpática em seu bairro. E como o voto é o principal ingrediente que desperta e instiga à fome insaciável do político, este, supondo estar a defrontar-se com um verdadeiro líder ou cabo-eleitoral, estampava no rosto a imagem da satisfação. Aproveitando-se desse deslumbramento que observava com muito atenção para certificar-se da eficácia do assalto, Bico Doce discorria, com voz lamentosa, sobre as dificuldades do momento, suas necessidades e imaginárias privações. Formulava em seguida o seu pedido, com muito tato, como se fosse o mais miserável dos homens. Despertando com astúcia a comiseração do candidato, sentimento que forma a mais caudalosa cascata do desprendimento humano, era tiro e queda, obtendo praticamente, sem exceção, os favores de um pedido aqui e outro acolá que, diga-se de passagem, estendiam-se aos municípios vizinhos. Ocorre que a esperteza de Bico Doce não foi suficiente para despertá-lo sobre uma lei segundo a qual, nesta vida, não há vantagem se desvantagem e vice-versa, que nem tudo são flores e que todo sabido tem o seu dia de trouxa. Não atentou, também, para o fato de que em todas as atividades, mesmo na política, onde os candidatos têm que primar pela paciência e a polidez, saber driblar sem frustrar o eleitor, o chamado corpo-de-cintura, existem os esquentados e temperamentais. Assim, alheio a essas vicissitudes da vida, teve o nosso personagem, certa feita, em hora imprópria, a infelicidade de deparar-se com Vivaldino, azarado e teimoso candidato a prefeito.

Faltavam três dias para a eleição. Nessa reta final, as tensões da expectativa, os atritos de toda a espécie e à frustração dos bolsos vazios, costumam por os nervos à flor da pele dos candidatos. Era exatamente com estava se sentindo Vivaldino. Atém do esgotamento financeiro, sentia-se que fora explorado, traído e, no intimo, antevia a terceira derrota. Como iria enfrentar a sua caótica situação financeira? Precisava de um meio para aliviar sua insuportável tensão. Eis que se depara com a vítima mais apropriada, Bico Doce, vezeiro facadista do seu dinheiro. Não podia mais aturar sua cara lambida, seus trejeitos ensaiados e discursos de desastradas profecias. Inocentemente, com seu habitual maneirismo, mãos para cima, Bico Doce dele se aproxima saudando-o com o viva “ o nosso futuro prefeito ! “ Foi aceso o estopim. Vivaldino desce do carro com todo o ímpeto e com incontida violência, lança-se possesso de fúria contra e indefeso Bico Doce. Aplica-lhe ás cegas socos e pontapés, prostrando-o ao chão. Não houve tempo para que alguém o socorre-se. Tudo foi muito rápido. Contorcendo-se de dor, encolhido como uma minhoca, consegue algum tempo depois recuperar forças e arrastar-se até uma casa. Os poucos transeuntes demonstram indiferença. Ali ninguém o conhecia. Sozinho e desamparado, começou aliviar, no peito opresso pelo ódio, a lançar sobre o agressor toda a sorte de impropérios. Que humilhação!

Mais calmo, começou a analisar o incidente. Teria sido merecedor de semelhante vexame? Do agressor obteve, na verdade, algum dinheiro e material de construção. Seria isso suficiente para justificar tamanha agressão? A sua maneira de proceder, reconhecia, ardilosa e calculista, animando indiscriminadamente os candidatos, inclusive os derrotados por antecipação, com prognósticos a esmo, não era correta. Acontece que se assim não procedesse, como iria obter, sem suar a camisa, suas pequenas vantagens, necessárias para a sua sobrevivência nesse mercado aberto da corrupção que são as campanhas eleitorais? Oportunidade é coisa que não se bota fora. Não que fosse contra a honestidade, longe disso. Se não era sincero, devia essa fraqueza de caráter às facilidades, ao fato de, vendo e convivendo, ter se inspirado no mercado aberto das negociatas políticas.

