João Pereira

João Pereira

Advogado, escritor e atento observador da política

Postado em 17/01/2010 06:34

Conversando com Penedo

Iremos bater um rápido papoterapia com a nossa querida matrona Penedo, para que possa desabafar suas mágoas, decepções e sofrimentos. Vindo a passar nas últimas décadas breves períodos de uma convivência suportável, predominam em grande parte, como no presente, os maus tratos que estão a caracterizá-la como mulher de malandro. Encontra-se perdida a tatear na escuridão da incerteza a respeito do seu futuro. Prestes a completar um ano da terceira convivência com o atual prefeito, acompanhamos a aflição de seus filhos dissidentes dessa união. Eram quase a metade no início e provavelmente a maioria hoje, graças as desastradas iniciativas políticas e a inação administrativa. Que o diga o burburinho das ruas e a insatisfação de muitos de seus correligionários.

Percebemos claramente o seu arrependimento por ter feito um casamento que parece fadado ao desastre. Não vamos perguntá-la o porquê da sua loucura em reatar uma terceira parceria com o Alexandre, deixando de perceber uma regra que quando um administrador faz um bom desempenho no primeiro mandato, o segundo, com as raras exceções, costuma ser medíocre e os subseqüentes um desastre. Nós, pessoalmente, contribuímos com o seu erro, razão porque publicamente pedimos desculpas.

____ Por que após quase onze meses da atual convivência com o prefeito, esteja ele a maltratá-la, desfigurá-la e abandoná-la? Temos informações, não sabemos se verídicas, que o seu chefe e companheiro dorme apenas duas noites por semana com você, permanecendo os demais dias em Maceió. O que está havendo, perdeu a fogosidade e a arte da conquista? Enfado da convivência conjugal? Está em queda livre a libido do prefeito? Bem, são segredos de alcova.

____ Nada disso. Todos sabemos que no ultimo namoro, dois pretendentes disputavam para gerir da melhor forma possível e com a mais pura das intenções, como juravam, o meu destino. Chegado o fim da peleja, eis que me encontro, sem me dar conta,como vadia irresponsável, nos braços do amor de perdição do Alexandre. Inconformado o Marcio, segundo pretendente, achando que houve mutreta na disputa, tenta anulá-la pela via sonolenta da justiça. É evidente que alguma apreensão existe da sua parte, acreditando, mesmo que remota a hipótese, de perder-me. Essa preocupação de perda não deveria existir, vez que evidente está, a todos nós, sua falta de amor por mim. Se não existe afeto e carinho, qual a razão? Seria a sua Santidade, o potente, deslavado e corruptor interesse próprio? Com esse clima, nada pode funcionar a meu favor. Acredito que somado a esse fato, esteja ele sentindo da minha parte uma forte rejeição. Situação nada confortável. Resta-me esperar o desfecho dessa guerra. Caso venha a acontecer a anulação, viva, só assim terei condições de redimir meu erro.

____ E se não for coroada de êxito a sua expectativa, o que será de você?

____ Não posso fazer nada. O que não tem remédio, remediado está. Resta-me penitenciar-me e, com santa paciência, suportar estoicamente uma indesejável convivência.

____ Quem cuida da coisa alheia ou do bem público, tem a obrigação de prestar contas de seus atos. Não sabemos o porquê do descaso, da falta de responsabilidade e respeito ao povo da quase totalidade dos prefeitos em ignorar o cumprimento dessa imprescindível formalidade. Passamos a julgar pela aparência do que vemos, quase sempre em desacordo com a nossa avaliação, e ficamos sujeitos a fazer falsas imputações. E de quem é a culpa? A propósito, você acha, respeitável Penedo, que as realizações da atual administração estão dentro do que esperávamos ou estamos a viver o desencanto, o caos da terceira gestão?

____ Acaba de tocar no mais crítico dos conflitos que habitualmente acontecem entre mim e meus companheiros. Há poucos dias tive a curiosidade de acessar a internet e tomei conhecimento que o Governo Federal fez a meu favor um repasse de trinta e nove milhões de reais. Extasiada, perguntei-me: O que é ou o que foi feito com esses recursos? Enxergo quase tudo emperrado em termos de realizações. Será que a órfã saúde, a educação, saneamento, entre outros setores, estão sendo devidamente contemplados? No que tange a obras, visivelmente nada me convence. O que será de mim? Encontrando-me em frangalhos, sinto-me como se fosse a personificação dos sentimentos negativos. Deus, em que mundo me encontro!!! Se existirem, como serão os mundos paralelos? Sem perspectiva, como gostaria de passar para a outra dimensão do universo!!! Encurralada, fragilizada e sem saída, nada me confortaria mais do que o divórcio.