O bom exemplo, na ausência de um eleitorado esclarecido, tem devir de cima, que os políticos deixem de corromper o eleitor, pois, se assim continuarem a fazer, milhares, carentes e entregues a miséria e privações, estarão dispostos a vendê-lo. Enquanto alguns políticos tupiniquins entenderem que só conseguirão galgar ao poder pela via tortuosa, em detrimento da legalidade, das qualificações pessoais que honrem a política, e da conquista do voto pela inteligente arte do convencimento, das metas de governo, tudo permanecerá como está. O que eu, mísero eleitor e cidadão, posso fazer? Se os que têm, querem cada vez mais, eu que nada tenho, por que não tenho o direito de querer um pouco mais? A mais elevada lei moral é a lei da sobrevivência, pois, sem ela nada tem qualquer sentido. As eventuais pancadas doem, não há dúvida, mas são passageiras. É preferível suportar desaforos, lambadas nas costas, socos e pontapés, com a certeza de uma vida melhor, a viver honradamente descamisado, num mundo imoral das necessidades. Bolas! Não serei a palmatória do mundo!

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  • Zuildson Ferreira Alves "A mais elevada lei moral é a lei da sobrevivência, pois, sem ela nada tem qualquer sentido". Nós,seres humanos,João Pereira, como seres responsáveis por tudo que se encontra na face da terra, de bom ou de ruim, temos que refletir como disse Rosseau que a Sociedade Civil fora criada a partir do momento que alguém cercou um pedaço de terra e disse: isto é meu e encontrou pessoas suficientemente ingênuas para aceitar. A partir desse instante e nos desenvolvimentos posteriores da História, o poder econômico se aliou ao político,jurídico,moral,etc. criando toda uma superestrutura que infelizmente só explora os menos favorecidos.Como se o que está aí fosse normal, natural,é o destino. Uns nascem para o fracasso e outros para o sucesso.O ser humano é o criador de sentidos, da sociedade e da história e cabe a ele e somente a ele, transformar ou se acomodar.Vida e liberdade são a mesma coisa. Este seu texto nos convida a refletir.Gostei. Zuildson, Vila Velha/Es.
  • Paulo Fraga Concordo que o exemplo tem que vir de cima, porém , é preciso entender, que os Sabidões da Política, jamais terão interesse em mudar suas estratégias. Deveria ser obrigação dos que têm conhecimento das safadezas deles de ajudar, informando e educando para a participação, aqueles que vivem na escuridão.......indiscutivelmente um ótimo texto.escreva mais
Augusto N. Sampaio Angelim

Augusto N. Sampaio Angelim

Juiz de Direito em Pernambuco, apaixonado por Penedo

Postado em 25/08/2010 14:12

Vivas a São Cristovão, de Sergipe Del Rey

O Nordeste
Vivas a São Cristovão, de Sergipe Del Rey
Praça de São Francisco, Patrimônio Mundial da Humanidade

Conheci a colonial São Cristovão, em Sergipe, no inícios dos anos oitenta, voltando de um carnaval passado em Salvador. Na época nem me interessava tanto pelo período colonial do Brasil, mas fiquei encantado com a beleza histórica da cidade e da Praça São Francisco. Lembro que cheguei à praça, com o sol a pino, por volta do meio dia e, debaixo de um sombreiro mexicano, que até tento recordar onde adquiri, e, me detei no lado da sombra da bela igreja da praça. Depois é que fiquei sabendo que aquela praça representa um conjunto arquitetônico singular no Brasil, já que erigido na vigência da chamada União Ibérica, quando Portugal esteve sob domínio espanhol (1580/1640) e, por extensão, sua colonia americana (Brasil).

A praça foi erigida de acordo com as instruções urbanísticas das Ordenações Filipinas, sendo única em solo brasileiro. Preservada pelas gerações em todos estes séculos, a Praça São Francisco simboliza um importante período da história humana.

São Cristovão é uma das quatro cidades mais antigas do Brasil e foi a primeira capital de Sergipe, fundada no ano de 1590, na época de domínio da dinastia filipina sobre toda a península ibérica e suas colônias espalhadas pelo mundo.

Vivas, portanto ao povo de São Cristovão, que agora passa a ter um a Praça São Francisco como Patrimônio Cultural da Humanidade, ao lado de mais dezessete bens brasileiros. Ao parabenizar a velha cidade colonial da antiga Capitania de Sergipe Del Rey, lanço o olhar sobre nossa Penedo e fico triste com a degradação do patrimônio arquitetônico e cultural desta muy leal e volorosa Vila do Penedo do Rio São Francisco.