____ Findo o atual contrato, como imagina o futuro quadro de candidatos a disputá-la?

____ Se não houver mudança agora, isto é, se as coisas permanecerem como estão, teremos um repeteco. Espero que outros pretendentes surjam. Se a escassez de novos candidatos persistir, estou pensando em por anúncio em âmbito nacional, para que venham socorrer-me. Tomada essa providência, cuidar-me para não errar outra vez. Sei que não é fácil. O número de corruptos aumenta geometricamente e é desse caldeirão infernal que saem os Casanova que nos seduzem. Sou mulher e tenho um fraco a render-me aos elogios e promessas a meu respeito. Esse é o meu medo de cair na lábia do irresistível conquistador, a chamar-me de bela e prometer-me o céu. As mulheres gostam de elogios, mesmo que falsos. Que Deus me proteja desses falsários da palavra fácil e do veneno letal de seus sentimentos, que fazem na penumbra de seus pensamentos, inspiração de seus projetos diabolicamente corruptos.

____ Para encerrarmos, você vê um futuro duradouro do atual prefeito na política? Como pensa livrar-se ou ao menos atenuar sua culpa em relação ao ultimo pleito?

____ Sinceramente, não vejo. E a razão é muito simples.Quem é seu conselheiro mais próximo? Uma madrasta que em sua maldade e visão opaca,chega a confundir subtração com adição, estando a causar-lhe grande evasão de eleitores.Ora, o político respira voto e sobrevive pelo voto. Para tanto, é necessário, na pior das hipóteses, que mantenha estável seu eleitorado. O que estamos observando é o decréscimo. Desconheço que ele tenha feito novas amizades de peso. Ouvimos falar em perdas importantes. Está pondo fogo na própria casa. Se a essas perdas somar-se a uma administração sem rumo, antipática e apática, fim de linha. A remissão do meu erro e do pecado dessa convivência arrependida está calcada em seus erros que estão paulatinamente a eclipsá-lo e que terminará, inevitavelmente, a jogá-lo no mais profundo ocaso político.

____ Bem lúcida a sua observação. Da nossa parte, parte inseparável de você, velha guerreira, desejamos que o seu passado de ouro logo se faça presente, há potencial para isso. Esperamos que logo apague da sua memória a atual condição, sem destino e esperança de melhores dias, reduzida a uma vil e desprezível alma morta. Que ressurja do lamaçal como a flor de loto que brota do pântano com inefável beleza e volte a ser uma respeitável e admirável diva, dignamente ornamentada com os louros da vitóra.

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  • henrique beltrao parabens meu amigo Sr. Joao Pereira!!brilhante o seu texto, reflete basicamente o que esta acontecendo em penedo!!
  • leitor Nossa nunca tinha me atentado como temos pessoas de um talento enorme,esse texto é simplismente lindo e de uma cidadania.....adorei seu texto e parabens,descobri pessoas aqui como Marta,o senhor que são excepcionais verdadeiros poetas e tem muito poder em prender nossa atenção não consigo mais não ler seus artigos antes do café da manhã e digamos de passagem jantar tbm, distrai quando vejo tanta violência.morte,descaso,mais faz parte do desabafo do alagoano que sofre muito ultimamente.
  • João Pereira Júnior Conta-se que Alexandre "O Grande", passando sua tropa em revista, deparou-se com um soldado desgrenhado e com a roupa de guerra em desordem, causando-lhe irritação. Assim, diante daquele soldado desleixado, não resistiu e emplacou a pergunta: - Soldado, qual é o seu nome? - Ao que respondeu, timidamente: - Alexandre. Sem titubear, "O Grande" deu-lhe um ultimato: - Soldado, das duas, uma... Ou você muda de vida ou você muda de nome. Nesse pequeno episódio, fico a imaginar se o atual prefeito pudesse ser abordado pelo Grande Alexandre... Será que, também por misericórdia, haveria um ultimato? Acho que não, pois enquanto o soldado do episódio era displicente em sua aparência, prejudicando apenas a si, o mandatário do Penedo é indiferente à realidade, transcendendo a nocividadede sua inação para além de si. Seria, certamente, o fim do nosso equivocado prefeito. Como diria Caetano Veloso: "Algo parece está fora da ordem..."
  • LEITOR Estou impressionada em ver uma crônica falar tão expressivamente os sentimentos de uma cidade.O coração de Penedo chora tanto abandono.