 

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  • Pedro Tenório É uma das belas cidades nordestinas.
  • Adriano Ribeiro De fato, assim como Penedo, São Cristovão é bonita, mais Penedo é mais ainda.
  • Liana Deveriamos preservar melhor nosso patrimônio, inclusive cultural.
Públio José

Públio José

Jornalista, publicitário, escritor e atento observador da vida

Postado em 22/08/2010 11:35

O Príncipe e seus Maquiavéis

Causa admiração e espanto a capacidade que certos políticos têm de se fazer rodear por pessoas de caráter não recomendável. Tomo por exemplo empresários e outras lideranças que conheci e que de repente decidiram trilhar os caminhos da vida pública. Antes de tomarem tal atitude eram pessoas confiáveis, dessas de quem você receberia um cheque sem problemas e com as quais você não encontraria dificuldade em negociar, no mercado financeiro, um título de sua emissão. Mas, a partir do momento em que se declararam candidatos a alguma coisa, passaram a se cercar de pessoas de conduta duvidosa e a praticar ações nem sempre dignas do nome e do respeito que antes ostentavam. Não sei se essa é uma questão global, universal, ou se é “privilégio” apenas dos políticos brasileiros. Afinal, o homem é homem em qualquer lugar do planeta. Acontece, porém, que nosso voto só tem validade no Brasil.

Daí, não ser preciso que essa análise se estique além fronteiras. Certa vez – na qualidade de estudante de jornalismo – presenciei um colega de turma perguntar a um político de renome o motivo dele manter ao seu redor tanta “catraia moral”, tanto mau caráter. Sorrindo, o homem público respondeu com outra pergunta: “Você faria por mim o que eles fazem?” Dá prá ranger os dentes, não é verdade? É interessante se notar que o eleitor brasileiro tem dado pouca importância aos valores (ou desvalores) morais que compõem a equipe dos candidatos. Pior ainda é observar que o brasileiro encara de forma bastante natural o conceito que emana de alguns políticos de ontem e de hoje de que “rouba, mas faz”. Porque pensam assim os eleitores? Ou por outra, porque são levados a votar, a confiar seu voto em quem se reveste dessa imagem? Ao que parece, existe no eleitor brasileiro uma descrença...

Uma incredulidade tão grande relacionada à ação política, que ele – por falta de alternativa – lança seu voto muitas vezes num cesto até infecto, esperando sair dali algum projeto político que, mesmo duvidoso, lhe soe, a seu ver, de algum proveito. Às vezes, para despertar o eleitor de tamanha letargia, é necessário o surgimento de uma verdadeira hecatombe, como no bota-fora de Collor, para que valores nobres, realmente de respeito venham a ser exteriorizados e praticados em favor de todos. Será que não é chegado o momento de analisarmos também o grau de moralidade, de seriedade, de honestidade, que habita o palanque dos atuais candidatos, ao invés de nos atermos tão somente à excelência das propostas e do conteúdo dos discursos? Jogo é jogo, treino é treino, já dizia Nenê Prancha. A humanidade em geral e o Brasil em particular já perderam demais em razão da existência, em excesso, de verdadeiros maquiavéis aboletados na assessoria de políticos, em cargos de primeiro escalão, nas cozinhas palacianas e – principalmente – nas mentes de homens públicos. Gerando que tipo de fruto? Rasputin que o diga, Paulo César Faria também, Gregório Fortunato idem, como também Goebels e toda corja sádico-lunático-psicótica que arrodeava Adolfo Hitler. Foi produto de assessoria mal cheirosa, da presença dos maquiavéis da vida, o surgimento de episódios que até hoje envergonham o caminhar de nações até ditas respeitáveis. Num “belo exemplo” do que estamos falando, um tenente americano, em cenas vistas pela televisão, encheu de cadáveres de inocentes vietnamitas a sala de jantar, até então impecável, da classe média americana. Nixon viu rolar escada abaixo o seu projeto de ser tido como estadista pelas traquinagens feitas por assessores seus no escritório político dos outros. Militares brasileiros rasgaram a Constituição ao enfiarem goela abaixo da opinião pública nacional o fechamento do Congresso e a edição do AI-5. Os argentinos, entre outros tangos amargos que vêm dançando ao longo de sua história, sentiram o sabor humilhante da derrota na Guerra das Malvinas. Ah, os assessores! Os maus, bem entendido.

O problema também – é bom ressaltar – é que muitas vezes o próprio candidato é quem conduz o fio da malandragem, safadeza, maldade e despropósito público até a mente dos seus assessores mais próximos, compondo assim uma verdadeira “Família Adams do Terror Político”, ou melhor, uma verdadeira quadrilha a espezinhar e perverter os mais elementares princípios voltados para o respeito e a preservação do patrimônio coletivo. O que cabe ao eleitor fazer? Que papel está reservado às massas votantes nesse enorme palco político-eleitoral brasileiro? Assistir o desenrolar da peça para ver no que vai dar, ou entrar em cena e expulsar, com seu voto, os que destoam do figurino que queremos desenhar para o Brasil?

Está na hora de pensar, de refletir, e passar a olhar com lentes de aumento – e bote aumento nisso – a composição dos palanques da atual campanha. Tanto nos níveis estaduais, como no plano nacional. Tem candidato que é exímio em fazer você ficar olhando só para ele, querendo hipnotizá-lo para, assim, impedi-lo de constatar o que está por trás de si. Seja mais esperto. Veja os palanques de lado, por baixo, por cima, por todos os ângulos. Veja quem está no primeiro, segundo e terceiro planos. Analise bem para depois votar. Agindo assim você estará, com certeza, contribuindo para diminuir bastante o número de maquiavéis da vida pública brasileira. Riscá-los do mapa já seria querer demais.

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  • Paulo Fraga A PALAVRA CHAVE É : " INFORMAÇÃO ", QUANTO MAIS VOCÊ TIVER , MAIS FÁCIL SERÁ ESCOLHER OS NOSSOS REPRESENTANTES....................ótimo texto, parabéns
  • PARAÍSO DAS AGUAS COLLOR ATUALMENTE VEM COM O INTUITO DE MUDANÇA, DE RENOVAÇÃO E MUITOS ESTAO TEMEROSOS PQ SABEM QUE QD FENANDO AFONSO COLLOR DE MELLO SE CANDIDATA A QQUER ELEIÇÃO SEUS ADVERSAROS POLITICOS TREMEM NAS BASES PQ ONDE COLLOR PASSA ARRASATA A MULTIDÃO COM ELLE E ISSO INCOMODA, MAS O QUE IMPORTA É QUE DIA 03 DE OUTUBRO ALAGOAS VAI COLLORIR
Jean Lenzi

Jean Lenzi

Ator, dramaturgo, encenador teatral e ativista cultural

Postado em 18/08/2010 13:32

Sustenidos e Bemóis

“Nós podemos e devemos encontrar musicalidade em todos os “saltos” e baixos”, nos ensinam os musicistas e desde muito cedo nesta cidade de valorosa sonoridade, tenho aprendido com avidez essa, dentre outras verdades pré-dispostas em sustenidos e bemóis. Já à poesia de Fernando que nos remete a duvida do que pode ou não ser válido, logo se ratifica pela máxima do poeta lisboeta quando nos afirma que “tudo vale a pena se a alma não é pequena”.

Esta triste sinfonia à beira rio confrange a Cia. Penedense de Teatro que sente neste momento a inevitável necessidade de guardar em lugar privilegiado no Theatro as suas sapatilhas de amianto, e daí reverem a impostação de seus gritos e a utilidade de suas máscaras. Esta triste sinfonia confrange também a fiel platéia juliana, depositária das graças e do encantamento promovido pelo trabalho da mais antiga e singularíssima trupe teatral do Penedo.

Em outros momentos já foram ditos, inclusive nesse veículo de imprensa o qual me pré-disponho a falar, o quanto se faz imperiosa a elaboração de um Projeto cultural verdadeiramente consistente para Penedo. Também já foi dito que o Festival de Teatro de Penedo só existe por iniciativa e manutenção própria dos componentes da CPT que se alternam em funções públicas várias para, inclusive, sustentar seus sonhos dionisíacos. E por isso, haveremos de reconhecer que o fracasso deste ano que culminou no cancelamento do Festival, deve-se em sua maior parte a uma falha de produção harmonizada pelos organizadores. O que se diz aqui não é para causar espanto ou indigestão, muito pelo contrário, se falamos e buscamos verdades, por que então sonegá-las? Não há arte mais falsa do que o teatro, que finge, mente, vacila, e como arte, tenderá a ser sempre essencialista, cuja validade é limitada aos palcos, e se a deixamos passar por além daquele espaço limítrofe, veremos instaurada a crueldade e a burrice.

Ao ler a nota posta que informa o cancelamento do Festival, é possível identificar razões e intencionalidades justificáveis. Há muito não se creditam à Cidade do Penedo eventos culturais promovidos pela gestão pública municipal. A ineficiência da secretaria de cultura se dá pela simples razão de não se ter ainda uma visão honesta de política cultural. Somente quando não for mais possível contemplar o legado que foi deixado pelo suor dos ilustres artistas, poetas, educadores e civis, haveremos então de admitir que falhamos. Não se concretiza compromisso com o resgate e ou até mesmo manutenção da cultura, vale mais a preservação de votos; o que impera atualmente é a mais simbólica demonstração de ignorância, uma inversão de valores que nega uma gestão cultural em benefício intimo de um “gestor cultural”. O que se pode constatar também na ineficácia destas ações promovidas por ingênuos proletários em sentido menor, que se alto-intitulam grandiosos guerreiros das batalhas que ainda não aconteceram. E ainda sobre o Festival, diria que o teatro desenvolvido pela CPT em Penedo cinge-se a um diálogo de surdos, a um duelo de grupos, anteriormente chamados de amadores, hoje pretensos baluartes, que acendem cada um com suas próprias mãos as lamparinas de suas ribaltas.

Seria então possível culpar também o poder público pela não apresentação da 8ª edição do Festival de Teatro de Penedo? Já foi dito que o Theatro Sete de Setembro está entregue à própria sorte. O que mais se poderia dizer? O que causa espanto nisto tudo é a verdade dos fatos esculpida sobre carnes flácidas e esbranquiçadas. Ao palco mais antigo das alagoas, ainda como única opção de casa de espetáculos ativa no Penedo, é negada entre outras coisas uma direção cultural produtivamente ativa e profissionalmente capacitada a gerir as suas necessidades.

À Companhia Penedense de Teatro, existem inúmeras soluções de se garantir aportes para um evento como festival de teatro, a atenção neste momento se faz necessária pelo que ousamos entender por mais impuro e verdadeiro como a máxima de uma cultura que nunca angariou votos, assim também, a inexpressiva via comercial Penedense que se aliam à certeza de que de que nada é tão inútil para o momento do que buscar culpados, mas se eles existem... Que se curvem ao som desta sinfonia que atordoadoramente reverbera em nossos cérebros e que é a inconteste prova de que algo precisa ser feito, ou quando nada, dito.

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  • Paulo Concordo com você no tocante a falta de políticas culturais e melhor direção no teatro. Observo que antes das pessoas assumirem o cargo público eram inclusive mais fomentadoras culturais do que agora.
  • Juliana É triste quando vemos pessoas gastarem tanto tempo escrevendo bobagens sem tamanho. Conheço o trabalho de perto dos dirigentes do Teatro Sete de Setembro e da CPT (Companhia Penedense de Teatro). A luta incessante pela captação de recursos pelos representantes de ambos com projetos culturais e estruturais de extrema qualidade é um dos exemplos da perfeita atuação desses agentes culturais, que também são grandes formadores de opinião da Multicultural Penedo, além de serem sempre muito elogiados onde passam. Podem notar nas entrelinhas que com tão rebuscadas expressões e palavras não se trata mais do que um completo ciúme alheio de pessoas (ou será pessoa?) que se destacam em qualquer lugar, instituição, companhia, órgão, faculdade, entidade, projeto que façam parte. Ao invés de perder tanto tempo fomentando o falso insucesso (criado por indignados com não sei o que), devia ganhar tempo divulgando as ações de sucesso dos que fazem cultura em Penedo, que nunca teve tantas ações para a melhoria da qualidade de vida dos penedenses quanto vem tendo nos últimos dois anos. Atenciosamente, Juliana Passos.
  • Welligton Barros Nossa como vc baixou o nível. Lá em cima do artigo ao lado da sua foto, que aliás poderíamos ser poupados de visualizar, está a descrição do que você é, ou pensa ser: Ator, dramaturgo, encenador teatral e ativista cultura Então nos brinde com um artigo falando sobre o que vc tem feito culturalmente por Penedo?Eu digo NADA ,pois até onde sei você é ator de único espetáculo e não produz nenhum projeto cultural na cidade. Acredito que a maioria dos leitores do aqui acontece que tem o dissabor de ler seus pseudo-artigos já perceberam que você tem inveja da Cia Penedense de Teatro porque é a Cia mais séria e produtiva da cidade. As outras babaquices que vc comentou nem vale a pena falar, resumindo seu texto é uma carta desabafo onde você fala mal das pessoas que você deve mais admirar/invejar. E estou cansado de ver você sempre falando mal de Penedo.Se não gota daqui porque não se muda. Cuidado a inveja mata!